sexta-feira, 20 de novembro de 2009

" O MEU PAI É UM CABRÃO DE MERDA E UM GANDA FILHO DA PUTA..."





Credo!
Acabei de escrever o título deste post, e já olhei para ele de enviesado, dez vezes....
Aposto que a minha "audiência" hoje vai aumentar substancialmente. Aqui está o efeito das manchetes apelativas, pelos mais variados aspectos, todos os dias, nos mídia...

Fui há pouco a casa da minha mãe desincumbir-me da missão que me calhou em destino desde que ela decidiu viver na margem sul, numa zona de pinheiros, relvados, pássaros, as suas inalienáveis sardinheiras e o seu Gaspar, que é mais gente que muita gente...ou seja, fui ver o correio e regar as plantas, numa casa que está fechada há quase seis anos, escolhendo o lusco-fusco de uma tarde que invernou aos poucos, e "pedindo" que não cruzasse ninguém conhecido naquela avenida, que de conhecido meu, já tem muito pouco...pese embora os muitos anos que por ali deambulei, entre catraia, estudante, mãe de filhos e respeitável professora, do liceu que fica apenas alguns metros atrás...

"Respeitável professora"....eu, que graças a Deus ou ao Diabo continuo a ser a "Guidinha" para os agora velhotes, resistentes lá do sítio!!

O meu ânimo não era o melhor, porque não estou de facto com alma e coração para demonstrar aquela afabilidade necessária para quem está também sempre disposto a contar histórias, já mais ou menos "trôpegas" da solidão...e porque ir áquela casa, não me faz lá muito bem, sobretudo num momento em que ando a tentar reunir os meus "cacos".

A minha mãe ficou definitivamente na outra banda, corria a quadra natalícia de 2004, por razões que não vêm ao caso.
Tinha enfeitado a casa com dois ou três apontamentozitos, do que era o seu Natal por aqui : uma coroa de Natal, a dar as boas vindas a quem entra, portanto, pendurada na porta de entrada, um castiçal natalício, em que não falta o azevinho, os sininhos dourados e os raminhos de pinheiro, e claro, sobre a mesa, um Pai Natal, da Loja dos Trezentos, com aquele ar de velhinho bonacheirão, saco às costas e creio que uma lanterna, dadas as hipotéticas curtas dioptrias...e pronto...acho que nada mais.
Sempre que meto a chave à porta e entro naquele rés do chão, evidentemente às escuras, sempre sorrio e penso: "Continua a ser Natal na casa da minha mãe...ainda!..." Depois sigo pensando como sou diferente dela e como a invejo...

Aqui, na casa onde vivo, há muito mais adornos alusivos, inclusive uma árvore de Natal estilizada, em dourado, de colocar sobre um móvel por exemplo...um bonito presépio que até esqueço, bolas, velas, fitas e luzes, de quando o Natal se impregnava debaixo da pele...
Há cerca dos mesmos seis anos, que ano após ano nada sai do lugar onde está guardado...
Há assim uma espécie de um "não valer a pena" aqui dentro.
Já referi algumas vezes que sou anti-convencional, mas teria maior mérito se fosse essa a razão por ignorar a quadra decretada. Era mais coerente...Mas nem sequer é disso que se trata....É sim, aquela desvalorização que tira amor a quase tudo o que faço comigo, e na minha vida....
É assim....e não adianta violentar-me....eu sou mesmo "uma coisa".....pouco, de "gente"......

Bom, mas lá fui e vim, com a noite a anunciar-se para breve.
Com ela, fim de aulas e a multidão de estudantes, seja da escola básica, seja da secundária (porque ficam quase lado a lado), têm por regresso esse caminho. Por isso,  falo em multidão mesmo.

É a multidão dos "bué", dos"curtes a cena, meu", dos "foda-se" para a esquerda e para a direita (já nem estremeci ao escrever....tenho p'ra mim, que estou já no domínio do calão, tal a vulgarização...), "do stôr é do baril" ou "o gajo é um cromo!..."

É a geração da calça bem "arejada", dos casacos com carapuço que tapa quase tudo, das barriguinhas Danone, das garotas que só não apanham pneumonia no umbigo, porque não é sítio de pneumonia...de t-shirts que ainda ficaram da estação anterior, e que ou encolheram, ou a miúda cresceu...(é provável!...), e sempre se areja cada vez mais...

É a geração dos diálogos mais "edificantes" que se possam conceber...
Dali, não sai coelho...nem música, nem filmes, nem livros, nem temas escolares......nada, nadica de nada....um vazio que dói, uma frivolidade que abisma, um desinteresse que preocupa, uma pergunta que atormenta: esta gente vai ser o nosso país daqui a meia dúzia de anos?????...


E do meio desta amálgama hululante, deste desenfreado de loucura colectiva, de patetice doentia, de geração que é órfã, seguramente, dum Mundo em que não sabe por que o ocupa, o que deve fazer dele, cujos valores e princípios já pertencem às "Calendas Gregas"...e isso nunca souberam o que era....e eis que do meio desta TRISTE SOLIDÃO E ABANDONO....estou certa, dizia... surge, largos decibéis acima, a voz duma adolescente, que para se fazer ouvir na "manada", propalava aos quatro ventos : "O meu pai é um cabrão de merda e um ganda filho da puta!... Eu já lhe disse: Se me casca outra vez, nunca mais me vai ver a cor!..."

Bom, realmente essa frase fez-me levantar os olhos do chão...e de imediato pensei comigo: "..."cabrão" esse que foi capaz de te pôr no Mundo, e provavelmente está sim, a desempenhar um emprego "filho da puta mesmo", para te sustentar!!!...."

Benza Deus!!....

Anamar

5 comentários:

Anónimo disse...

UFFFF!
Mais um excelente desabafo...
Gostava de tomar um cafezinho contigo...depois combinamos.

Beij

Maria Romã

Anónimo disse...

E são eles o futuro da Nação!!!
bjs.
Merryl

anamar disse...

É o país que desgraçadamente temos, e é o indiferentismo e a tolerância que se instalou já no comum dos mortais!!!! (contra mim falo...).
As pessoas já desistiram de se "lembrar" que existiam hierarquias e valores!!!!!
Beijinho
Anamar

Anónimo disse...

Não os culpo, porque culpa tem quem não os sabe educar.

W. C. Fields disse...

«ululante»