quinta-feira, 6 de maio de 2010

"QUEM ESPERA POR QUEM NÃO VEM, NUMA HORA ESPERA CEM..."




Segundo ela, quem for às Galinheiras, mesmo em frente ao Café Central, num rés do chão, cujo número não lembra já, numa casinha de janelas pejadas de flores, modestas que nem ela, cujos vasos se estendem pela calçada, junto à porta, não há quem não conheça a D. Joana...

A D.Joana regressou "à sua casinha", graças à intervenção da Assistência Social, embora não esteja curada, nem virá a estar seguramente nunca mais, com uma das pernas em permanente chaga aberta, não sei se de uma úlcera varicosa, mas que a limita na sua vida no dia a dia.

A D: Joana, quase "residente" do Hospital de Santa Maria, é uma velhinha, a "avó", como toda a gente carinhosamente, a trata  no hospital , é alentejana, de Flor da Rosa, quase sem rugas, nos seus 89 anos, com um ar de bonomia, apesar dos pesares, muito branquinha de pele, e uma bandolete inseparável, a dar-lhe um ar cuidado e limpinho, num cabelo duma alvura espantosa.
É de uma educação invulgar, sente-se sempre agradecida por tudo o que lhe fazem, evita o mais possível incomodar o pessoal e suporta as suas dores, como pode.

"Amanhã, a esta hora já estou na minha casinha"....rejubilava a D. Joana, repetindo esta frase mais de vinte vezes na véspera de ir...Nem queria acreditar...e a felicidade estampava-se-lhe no rosto...
"Como estarão as minhas florzinhas??!!...Se calhar tudo seco!" (esta última estadia no hospital durara dois meses e meio). "Tenho uma flor de noiva, a minha avenca, dois gladíolos, um, cor de rosa, e sardinheiras muito bonitas....Se calhar está tudo seco!" - dizia, desalentada, única nuvenzinha que lhe atravessava de quando em vez o olhar...

Aguardou, mais do que o previsível, a chegada do transporte hospitalar, com o seu robezinho rosa, o seu ar desempoeirado, o andarilho a postos....devido a burocracias de última hora, enquanto dizia : "Quem espera por quem não vem, numa hora espera cem!!..."

Todos quiseram despedir-se da D. Joana, que acenava, corredor fora, quando finalmente chegou a hora.

O hospital ficou mais pobre...a D. Joana mais rica, na sua casinha das Galinheiras, frente ao Café Central, com as suas flores, que mesmo as mais "doentes", reconhecerão certamente a dona, e irão florir pela alegria desta nova Primavera da vida da D. Joana...

Anamar

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito bonito!
O café pode ser amanhã, à tarde?beij

Maria Romã

anamar disse...

Maria Romã
O meu último afazer que me afasta de casa, amanhã, é às 3h ir colocar um pára-brisas à Glassdrive- Alfragide.
Não sei se demora muito se pouco tempo, sei é que a marcação já foi confirmada.Por isso não te sei dizer objectivamente nada, mas parece-me difícil. Sábado não te calha, não?
Diz-me qualquer coisa
Beijoca
Anamar

Anónimo disse...

Não te preocupes...fica para outro dia.
Infelizmente a semana passada também fiz uso desse serviço. Há sempre um aprimeira vez.
Amanhã , em princípio, vou à exposição da Marina...se encontrar a galeria...Queres ir? Se puderes podemos combinar eu passo pela tua casa.. Beij

Maria Romã