domingo, 2 de maio de 2010

O TAL "JEITINHO" QUE SÓ MÃE INVENTA....




Nunca tinha estado hospitalizada, felizmente...

Nunca atravessei este deserto do que são dias intermináveis, a começar ainda não são sete da manhã e sem términus determinado...

Nunca experimentara a sensação claustrofóbica de não ter por perto os nossos pertences, o nosso televisor, o "chato" do nosso PC (que de repente passaria a ser um querido...), até a nossa caneca do leite.

Nunca passara antes pela "exaustão", de nada haver para fazer, excepto comer (que parece acontecer de hora a hora), mandar e receber telefonemas e mensagens...e dormir, dormir, dormir...já sem posição, com as "cruzes" em reclamação e os músculos das pernas a doer de não trabalharem decentemente há dias...sei lá...nunca atravessara de facto, o deserto...

As pessoas que tenho como conhecidos e amigos (meu Deus...como são tantos...nem eu fazia ideia, o que me traz uma felicidade sem tamanho) , fazem-se e desfazem-se em tempo, em engenho e em arte, para fazer deste local um verdadeiro SPA...mas um SPA à séria...
Já não falo das minhas filhas, claro, digamos que essas sempre terão alguma obrigação "institucional". ( Não gosto do termo "obrigação"...amor não é nem nunca foi obrigação...).
Elas inventam, elas desdobram-se, elas desmultiplicam-se, para que as lágrimas não molhem o rosto da menina mimada que eu sou...

De alguma forma, este aprendizado doído, tem muito de positivo, e tem-me também mostrado, como, de facto, o afecto entre as pessoas que se querem, vem à tona, mesmo que o mar esteja encapelado, ou melhor, sobretudo se o mar estiver encapelado...
tem-me mostrado como a dor, as horas de sofrimento, as incertezas, as desesperanças ou as pequenas alegrias, solidarizam indistintamente o ser humano....e sem darmos conta, todos em comunhão, todos iguais, damos por nós a falar de nós e dos nossos, a falar de tudo e a falar de nada...simplesmente porque somos GENTE...

É de facto uma experiência  que todos "deveriam" viver, pelo menos uma vez na vida.
Vejam que não falo no mau sentido, óbvio.
Esta colmeia ou polvo gigante, imparável, este "monstro", cidade em ponto pequeno, que nunca dorme, esta "solidão acompanhada" também, a dor, o medo que às vezes é pior que o sofrimento, a união ou fraternidade e solidariedade comoventes, que se criam nesta comunidade (porque afinal, o barco é de todos....) enriquece, porque igualiza, relembra valores  que às vezes, muitas,...chegamos a desacreditar ainda existam na sociedade injusta, desumanizada, egoista e tão sozinha como a que vivemos nestes tempos.

Já tive a minha mãe internada mais do que uma vez nos hospitais, por razões várias. E diariamente a visitava o quanto podia, tentando suprir aquelas pequenas coisas que sempre fazem falta, pelo simples facto de não estarmos no nosso espaço, estarmos fragilizados e como que indefesos.....
Mas nunca pude imaginar o que traduz aquele olhar "comprido" que vai ficando, quando a hora é de regresso; quem esteve, parte para a vida cá fora, para a "liberdade", e quem fica, continua contando as horas, que descontam dias, que reduzem tempo, o tal tempo que levará teoricamente ao sanar das maleitas, ou, pelo menos, que nos devolva à nossa "normalidade".

Agora, a situação é inversa. Quem "encomprida" o olhar, sou eu, quem chega e parte a correr à custa da sua própria alimentação, do seu próprio bem estar, da sua vida, roubando tempo à hora de um almoço, que por isso não se faz, à custa de um esforço acrescido, são as minhas filhas, sobretudo a que também já tem lá em casa, três "utentes"hospitalares, de quando em quando...
Ela de facto faz de tudo, "entope-me" de felicidade traduzida nos miminhos, nas revistas de fofocas, tentando pensar em tudo o que possa aligeirar a nostalgia ou as lágrimas da tonta que sou....

Mas ela que me perdoe, e perdoa...porque conhece a avó que ainda tem (e que desta vez, pela primeira vez e desgosto seu, os 89 já não lhe permitem estar por perto). Se a minha mãe estivesse aqui, tenho a certeza, e não sei explicar o porquê deste meu "feeling", a corrente do afecto, o saber afectivo maduro e prático das coisas....aquele "jeitinho" que ela saberia dar,  (e que lá longe está dando em pensamento), um parecer querer  levar debaixo do braço as nossas pieguices reais ou não, do hospital para fora, aquela frase encorajadora real ou falsa, de estímulo, coragem, fortaleza, fé....esse "jeitinho" só mãe (algumas) sabe dar...

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá menina.
Fui sabendo de ti pela Lena...não quis incomodar pois devias mesmo era descansar...
Já estás recuperada? Qual a melhor hora para te ligar?

Beij

Maria Romã

anamar disse...

Olá Lena
Obrigada. Tive hoje alta e regressei. Tirando assuntos a resolver e/ou consultas médicas, páro aqui por casa.
Por que não apareces? Prometo dar um chazinho....
Beijinho muito grande
Olha, contigo, como vão as coisas? Espero que mais em paz....