segunda-feira, 3 de junho de 2013

" ESTE MUNDO QUE ESCOLHEMOS ... "



Estamos no mundo do medo, do silêncio, da não aposta, nas relações humanas.
É um mundo de incoerências, é uma sociedade que se queixa do isolamento e do ostracismo, e os cultiva !

Sobretudo  nas  macro-realidades  sociais,  como  são  as  urbanas,  com  toda  a  sua  carga  de afastamento   físico  entre  as  pessoas  ( encurraladas em "colmeias", que têm  "quilómetros" de distância entre o esquerdo e o direito da cada andar, ou entre os andares do mesmo edifício ), ninguém conhece verdadeiramente ninguém, ninguém sabe verdadeiramente nada mais de ninguém, além do óbvio, do superficial e do socialmente correcto.

Depois há todo o mundo da solidão, as horas do vazio, a ausência física de vida à sua volta.
No fim de cada dia, cada um, carregando a sacola dos seus problemas, angústias e dores, fecha-se no seu espaço, e fecha-o, quando corre a lingueta da fechadura ... por mais umas horas.
A engrenagem retoma-se no dia seguinte, em que de novo, cautelosamente, os seres humanos se reaproximam na devida dosagem, sem grandes entregas, com partilhas controladas, com cautelas redobradas, com compromisso programado, com trunfos nas mangas, com aproximações dinamitadas ...

Eu diria que as únicas relações desarmadas e potencialmente verdadeiras que existem, são ainda as da adolescência.
Aquelas que se estabelecem entre pessoas "virgens" nas experiências relacionais, pessoas que ainda não foram magoadas, não têm cicatrizes, estão imbuídas de uma ingenuidade e de uma confiança, que a inconsciência do desconhecimento do que é viver, efectivamente lhes confere.
Depois o caminho desenrola-se, e essas mesmas pessoas, primeiro, de uma forma incrédula, depois sentindo-se injustiçadas, depois ainda, revoltadas, finalmente conformadas ... começam a formar o seu próprio espólio de mágoas, de desilusões, de descreres, de desaposta, de desinvestimento, e começam a ganhar a postura cabisbaixa do conformado perdedor, de quem vai carregando um fardo, gradualmente mais pesado, que não tem  alívio  possível...

E as pessoas isolam-se.

Ninguém está emocionalmente equilibrado.   As pessoas  sofrem, as pessoas anseiam outra coisa, outro futuro, outra janela ...
E esforçam-se, algumas até se esforçam.  Outras capitulam, e encontram sucedâneos para se "distrairem" da vida !

Entra aí o relacionamento virtual, muitas vezes ... a sacada mais próxima que se tem à mão, para se abrir.
Só que essa pseudo-solução, é isso mesmo.  Uma pseudo-solução, uma panaceia, um "analgésico" no coração.
Não é mais do que uma alternativa, um substituto, um "genérico" ... um faz de conta !

Efectivamente, por essa via, as pessoas "pensam-se" acompanhadas, mas "sabem-se" sozinhas, absolutamente sozinhas.
Nada é como parece, porque por detrás do "virtual", há obviamente o "real" ... e esse, quase sempre não confere !

E o vazio do cansaço instala-se, mais bravo ainda , mais destruidor, mais defraudante do que antes !...

Contudo, aparentemente de uma forma incoerente, o ser humano não arrisca pôr em causa a realidade de que desfruta, insatisfatória, sem horizonte e sem perspectiva ;  desgastante, desmotivadora, cansativa, desinteressante e sem cor ... para partir para uma outra, que teria hipóteses de ser gratificante ou não, na medida de meio por meio ... só porque essa tentativa lhe exige empenhamento, lhe exige esforço, lhe exige coragem na quebra de hábitos instalados, o força a romper rotinas que enjeita, e de que se queixa ...

E  cobardemente não aposta.  Comodistamente não avança um passo, e prefere apodrecer na insatisfação, no lamento, e na mediocridade da sua vida ...

Para mim, entendo-o como sinal de envelhecimento, de incapacidade de operar mudanças, de falta da saudável ingenuidade, e da fé, do querer e do crer muito, que tivemos um dia !
E por isso, há velhos aos trinta, aos quarenta, aos cinquenta, aos sessenta ...
E tenho pena !!!...

E assim vamos vivendo ... ou vegetando ... ou mascarando com uma pílula dourada, a incompletude, a frustração e a desilusão doída, deste "fazer de conta" que é viver ...

Até quando ??

Bom, até que nos convençamos que nada há mais a fazer, que a capitulação e o depor de armas é o que resta, que a falta de coragem será a nossa última companheira de vida, e nos acomodemos ... aparentemente nos conformemos ... e definitivamente encostemos  às "boxes" !!!...

Mas aí ... estaremos mofados, apodrecidos, mortos ... e fizemos de conta que não demos por isso !!!...

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Que solidao a Senhora transmite.Tambem sou uma pessoa sozinha,no meio da multidao.

anamar disse...

Simplesmente a realidade nua e crua, infelizmente, de muita gente ... No meio da multidão, sim ... quase sempre !

Anamar