quarta-feira, 20 de agosto de 2014

QUICO, O MENINO "LIGHT" ...


O Quico, de seu nome Frederico, foi para mim, um menino "fora de horas".
Com isto quero dizer, que existindo já na vida da minha filha, um rapaz e uma rapariga, e tendo ela uma vida profissionalmente muito exigente, não conceptualizava eu, a vinda de um terceiro elemento, ainda por cima, face à situação sócio-económica que se atravessa.
Isto, como se os avós pudessem ter a ousadia de conjecturar o que quer que seja, sobre a vida dos filhos !

Dito e feito, faz hoje sete anos já, lá fui esperar o Quico pela hora de almoço, ao Hospital S. Francisco Xavier.
Estava um dia radioso de sol quente de Agosto.

Encerra ele, a escadinha de três putos, de que volta e meia aqui falo, o mais velho com treze anos acabados de fazer, sendo que ele é o benjamim da família.
Vindo no fim do "comboio", e como quase sempre acontece aos últimos filhos, o Frederico é o elemento mais desinibido, mais bem disposto e mais auto-suficiente dos três.
Nascido num núcleo bem assoberbado já a todos os níveis, com as responsabilidades, falta de disponibilidade, escassez de tempo e até paciência, com a correria louca e o cansaço do dia a dia, num esquema familiar com todas as exigências crescentes de uma vida difícil que os jovens pais hoje encaram,  cada criança que vem vindo, tem de arranjar armas pessoais de adaptação, de autonomia e de independência, já que a pieguice, a super-protecção, a sufocação, a ansiedade e até a inexperiência com que na generalidade os primeiros filhos são criados, deixa de fazer sentido.

E por isso, genericamente, a criança "mais sacrificada" em termos educacionais, é sempre a primeira, já que então os pais, marinheiros de primeira viagem, estão cheios de convicções pedagógicas, de cuidados e de preocupações doentias por exageradas, e com elas criam e educam o primeiro filho num espartilho convicto, projectando nele tudo o que teoricamente aprenderam e querem passar adiante, com veleidades de perfeição, de utopia, e de intransigência, exigindo dele a imagem do filho perfeito que inventaram, e revendo-se nele, como continuador dos seus próprios valores.

Eu fui assim ... acredito que muitos de nós ( não irei obviamente generalizar ), são assim ...

Depois, com a sucessiva chegada de outros elementos ao "ranchinho", abrandam-se as normas, relativizam-se as exigências, abre-se a tolerância, maleabilizam-se as relações inter-pessoais.
E essas  novas crianças são mais saudavelmente educadas, estou em crer, e serão seguramente mais felizes.
Sem sentirem sobre si, de forma tão decisiva e determinante, a responsabilidade injusta, penalizante e pesada  de terem que assumir um perfil de filho "ideal", são crianças mais soltas, mais livres, mais assertivas, menos angustiadas,  eu diria que mais personalizadas e seguras.  Enfim, mais capazes e artilhadas para a vida e para os desafios que as esperam.

Assim é o Quico, uma criança que até hoje nunca vi chorar, excepto se acidentalmente magoada numa brincadeira mais desastrada.
É um menino que acorda rindo, que é extrovertido, que cultiva e vive rodeado de amiguinhos, de fácil adaptação às diferentes situações e apostas com que a vida o desafia, um menino argumentativo, com uma linguagem clara e concisa, sem preocupações ou angústias ...
Em suma, um menino profundamente "light" !...
É o neto que primeiro acorre à porta para o abracinho, o que se pendura do pescoço, e que não tem papas na língua, a contar histórias e episódios "muito importantes" no seu quotidiano ...
Ah ... e é alegremente criativo também, com resposta e solução imediata em qualquer eventualidade.

Com pouco mais de seis anos talvez, aconteceu no colégio que, a pedido da professora,  teve que dirigir-se à sala onde leccionava um antigo professor do António.  Este, que o conhecia bem, face à sua desenvoltura, desinibição e ares despachados, disse-lhe :  "Ai Quico ... não te pareces nada com o teu irmão !..."
De imediato, e antes de sair, o Quico voltou-se para trás, e com ar sério e pragmático  respondeu escorreita e convictamente ao professor :  " É natural ... não somos filhos do mesmo pai !!!..." (rsrsrs)

Este é o Quico, o meu menino "light" que hoje completa os seus sete anos de vida !...

Que a sua feliz filosofia de vivê-la,  o acompanhe sempre, e possa tornar o seu futuro tão ensolarado e claro, como aquele 20 de Agosto que o viu chegar a este mundo !!!...

Anamar

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