quarta-feira, 29 de agosto de 2018

" DE COSTAS VOLTADAS "




Nada há de mais complicado, dúbio e difícil do que a comunicação entre os seres humanos.
De tal forma que quando duas pessoas conseguem alcançar um código de entendimento perfeito, ou pelo menos satisfatório, poderão considerar que alcançaram um estado de graça invulgar, uma benesse do destino ... uma bênção mesmo !

Inversamente, nada há de mais desesperadoramente frustrante, que a incapacidade de comunicação porque entre o emissor e o receptor se gerou um curto-circuito inultrapassável.
A sensação de nos explicarmos de todas as formas, de nos desnudarmos até ao âmago na ânsia de nos fazermos entender, de usarmos de toda a transparência e lisura nas mensagens emitidas ... e depois percebermos que tudo foi em vão, que à nossa frente temos um muro intencionalmente intransponível, que o receptor joga à defesa porque criou na sua mente um processo de intenções, uma postura persecutória em que à partida já antecipara definitivamente a sua leitura, a sua interpretação e inabalável julgamento ... essa sensação, dizia, leva-nos liminarmente "ao tapete", por impotência, desespero, raiva e sobretudo um inesgotável cansaço !

É decepcionante, porque representa uma frustração, um esforço inglório e uma injustiça imensa.
Uma sensação, de em vão pregarmos no deserto ... porque o que eu disse, está longe de ser o que ele "ouviu" ...
E em última análise criam-se condições irreversíveis de abandono do diálogo ou da tentativa dele, cria-se uma impossibilidade dolorosa de consonância, instalando-se de permeio um mix de sentimentos destrutivos, uma panóplia de maus estares, animosidades, raivas e iras ...
E fica uma situação mal resolvida "ad eternum"!

Quase sempre pessoas próximas afastam-se, desistem, deitam por terra tudo o que havia sido construído entre si, e os interlocutores viram-se as costas, duma forma magoada, provavelmente para o resto da vida !
E é triste, mas abandona-se frequentemente a mesa de diálogo, porque conclui-se que as palavras, as frases, as ideias, os sentimentos que tão importantes foram, esvaziaram-se, perderam o significado, deixaram de ser inteligíveis pelas partes.
E por defesa ... desiste-se.

E se isto ocorre, infelizmente com demasiada frequência, nas relações próximas, se ocorre entre pais e filhos, entre irmãos, entre amigos, entre amores ... com pessoas entre as quais coexistiam laços afectivos e familiares muito, muito fortes ... que esperaremos então da comunicação entre povos, nações, gente anónima ?!

Por isso, cada vez mais, o diálogo de surdos criado, não leva a lado nenhum, a tentativa de entendimento, de acordo, de debate ... de paz ... é desperdiçada, esgotada e finalmente abandonada...

O ser humano parece ensurdecer, cegar, incapacitar-se ... parece de repente desconhecer, ignorar, afastar, desvalorizar o seu interlocutor  ... e a comunicação talvez privilegiada antanho, deixa de o ser.
E daí em diante, serão seguramente desconhecidos e mais estranhos ainda, aqueles que ora se encaram !... 

Anamar   

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