quarta-feira, 7 de agosto de 2013

" PENSANDO ALTO ... "



A gente vê quando as pessoas têm ânimo, quando a vida lhes ganhou cor, quando uma qualquer luz lhes iluminou o túnel, o horizonte, a estrada ... o que quiserem ...
A gente vê, quando as pessoas têm objectivos, sonhos e esperanças por que lutar, e não arrastam simplesmente dias descoloridos, compostos por horas compridas, que se vão desfiando ao sabor dos ritmos do Universo ...
A gente vê, quando é madrugada na vida das pessoas, quando já é meio-dia dado, e quando o crepúsculo se instala, porque a tarde começa a descer ...

A gente vê ...

E  vê  também,  como  tudo isto em que estamos mergulhados, é grotesco, profundamente grotesco ... risível ( para não chorarmos ), pelo absurdo.
Porque tudo isto por aqui, é uma piada seca, de mau gosto, que nem um esgar amarelo nos faz aflorar aos lábios.  Tudo isto, está mais para filme de terror, e de má qualidade !...

Acho que carreguei , na alma, o silêncio e a solidão do Alentejo .
Acho que rever lugares, pessoas, cores, cheiros ... sentir o calor do sol a pino, sobre as terras secas e adormecidas, sentir a sombra de árvores esquálidas, também elas mortas de sede ... me instalou de novo, no coração, um olhar melancólico e magoado, sobre a Vida, a minha vida, este caminho  "trágico" que percorro, de "estação" em "estação", num calvário declarado, rumo ao meu  Monte das Oliveiras ... esta jornada que não pedi, que não gosto, que não quero ... que não aceito ...

Não gosto de acordar por cada manhã ;  brigo com a imagem que o espelho me devolve ... enraiveço-me porque não vejo, não oiço, porque não sei por onde anda a agilidade do meu corpo, que hoje me atrapalha, e começa a ser bagagem incómoda ... porque tenho medos, porque os fantasmas começam a assaltar o meu "quintal",  à minha revelia, e me assombram, não as noites ... mas os dias ...
Não convivo, nem aceito as "brancas" que me sincopam a escrita, não convivo com o "engasgamento" mental, a falta de escorrência na expressão do que pretendo transmitir, a falta de fluidez no discurso, as dúvidas e hesitações na ortografia ...
Assusto-me com o desfasamento entre a mão e o cérebro ...

E entendo que só pode ser uma ironia, uma piada de mau gosto, uma injustiça mais, uma maldade, uma violência ... um crime ...
... porque eu não vivo, se deixar de escrever, e ... não se tira o pão, da boca de quem tem fome !...
Não convivo com a falta de paciência para ouvir e ver gente, mas depois, sinto-me mortalmente mal, por não ouvir nem ver gente ... e a solidão enlouquece-me !...

Não consigo caminhar num caminho indefinido, sem objectivos ou metas, calcorrear uma estrada que leva a nenhures, e que, ora corta desertos áridos, sem nortes ou rumos, ora penetra florestas labirínticas e escuras, cujos troncos me sufocam, cujos espinhos me  rasgam, me sangram, me dilaceram ... e cujos trilhos me confundem e esgotam ...

"Os apaixonados envelhecem juntos" - diz o pacote de açúcar, que o empregado acabou de me deixar na mesa ... Eu, que adoço com adoçante ...

Sorri para dentro de mim mesma ...
As lágrimas, que até já correram, afloraram de novo, à medida que o estrangulamento na garganta recrudesce, e que a aflição no peito, que  me tira o ar, me tomou mais e mais ...  e  me  atraiçoa,  aqui,  neste  café  de  todos  os  dias,  às  mesmas  horas,  com  sol  ou  com  chuva ...

Talvez !...
Talvez  seja  só  esta,  a  fórmula  secreta  e  simples  de  se  conseguir  cumprir  o  Destino ... Apaixonadamente !!!...

Anamar

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