segunda-feira, 5 de agosto de 2013

" REGRESSAR A CASA "




Não foi uma chegada, não foi uma visita, não foi um fim de semana ... foi simplesmente um "regresso a casa" ...

O Alentejo vestia-se de castanhos, ocres e verde pardo dos sobreiros, das oliveiras e azinheiras.
Os tons mimosos e verdejantes da Primavera tenra, já foram,  os pastos secaram, as flores murcharam.
A charneca não está mais em flor, nesta época do ano.  Pintou-se como um quadro de terra queimada, e a meio do dia, é a boca de uma fornalha, com o sol a pino sobre o montado.
As papoilas, as macelas, os malmequeres, e as flores roxas, que decoravam profusamente a paisagem meses atrás, secaram.
Nos campos, apenas o restolho que ficou, e as plantas resistentes, como a esteva, as giestas e a urze, agora não floridas, persistem e resistem ao braseiro ...

A passarada recolhe-se, para rasar os campos, apenas pela fresca da tarde.
As andorinhas, exibem então, bailados de prima-dona, de felicidade e paz.  Acompanham-me desde menina ...  Estão comigo desde os beirais da casa dos meus avós !
Até as cegonhas já foram.  Os postes de alta tensão estão mais sós, com os ninhos a  desníveis, abandonados até à próxima época de nidificação e acasalamento.
Demandaram África, nas suas deambulações sazonais.

O gado no campo, procura  as sombras. 
As vacas, e os rebanhos de ovelhas, sobretudo, fazem a sesta, e só regressam ao pastoreio, ao fim do dia, e pela fresca da manhã.
Nessas alturas, o Alentejo tem os sons todos da vida.  Os chocalhos ecoam planície fora, perto e longe, as aves chilreiam e enchem os céus de trinados.  As abelhas, os zângãos, as cigarras ensurdecedoras e os grilos, compõem sinfonias e lengas-lengas monótonas e imparáveis ...

A brisa corre então, mansa e abençoada, e resmalha nas folhas da vegetação perene e resistente.
Ao longe, às vezes, ouve-se um sino que não repica ... apenas lança no ar, badaladas dolentes, espaçadas ... sonolentas ...
Nunca se sabe se dá horas, se chama a finados, se lembra melancolicamente, apenas, que o Alentejo ainda vive, estando embora amodorrado ...

Porque o silêncio, aquele silêncio audível que nos trespassa até à alma ...  o cheiro, aquele cheiro adocicado que sobe dos campos  e nos enche até ao âmago ... a cor, aquela uniformidade da cor da terra, em ondulações de amarelos, castanhos e fogo, entranha-se-nos na pele e cola-se ... cola-se para todo o sempre, por debaixo dela !...

A planície, cujo único limite é o céu, que tremeluz nas ondas de calor que se levantam do chão, lá na linha do horizonte, a perder de vista ... essa, é a cama que nos foi destinada !...

E a pulsação da terra, o seu apelo sequioso, entre vida e morte, tem o frémito de um corpo fecundo  de mulher, é o útero de paixões-ímpetos ... mas é sempre força de renascimento e de Vida !...

"Regressar a casa", volver às raízes, pisar o chão, olhar o sem-fim do firmamento ( que o sol alaranja e incendeia quando se põe, e que as estrelas pintam, quando pintalgam o breu das noites, sem luzes que perturbem ) ...beber o silêncio da paz que me invadiu a alma ... deixar que o calor do monte me percorresse as veias, e me aquecesse o coração ... falar com as pedras, e dançar com a brisa da tarde ... foi alguma coisa que me revitalizou, me invadiu, me impregnou, me transcendeu ...

...  e me transportou, numa viagem onírica, até àquela menina das tranças, trigueira e ladina, que há já tanto tempo ficou lá para trás !!!...

Do Alentejo, voltei ... Mas já tenho saudades !!!...

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Alentejo maravilhoso

anamar disse...

Sim.... maravilhoso sempre !

Obrigada

Anamar