sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

"UMA NOVA VISÃO SOBRE AQUELA MATA...."

Às três da tarde o dia fechou.
Sobre Sintra o céu estava tão negro, que sugeria aquelas reportagens do National Geographic sobre tufões ou furacões.
Pensei: "quando começar a chover, desaba uma torrente diluviana lá de "cima".

Ainda não tinha feito a minha caminhada diária e agora hesitava seriamente se sim ou não me faria ao caminho.
Tinha a meu favor as calças de caminhada supostamente impermeáveis, o "chuvasqueiro", que como o nome indica, é um corta-vento, corta-chuva...corta qualquer coisa (pelo menos comprei-o como tal), e como ainda não chovia e eu precisava mesmo partilhar-me com a Natureza, com o isolamento, com os meus pensamentos, resolvi meter-me ao caminho...

A poucos metros de casa e alguns pingos de uma chuva não forte, mas contínua, já se faziam sentir.
Eram talvez três e meia, e a luminosidade do dia levava-nos a crer estarmos já próximos da noite.
Pensei: "como será atravessar aquele bosque que certamente estará deserto, com esta chuva ininterrupta, este silêncio profundo, com o cerrado das árvores e arbustos a tornar ainda mais misteriosas todas aquelas veredas?..."

A chuva era copiosa e sentia as calças a gelarem-me as pernas, o corta-chuva muito frio, embora estivesse crente que ele não estaria a deixar passar a água para dentro.
Do capuz escorria-me água para o rosto, e quentes, mesmo, só tinha os pés.

O bosque estava efectivamente deserto e silencioso. Não vi vivalma, não cruzei ninguém, e até a passarada habitual, devia ter-se protegido na folhagem.
Na ausência de sol, as flores estavam fechadas, as azedas amarelinhas que atapetam o chão haviam cerrado as suas campânulas.
Apenas das mimosas, agora a florescer, pingava água de cada cacho.
Com mais um pouco de sol e calor, e tê-las-emos transformadas numa explosão de ouro e aroma intenso, naquela mata.

Foi estranho, foi diferente, foi de uma solidão absoluta aquele caminho.
Apenas a chuva fria desabava sobre tudo.
Mas gostei...não me arrependo de ter ido. É na realidade uma terapêutica para a alma, a partilha com a Natureza, esteja chuva ou esteja sol, é um multivitamínico tomado como curativo das mazelas do coração!...

Só teve um senão, a minha caminhada de hoje...É que ao chegar a casa e tirar a roupa, constatei que de impermeável, nada daqueles trajes tinham, o que significa que desde o cabelo até à roupa interior não era frio que eu sentia...era mesmo a roupa a deixar-se passar pela chuva!...
Assim sendo, não sei se poderei reincidir...

Anamar

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