segunda-feira, 10 de maio de 2010

"NADA SE PERDE....TUDO SE TRANSFORMA..."




Um domingo absolutamente atípico, um domingo, sem grandes excepções, ao que prevejo serão os meus domingos daqui para a frente...
Considero que entrei no cinzentismo da vida. O que é que eu hei-de fazer, senão andar rua abaixo, rua acima, com o risco mais que inerente, indesejável e nada oportuno, de gastar dinheiro, com as lojas a piscarem-me os olhinhos , depois de ter percorrido todos os meus contactos possíveis, do telemóvel e cada um já ter programa definido - senão, como dizia, percorrer as labirínticas ruas (p'ra mim são sempre labirínticas, a menos que ande de GPS na mão), de um Centro Comercial qualquer, de preferência um, que descobri,  pertíssimo aqui de casa, que estranhamente , ou não (...), eu não conhecia - o Oeiras Parque, aconchegante, espaçoso, pequeno, luminoso....Por que será que nunca foi incluído nas "rotas"?.... Já não interessa....

Enfim, eu até sei por que vim aqui...não foi numa súbita curiosidade de conhecer o Centro, eu, que nem aprecio particularmente estes espaços; vim, porque a minha vida, presa por arames, parece a de um zombie, mexido por cordelinhos, e o programa do dia, por cada dia que passa, depende sempre de tanta coisa....mas, espremido, não tem , de facto, nunca, luz...

Na 3ªfeira passada, movida por desígnios de injustiça, indignação, tristeza, de morte e raiva, eu estava no píncaro dos Himalaias...eu podia tudo, eu ia ser capaz de tudo...uma mulher nova tinha nascido!....
Na 4ªfeira, razão tinha o médico, quando com toda a objectividade me disse:" nem tenha ilusões que se iria aguentar, assim, num clique, sem fármacos....de uma assentada!..."
Não disse nada, mas pensei: "estes gajos (os psiquiatras), que mania têm de nos enfiar as "pílulas milagrosas" goelas abaixo (o meu cardápio conta, por exemplo com sete qualidades por dia)...enquanto podem!...Nem percebem que isto é como o tabaco...a gente consciencializa as coisas, faz a mentalização adequada, exercita o seu auto-domínio....e pronto....tem de ser dum dia p'ro outro!"....- isto era eu a pensar...

Quanta infantilidade!! Nessa mesma quarta feira, já eu era como um balão, com um furinho minúsculo, mas a perder ar...e fui perdendo, perdendo, perdendo...e hoje, domingo, nem preciso tirar a guita do pipo...simplesmente porque nada há já para sair...

Enquanto estava comodamente instalada numa poltrona do Centro, com os olhos no tudo e no nada, de repente, atravessou-me o espírito, a D. Ester.
A D.Ester era uma senhora que morou sempre na avenida onde eu e os meus pais vivíamos. Era uma senhora, na verdadeira acepção da palavra,  penso que até mais nova que a minha mãe, bem desempoeirada, vivia com o marido e lembro que um lindo gato, persa, branco, que desafiava as leis da gravidade constantemente, porque se pavoneava ao sol, no parapeito da janela, que, muito embora fosse um primeiro andar, me deixava com o coração nas nãos. A D.Ester, não tinha, portanto, filhos.

Inesperadamente, enviuvou, e esteve viúva, algum, não muito tempo. Recordo, e era bem pequena, (talvez 13, 14 anos), quando a D.Ester, senhora, como disse, respeitável, insuspeita de comportamento, foi sujeita, a todo o tipo de comentários, pelas mentes pequeninas, desdenhosas, sem a frontalidade e coragem (para a época) em que viveu, mentes maldosas que se realizam para, e pela infelicidade dos outros, porque pôs um anúncio de casamento num jornal, voltou a casar e foi bem feliz, com um companheiro um pouco mais novo, com quem viveu, até à morte deste, também.
Pouco depois, partia a D. Ester...

Hoje, eu percebo-a lindamente...pareço vê-la, à sacada, com o seu gato branco, à hora do regresso do trabalho do marido.
Era o tipo de pessoa que não viveria sem afecto, que precisava de amor para respirar, definharia na solidão...

Há seres assim, não conseguem secundarizar o amor, viver em desertos afectivos.
Não conseguem ver cor em nada, sozinhas....olham sempre, mas só vêem se forem quatro olhos a direccionarem-se no mesmo sentido; o valor e o valer a pena das coisas, só se justifica se partilhada, não têm maturidade nem autonomia afectiva....têm que ter luz no fundo do túnel que é, de facto, a vida.
Há pessoas que não vivem senão partilhadas, sem dar-se e receber, sem se dividirem....

Ao longo da vida ouvi a minha mãe dizer (e di-lo até hoje : "A vida tudo nos dá e tudo nos leva")....
Eu estou mais (e ensinei anos a fios aos meus alunos, o princípio do grande Lavoisier, da conservação no universo....)
Eu não acho que a vida tudo nos leve. O que nos dá, apenas transforma....e enquanto que à chegada, a "nossa arca dos sonhos" está repleta, e a das recordações, vazia....no fim da jornada, a dos sonhos esvazia como o meu balão furado, e a das recordações, tenho que me sentar em cima dela para a conseguir fechar...enquanto espero...

Estas "arcas" são a nossa vida...e nela, de facto, nada se cria, nada se perde...tudo se transforma!...

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

ok, nada a acrescentar...
O grande Lavoisier disse tudo...
beij

Maria Romã

anamar disse...

É verdade em tudo na vida....é ou não é?
Jokinhas
Anamar