domingo, 22 de janeiro de 2012

"E A MINHA TERRA LÁ TÃO LONGE !"...

"Em Janeiro, vai e sobe àquele outeiro ... Se vires verdejar, põe-te a chorar ... Se vires terrejar põe-te a cantar"!

No meu Alentejo, e com este Janeiro pródigo em dias claros de céu limpo e sol brilhante, de certeza já "verdeja" !

Desafio-vos a interpretar mais um dos ditados, dos noventa anos da minha mãe .
Às vezes penso que devia escrevê-los ... Qualquer dia acaba-se!

Bom, eu por aqui e na minha vida, vejo muito mais "terrejar" que outra coisa.
Cá estou, na janela onde o sol ainda bate, cá estou a fumar outro cigarro ( devo estar a candidatar-me a mais uma dor de cabeça ), cá estou com o meu "farrusco" reguila lá em baixo, de olhões virados cá para cima ( estou a achar que ele já me adoptou companheira de solidão ), o plátano e as "minorcas" vizinhas, continuam desoladamente despidas ... e no céu provocantemente azul, a minha gaivota "baldou-se" !
Afinal, para gaivota, isto ainda é tempo de época balnear ... na boa!

O meu Alentejo deve estar lindo !
Os verdes que despontam, os ocres e os castanhos da terra ainda sem frutos, as oliveiras, sobreiros, azinheiras, do meu imaginário, por lá continuam ... Breve, breve ...o dourado das mimosas engrinaldará a paisagem.
Nunca me "deixaram" ter uma mimosa, quando podia !  E eu adoro a cor, a singeleza e o aroma das suas flores !
De certeza, mais dia menos dia,  as cegonhas estarão  a regressar. Os postes eléctricos, o cimo da copa das árvores ... alguma chaminé de um monte perdido, as aguarda !

                                                                                                  

Agora, os campos enchem-se de azedas, murtas, giestas, rosmaninhos e alecrins a anteciparem a Páscoa ... mas ainda de boninas, dentes de leão, chupas-mel, dedaleiras, lírios, boquinhas de lobo, urze ...talvez papoilas ...
Tudo grátis, tudo extraordiariamente oferecido, por uma Natureza esbanjadora e generosa !

Que saudade, de quando, de braçada as trazia p'ra dentro de casa ... de quando o cheiro das "maias" inebriava o ar, e nos fazia crer que a Vida era assim, exactamente assim ... simples, fácil, leve !

Ou será mais saudade da que eu era ?? ...
Ou melhor, saudade mesmo, acho que era dos sonhos que eu tinha, isso sim  !...

Hoje, o betão sufoca-me ...
Hoje, a ausência de horizontes lá longe, onde até a construção me escondeu a Pena, impedindo-me de sonhar ... deixa-me mais desfalcada, mais vazia ...
Hoje, com este sol que mendiguei aqui de cima  ( e já está a querer desaparecer por detrás das barreiras em que o Homem o confina ), com um vazio estranho a tolher-me, e uma solidão a amarinhar-me ... fui inevitavelmente lembrar o meu Alentejo,  o "útero" com que a Vida me presenteou, a "casa" onde sempre gosto de chegar, o "ninho" onde me enrosco, em dias assim, como o de hoje, em que só verdejou e floriu na minha imaginação !!!...


                               
                                                                            
                                           
Anamar

6 comentários:

Anónimo disse...

Será que existe algo mais doce e belo, que as mimosas à beira das estradas alentejanas ? a sua cor o seu cheiro doce, a sua seiva peganhenta ?
Adoro Mimosas tambem, lembram-me as Férias de Pascoa em que tinhamos aqueles dias e eu ia de moto para Cáceres, uma tradição minha solitaria.
Enfim, Anamar lê-la pôe-me nostalgico, pois recordo-me de tempos de juventude, o meu obrigado.
Jonas

Anónimo disse...

Olá,
Bué giro, as mimosas são aquelas flores amarelas e peganhentas ?
Rita

anamar disse...

Olá Jonas

As mimosas também me recordam Páscoas e Páscoas me recordam férias... tempos leves e descontraídos...juventude!

Elas, para mim, são indistintas do meu Alentejo, sem dúvida!

Um beijinho

Anamar

anamar disse...

Olá Rita

As mimosas ou acácias, talvez reconheças também este nome..."são aquelas flores amarelas e peganhentas", sim...e já agora com um cheiro, como tu dizes, "bué" de bom!

Beijinhos

Anamar

Anibal disse...

Alentejo oh Alentejo,
Terra de sonho, de horizontes vastos, de gente boa,de boa comida, só tenho boas lembranças do Alentejo desde a sua costa à fronteira com Espanha.
Tentei graduar como Santo Agostinho, do que mais gosto no Alentejo e tão dificil esta graduação, que me lembrei de que a mais bonita terra sem as suas gentes,nada significa, por isso o que mais gosto no Alentejo são as suas gentes.

anamar disse...

Que bonito, Aníbal !

Sou suspeita, óbvio, porque o Alentejo me está grudado no coração... Mas concordo....difícil mesmo escolher !...

Eu costumo brincar com amigos, e digo que de tudo, tudinho .... o melhor são mesmo....as Mulheres! ahahah (perdoe a brincadeira)

Um beijinho e obrigada

Anamar