quarta-feira, 25 de março de 2015

" O PONTO FINAL "





"As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria, o seu caminho "
                     Mário  Quintana


Uso e abuso de reticências na minha escrita.
Talvez porque nunca tenha uma certeza definitiva das minhas afirmações, talvez porque sempre as ache passíveis de uma melhor análise de outrém, talvez porque pense que para lá do que convictamente defendo, há miríades de outras opiniões, visões e pontos de vista provavelmente mais válidos, consistentes, mais bem estruturados e seguros, que os meus.
Talvez porque para mim, tudo na vida se mostre  inacabado, mal acabado, insuficientemente conclusivo.

Assim, fica ao critério do leitor, continuar o ensaio mental do que deixo suspenso, o avanço criativo do "que é",  mas que também "poderá ser"...

Ou talvez seja porque as reticências sejam o rosto da minha insegurança.  E eu sempre pense quão além das verdades, se calhar eu plano ...  quão desviada da objectividade eu sobrevoo ... para quão distante das realidades, a minha utopia viajante me conduz ...

Gostava de ser mais pragmática, mais afirmativa, mais imperativa.
Porque se o fosse ... baloiçava menos sob os ventos do destino ...
Se o fosse, seria mais avisada face aos sentimentos, seria mais imune à manipulação !

Por outro lado, e curiosamente ( o que parece configurar uma contradição ), não convivo pacificamente com o pendente, com o cinzento, com a neblina, com a sombra, com o dúbio ... com a incerteza, com o que fica dependurado entre palavras, pensamentos ou atitudes.
Com o que ficará para lá das "reticências"... em suma.
Não convivo com "mortes" sem cadáver ...  E entendo claramente, quem tem de se submeter a lutos de fantasmas inquietos...
Fantasmas que não vão, nem ficam ...

Para mim, nada mais desestruturante do que assunto não terminado, do que livro fora da prateleira, do que aquela coisa de encontro vagamente concretizado ... do que pão dormido, que abolorenta, porque se lhe adiou o destino ...
Parece pois, tratar-se de uma incoerência  na minha personalidade !  Será ?
O que é facto, é que prefiro uma casa arrumada, àquela falsa desarrumação da ordem !...

Uso e abuso das reticências.  Na escrita, nos dias ... no destino .

E que jeito me dava um ponto final na retórica da vida !


Anamar

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