terça-feira, 10 de janeiro de 2012

"OS PRATOS DA BALANÇA ..."


Este início de 2012 trouxe-me aos miolos e à ponta do lápis, temas polémicos, controversos, quentes, que por tudo isso, têm suscitado "discussões" apaixonadas.

Comecei portanto o ano, não sei se mais para filosofices ... se mais para diatribes, sendo que ambas sempre estão interligadas na minha análise de qualquer assunto, na minha escrita.

Mais uma vez, no post de hoje, me vou focalizar nas relações humanas, relações casal, relações homem-mulher.

Constatamos, e é do domínio comum, o aumento de separações, divórcios, rompimentos, quebra de ligações.
Todos sabemos também, que para isso convergem inúmeros e variados vectores, e sabemos ainda que a "aposta", não é hoje o forte do Homem, no seio de uma relação ...
Já abordei esse aspecto, aqui mesmo neste espaço, lá para trás ... Referi a precariedade dos afectos, a fragilidade dos "fios" emocionais que unem as pessoas.
Correndo o risco de proferir uma enormidade, ou estar a ser demasiado simplista, diria que de duas vertentes depende primariamente a relação humana : o acerto no campo afectivo e o acerto no campo sexual.

No verdor dos anos, na idade pujante ( fisicamente falando ), na idade fértil e biologicamente preparada para o acasalamento, eu diria que o que aproxima dois seres, passa muito prioritariamente pela vertente física.
Assim é no ser humano, assim é no reino animal.
Falam muito alto as pulsões sexuais, são determinantes os estímulos visuais, olfactivos, auditivos, globalmente prima o conteúdo físico, destinado pela Natureza, exactamente para atrair o parceiro.

No reino animal, assistimos privilegiadamente, em programas e séries extraordinárias do National Geographic, a alterações, mutações, alindamentos de ambos os sexos, nas espécies, para os rituais de emparelhamento.
Estamos no domínio do irracional, mas no reino racional, no domínio dos humanos, tudo acontece de uma forma paralela.
Ambos os sexos estão no seu expoente máximo de beleza física, força, capacidades ... são possuidores de todos os dons propiciadores da atracção, são dotados dos "truques" naturais, necessários para garantir a aproximação ao sexo oposto.

Óbvio que este será o registo mais comum, penso. Aquele mais primariamente determinado, por desígnios biológicos.
Porque depois, se agora nos reportarmos apenas à espécie humana, cumprido este primeiro "requisito", e tão importante quanto, ou mais, virá a exigência e a satisfação ou não, do acerto afectivo.

O acerto afectivo entre dois seres, passa evidentemente por um acerto intelectual, cultural, social, ético, a que o ser humano é obviamente sensível.
Da conjunção desse conjunto de requisitos, nasce / nascerá a formação de um casal ou par, teoricamente perfeitos ... Idealisticamente sim, do equilíbrio dessas duas componentes.
Tal desiderato, é contudo, mais teórico que prático.
De facto, é extremamente difícil ou improvável, o alcance dessa referida equidade.
Sabemos que há relações  fundamentadas, alicerçadas e sustentadas, mais por uma, ou mais por outra, dessas componentes.

E as pessoas mais ou menos ajustadas ou felizes, caminham nesse equilíbrio algo instável, e com ele se fazem as Vidas !...

Com o avanço dos anos, e com toda a alteração natural e biológica a que o ser humano é sujeito, atravessados diferentes tipos de estádios físicos, emocionais, intelectuais, culturais, familiares, sociais até ... cada indivíduo começa a "centrar-se" ou a exigir para o seu bem estar físico e emocional, que prevaleça uma das componentes em apreço.

A fase do fulgor físico começa a abandonar-nos, começa a não ser tão determinante a uma realização pessoal e particular, começa a valer mais a pena equacionar o viver dentro de outros parâmetros, aqueles que apresentaram afinal a solidez necessária à manutenção do casal , na travessia das tempestades e terramotos impostos pelos anos.

É a altura em que o "casal" enquanto casal, é reflectido, é reavaliado, é posto à prova ... É sopesado ou devê-lo-á ser, o que realmente terá de prevalecer, o que realmente é na verdade importante e definitivo, para a sua manutenção ... o que é genuíno, quais os valores que o são ( enquanto valores ), o que deverá ser colocado nos pratos da balança ...

Espantosamente ou talvez não, a balança irá pender para o lado do bom senso, do amor calmo e firme  ( substituindo a paixão louca, tormentosa e efémera dos primeiros tempos ), para o lado da cumplicidade, das linguagens comuns, dos interesses comuns, dos afectos reais .
Os corações sobressaltam-se menos, a confiança mútua ( determinada pela ternura, pelo afecto e pelo amor ) traz paz aos espíritos ... O "saber" da partilha segura, traz "calor" à alma !...

Privilegia-se portanto, aquilo que eu chamo de consolidação do essencial .

Nesse estádio, pesem embora muitas e possíveis "solicitações" exteriores, as pessoas dão-se conta de que estão mais selectivas,  dão-se conta de que pôr em risco uma relação duradoura, em favor de algumas "emoções" pontuais, não compensa, e de que magoar ou ferir irreversivelmente o seu par, em função talvez de nada ou de muito pouco, se calhar não valerá a pena ...

Atingiu-se portanto, uma maturidade existencial ...

Será esse reforço de laços, essa partilha séria de afectos, essa cumplicidade entre as duas pessoas, essa proximidade cada vez mais aglutinada num só ser ... que, sendo escolhida, tornará o casal, numa simbiose tão perfeita quanto possível, e fará com que trilhem o caminho sobrante, em aconchego de vida ...

Deixado para trás o supérfluo emocional, foram e vão ser companheiros de jornada, para o bem e para o mal, quando os olhos já não enxergarem direito, quando os ouvidos já tiverem endurecido, quando as pernas já claudicarem ... quando já quase só, forem a sombra um do outro, em que se tornaram ...

Anamar                                

11 comentários:

Anónimo disse...

Eu gosto tanto de ler o que escreve, gostava muito que o meu namoro com o meu Joaquim terminasse dessa maneira linda.
um beijinho da Florbela

anamar disse...

olá Florbela

Pode crer que vai terminar....aliás acho que todos terminam assim....

Quando as "munições" falham, ergue-se a bandeira da paz!!! ahahah

Beijinho

Anamar

Anónimo disse...

Estimada Anamar,
Quero manifestar-lhe o meu profundo apreço pelo que habitualmente escreve no seu blogue.
No entanto, fiquei sem perceber bem a sua ironia com a vida, pareceu-me que não se conforma com as leis da vida, nomeadamente as do envelhecimento e dos incomodos que o mesmo acarreta.
Sera que estarei enganado?
Jonas

Anibal disse...

Adorei, foi lindo o que escreveu a vida é mesmo assim, hoje somos jovens de repente envelhecemos, e somos avós.
Vade retro Satanás eu ainda não o sou, mas espero vir a ser naturalmente quando tiver a idade propria para o efeito

Anónimo disse...

Para que uma relação (boa) perdure, também é preciso sorte e... muita inteligência...acho.
Malmequer

anamar disse...

Jonas

Obrigada pelo comentário.

Não entendo que o meu post possa traduzir "ironia" com a vida ou inaceitação das suas leis.

Ao contrário, ele descreve-a, nos seu variados estadios, com clarividência, penso ...porque queiramos ou não, todos passaremos por eles!

Um beijinho

Anamar

anamar disse...

Aníbal

"Va de retro satanás"????!!!!!

Não esperava isso do seu habitual bom senso... Acha que ser avô/avó será algo tão "mau", que precise de meter o diabo nessa história???!!! (rsrsrs)

Beijo grande

Anamar

anamar disse...

Malmequer

Palavras sábias as tuas!!!

Sorte, "à cabeça"... mas depois, na verdade, muito bom senso, muita inteligência para a reconhecer, preservar, honrar...sem dúvida!...

Beijinho para ti e excelente fim de semana!

(Para quando o chazinho??? rsrs)

Anamar

Anibal disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Exma.Senhora,
Tenho vindo a ler o seu blogue e permita-me dizer-lhe que o aprecio muito, na minha viuvez entendo perfeitamente o que afirma, devo dizer-lhe com o máximo respeito, que retrata fielmente a realidade, espero na verdade que não seja viuva como eu.Bem haja pela forma como descreve uma realidade que poucas vezes vejo retratada. Por favor continue. Uma sua admiradora.
Filipa Notz Andersen

anamar disse...

Boa noite Filipa

Permita-me que a trate assim.

Obrigada pelo seu comentário, embora lamente que ele vá inexoravelmente ao encontro da sua realidade.

Felizmente nunca passei por isso, e portanto aquilo que defendo no meu post, advém tão somente, de um pressuposto, uma "auscultação" interior, do que eu acho ser a realidade da Vida.

Felizes sim, aqueles que puderam falar as mesmas "linguagens" até ao final do caminho...

Um beijinho para si

Anamar