quarta-feira, 25 de março de 2015

" CURTAS ... "




Perguntaram-me hoje pela minha gaivota ...
Pois é, não se tem feito por aqui, e apesar de num destes dias o céu estar pejado de um bando que parecia dançar o "Bailado dos Cisnes"... ( neste caso impropriamente denominado, portanto ) ... eram gaivotas "estrangeiras", tenho a certeza !
Nenhuma era ela !

Hoje sim. Rasou-me a janela há pouco.
Meio desgovernada, em balanço pouco estável, já que o vento bem forte não nos larga há três dias, vinha velejando um céu encapelado.  Parecia pois, pouco convicta do itinerário a seguir.
Asas esticadas, pescoço em frente ... era a absoluta imagem da liberdade e do desafio !

Isto de se ter uma gaivota, é uma fortuna do destino, já aqui disse noutras ocasiões.
Ter uma gaivota, um "farrusco" preto  nos terraços lá em baixo, casario e mais casario encavalitado a perder de vista, antenas e mais antenas das operadoras de comunicação empoleiradas aqui e ali, algumas esparsas manchas verdes, que se salvaram " in extremis" no esquecimento dos homens, céu, muito céu sem fronteiras que o delimitem ... Dispor de todo este espólio, ter isto tudo gratuitamente, é um privilégio além da conta !
Ah, é verdade ... e ter arco-íris se as bruxas são generosas,  raios e coriscos em trovoadas bravas, desenhando geometrias psicadélicas no céu escuro ... ter super-luas que me descoordenam  o espírito, e ter ainda  pôres-de-sol para todos os gostos, que me extasiam sempre ... isso então, é tratamento cinco estrelas, que eu, francamente  não mereço !

Da minha janela, por uma nesga, enxergo ainda a Pena, lá longe ... meio sumida, meio disfarçada nas nuvens, num jogo de esconde-esconde.
É castelinho de fadas, visto daqui.   Parece a cereja encarrapitada no chantilly, pousada lânguidamente no alto do Monte da Lua, numa Sintra que amo, e onde me perco menos do que gostaria, mas ao alcance do meu sonho e imaginação ... sempre !...

Por isso, vos digo ... não troco esta tribuna "vip" por nenhum "flat" topo de gama !
Vai fazer quarenta e um anos que ela  se divide comigo, que ela  partilha a minha história ... que envelhecemos juntas ...
Estamos aqui para o que der e vier, pois acredito que algures neste betão, nestes tijolos e em tudo o mais, me crescem raízes, que se afundaram ano após ano, vida após vida, e que deste sétimo andar junto ao céu, já se terão firmado  certamente bem fundo, na terra lá em baixo ... o meu chão !...





Anamar

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