domingo, 23 de junho de 2013

" O LABIRINTO "



O sol deu lugar à lua.
Esperou que ela despertasse e se elevasse, imponente, no céu.
Era um sol imenso, uma bola de fogo laranja, a arder no firmamento, descendo lá para onde estará o mar ...
Do outro lado, uma bola de prata erguia-se, desde Monsanto ( uma super-lua cheia em perigeu, neste solstício de Verão, como não se verá nos próximos tempos ), a fazer-me sentir ainda mais só ...

E de repente, o tempo deixou de ter tempo, e sempre falta tempo para sentirmos que afinal há vida ...
As cerejas pousadas na mesa, o vinho esgotado na garrafa, os pratos vazios, o CD ainda na aparelhagem.
Os olhos humedecidos pelas lágrimas que correm ... sempre correm, na impotência de fazer parar o tal  tempo.
O que foi dito, e o que infinitamente ficou por dizer, e nunca será dito, porque o tempo é isto ...

No canto da alma, a certeza do outro, tão perto e tão longe ...
E o rio de permeio, de corrente alterosa, águas agigantadas e revoltas, sem pontes já erguidas, a mostrar onde ficas tu e onde fico eu.
E passarão dias e noites, e sóis e luas ... e o lugar daquela cama, guardará o calor do teu corpo, e a expressão do teu rosto estará para sempre, nos espelhos desta casa.
O contorno das mãos que me passeiam a alma e o corpo, escondem segredos que só elas conhecem ... e vão escondê-los para sempre.

Porque há um "para sempre" entre nós, e há um "nunca" também !...

E os caminhos seguiram-se a outros caminhos, e o emaranhado das veredas da serra, confusas e labirínticas, cerraram-se à nossa volta, com as raízes cobertas de musgo, das árvores centenárias, a sufocarem-nos, como tentáculos de polvos gigantes.
E a luz difusa do fim  de  tarde, coada por entre as ramagens, foi escurecendo os atalhos, e as clareiras deixaram de ter flores silvestres a despontar, porque não havia mais luz que chegasse.
Nem o sol nem a lua, nos iluminaram as vidas ...

E andámos perdidos tempos demais.
Cansei-me de deixar fiapos do meu vestido, nos carrasquinhos, a marcar os destinos ...
Cansei-me de te gritar a minha solidão, como o lobo uiva em noites de lua, no silêncio da penedia ...
Cansei-me de soluçar em estertores de morte, junto às fontes da floresta ...
Cansei-me de pedir às ondas das ravinas, que te acenassem recados, que nunca vinham devolvidos nas marés ...
Cansei-me de apanhar ramos de todas as flores que eu conhecia, perdidas nas falésias sobranceiras ao mar, que era azul e verde e prata e cinza ...

E até as flores amarelas sem nome, as margaridas selvagens, as madressilvas, as pedras e as conchas, definharam nas minhas mãos ... porque se foram esquecendo de como era sonhar ...

E fui adormecendo um sono sem cor ... um sono sem sonhos ... um sono sem desejos, vontades ou creres ...
Porque passou tempo demais, e eu fiquei entorpecida do cansaço da espera, fiquei entontecida da exaustão do percurso, fiquei esgotada do labirinto insolúvel,  desesperançado, sem ar e sem volta, que é a minha existência ...


 


Anamar

4 comentários:

F Nando disse...

A vida é um labirinto cabe sabermos procurar o caminho...
Um beijo para ti

anamar disse...

"Cabe" ... dizes bem !
Será que sabemos? Será que conseguimos?
E será que se o conseguirmos, seremos felizes?

Beijinhos

Anamar

Anónimo disse...

"Sehnsucht, Sehnsucht". Na faculdade um professor de Literatura Alemã explicava isto assim: "Corremos para apanhar o comboio e quando o apanhamos, saltamos de novo para o chão e corremos outra vez para o apanhar... e continuamos, continuamos..." (Lembrei-me disto ao ler a tua última frase no comentário anterior)
Um beijão
Malmequer

anamar disse...

Olá Malmequer

Porque o ser humano é um eterno insatisfeito, e sempre vive "pendurado" da dúvida metódica ... E se, e se ... e se??? :)))

Talvez seja esta infinita incompletude, que nos leva a acordar todos os dias, nem que seja p'ra "conferir" ... ihihih

Beijinhos

Anamar