sábado, 1 de junho de 2013

" VIAJANDO ... "


 

As "flores amarelas sem nome", ganharam um, de repente e inesperadamente.
As flores amarelas sem nome, que vivem largadas nas falésias, desafiando ventos, sol e tempestades, são as "cantarinas", afinal ...

Engraçado, como eu preferia quando elas eram simplesmente flores amarelas sem nome ...
Engraçado, como eu as preferia antes de se desvendarem.  Porque eram apenas flores amarelas, viviam nas falésias de vento enlouquecido, e pertenciam à minha história.
Agora, pertencem à história de toda a gente ... podem pertencer à história de quem as chamar de "cantarinas" ... porque de "flores amarelas sem nome", tenho a certeza que só eu as chamava ...
E o encantamento de apenas serem chamadas por mim, porque fui eu que as baptizei, quebrou-se.
A aura mística e adocicada de serem flores minhas, esvaziou-se ...

Muitas coisas nas nossas vidas, têm razão de ser, apenas enquanto são coisas nas nossas vidas.
Quando começam a ter nome, identidade ... quando se despojam do nosso "não saber" acerca delas, perdem metade do fascínio, e ficam doídamente vulgares .  Passam a ser para nós, exactamente o que são para muita outra gente.
Deixam de ter a exclusividade de apenas sorrirem para nós, de apenas iluminarem os nossos caminhos, de deitarem poalha de esperança, apenas nas nossas mãos.

E como nos sentimos importantes, quando temos coisas apenas nossas, quando merecemos participar dos códigos secretos que são isso mesmo, secretos, ou quando simplesmente, flores se dividem connosco ... mesmo que se chamem de "cantarinas" !...

É como o sol.
O sol que se deita sem pudor, todos os dias, no horizonte longínquo, frente ao meu sétimo andar, é o "meu" sol .
São os meus olhos, que o vêem, é o meu coração que dispara, no bate-bate, por cada minuto em que ele declina, é a sua fotografia, desenhada por mim, escolhida por mim, e vivida por mim, aquela que me extasia a cada passo do baile, com que brinca nas nuvens carregadas, de Sintra ...

Ninguém vê, ou sente, ou usufrui daquele sol, como eu, imóvel, estática, sem respirar ... não vá ele assustar-se e fugir mais depressa, naqueles momentos que eu desejo perpetuar.
Jamais serei capaz de "o" contar, a quem quer que seja, jamais serei capaz de explicar como ele é indissociável do meu viver, e como é por ele que espero acordar na manhã seguinte ...
Porque sempre penso que neste Mundo, muitos que o vêem adormecer, já não o vêem acordar ...

Por que será que o ser humano não pára, enquanto não conhece, não descansa enquanto não desvenda, não sossega enquanto não sabe ... ou enquanto não julga saber ??!!
Mas depois, quase sempre fica mais pobre, porque o limite do sonho fica a anos-luz da melhor realização.

Nunca o que vemos ou julgamos ver, é a verdade.
Não existe "a verdade".  Tudo é resultado de uma mera projecção nossa interior, fruto de tantos vectores condicionantes, que arrisco dizer, que hoje, um dia de sol e céu azul, é na verdade um rigoroso dia de Inverno ...
Apenas eu, preciso de luz na minha alma !...
Por isso, já Picasso eloquentemente dizia, que há quem num borrão amarelo, acenda um sol, e quem, reduza o próprio sol, a um mero borrão amarelo !!!...

Bom ... chega de insanidades !...

Acho que as "cantarinas" das falésias, não podem plantar-se em vasos.  São livres demais para isso.
Senão, eu faria com elas um viveiro, bem na minha janela, porque enquanto as olhasse, teria a secreta certeza de me passear nas arribas, frente ao mar e ao sol sobranceiro, tal qual como quando elas eram  apenas  "flores amarelas sem nome" ... e pertenciam à minha história ...

Anamar

2 comentários:

F Nando disse...

Passando pelas tuas flores amarelas e que fizeste delas tambem uma partilha das tuas viagens...
Lindo!
Beijinhos

anamar disse...

Olá Fernando

Um beijinho também para ti.
Obrigada

Anamar