Será um blogue escrito com a aleatoriedade da aleatoriedade das emoções de cada momento... É de mim, para todos, mas também para ninguém... É feito de amor, com o amor que nutro pela escrita...

domingo, 25 de agosto de 2013
" A BOLA DE BERLIM "
E ali estava eu, como em menina, deliciada e lambareira, a comer uma Bola de Berlim ...
Há quantos anos eu deixara de as saborear ?!
Recordo que em Albufeira, sete, oito anos, tempos de praia em férias sem fim ( parecia ... nessa altura ), era repasto de areias.
Eram trazidas nos cestos de verga com duas tampas, revestidos por toalhas alvas, enfiados nos braços da vendedeira, a sra. Júlia, descalça e também ela vestida de branco, que calcorreava a praia de ponta a ponta, com os pés enfrentando a areia escaldante.
A "Bola de Berlim", a batata frita e "olha ó Olá" ... ecoavam, e eram pregões obrigatórios, das praias de então ... ah ... é verdade ... e a "Língua da sogra" ou "A bolacha amaricana", também ...
Ainda não havia sogras, ainda não havia angústias, ainda não havia a gordura, a celulite ... o dia de amanhã !...
Era o tempo, em que debaixo do toldo se jogava ao prego e ao anel, era o tempo do balde de lata vermelho com bonecos, da pá, do ancinho, e das forminhas para os bolinhos de areia, em folha, também !
Era o tempo das construções sonhadas e mágicas, dos castelos encantados, decorados com algas e conchas da maré baixa.
Castelos com fossos à volta, com água de verdade e pontes, e com bandeirinha na torre de menagem ...
Era o tempo dos grandes mergulhos, e da bóia obrigatória, no banho.
Tive uma, amarela, com uma cabeça de pato ... lembro-me bem !
E "maillot" ... usava-se, e dizia-se, "maillot" ... O biquini ainda não existia.
Os meus, eram sempre azuis. A minha mãe devia gostar dessa cor.
E ela, bom, ela não vestia fato de banho. Ela usava vestido ou saia, e subia-os, pudicamente, quando ia vigiar-me à beira-mar, e aproveitava para molhar os pés.
Eu tinha um chapéu de palha amarelo, como o dos chinezinhos, e não havia ordem de o tirar da cabeça, por razão nenhuma, não fosse o sol molestar-me.
Ia-se para a praia cedinho. Vinha almoçar-se a casa, depois do que eu deveria fazer sesta obrigatória.
Pelas cinco da tarde, regressava-se à praia, para completar o dia.
As senhoras faziam rendas, e trocavam entre si, segredos e amostras das mesmas ...
A garotada brincava em bandos ... e era feliz !!!
Bom, e ali estava eu !
Agora, com o mar em fundo, e a praia lá em baixo, aos pés, no fundo da arriba.
Não estava em Albufeira, não !
E também, se estivesse, já lá não estava aquele marzão azul, aquela areia, aquele sol ...
Os meus castelos, já teriam ido, há muito, levados pelas ondas e pelo vento, tal como o foi também, aquela que eu era, arrastada no vórtice do tempo !
A "barrigudinha" do maillot azul, chapéu amarelo na cabeça, e balde de lata na mão, já não existe há séculos ... ela, e os seus sonhos de menina !
Outra vendedeira, no lugar da sra. Júlia, talvez percorra o areal, mais ou menos da mesma forma, com os pregões imortais, e transversais às gerações.
A criançada, já não joga ao prego nem ao anel. Passa demasiadas horas, a gastar os olhos, nos jogos electrónicos, nos IPads, tablets, e todas essas maravilhas da tecnologia, cujos nomes e variedade não conheço ...
As construções na areia, já não têm o mesmo virtuosismo.
São os pais que as fazem, para os mais pequeninos, sem suspeitarem, que na verdade são eles que procuram o seu passado, outra vez, nas areias da rebentação ...
E no alto da falésia, sentada numa pedra, das muitas que por ali se semeiam a esmo, com o mato rasteiro e as flores bravias à minha volta, com a brisa a desalinhar-me o cabelo, e as gaivotas grasnindo e rasando o monte ... com o olhar perdido na distância e no tempo que correu ... deliciada e lambareira ... exactamente como então, ali estava eu, a comer outra vez, uma Bola de Berlim !!!...
Anamar
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4 comentários:
Que bonita esta historia que conta,apreciei a mesma pela sua simplicidade e visualisei na minha mente uma historia de outros tempos saudosos.
Apenas ... não é uma "história" simples . É um pedaço da MINHA história, que não é tão simples assim, pode crer.
Obrigada por ter comentado
Anamar
Na "minha" praia havia "barquilhos" (uma espécie de bolacha americana, em forma de canudo) e o meu fato de banho, quando era pequenina, era sempre, sempre, vermelho, e tricotado pela minha mãe.
Malmequer
Olá Malmequer
Pois, "barquilhos" ou "língua da sogra", tanto quanto lembro, eram o mesmo.
A "tua" e a "minha" praia falavam a mesma língua ... as nossas vivências, as mesmas. Gerações contemporâneas, afinal !
Só quem as vive, entende !
Beijinhos
Anamar
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