segunda-feira, 6 de agosto de 2018

" POR QUE RAIO TIVEMOS QUE CRESCER ??!! "


Estranhíssimo este sol que se põe lá ao fundo, num céu pesado, sem nuvens, mas longe de ser límpido.
Aliás, mostra-se com um semblante esfumado que lembra aquele céu de incêndios.
Entretanto  a  "fogueira"  acende-se  por  todo  o  país,  com  as  temperaturas  a  roçarem os 46 ºC ...

Todos ficamos imprestáveis, neste ar irrespirável.  O cansaço toma-nos conta e nem as ventoínhas nem os duches frios sucessivos, aplacam esta sensação de desconforto.
As noites não refrescam, não se dorme, e erguemo-nos na manhã seguinte, totalmente partidos, espapaçados, como se tivéssemos sido açoitados durante a noite.  Mais cansados ainda do que antes de dormir ... como se isso fosse possível !
Sonha-se com uma sombra fresca, sofre-se à míngua de uma aragem ...

Os animais sofrem também ... e muito !  Os meus gatos, sobretudo o que transporta às costas um manto invejável de pelo, não encontra poiso, arrasta-se pelo chão de mármore, dorme na frescura possível do poliban e estica-se indiferente a tudo, parecendo moribundo na apatia que ostenta.
Tenta resistir ... como todos nós !
Entretanto, nas notícias, fomos confrontados com uma tempestade que se abateu ontem ao fim da tarde, sobre certas zonas do Algarve.  Intempestivamente ! Imprevisivelmente !

Temos o planeta em desnorte total.  Assustadoramente a sofrer desmandos da Natureza, que vão afectando de forma acentuada, os seres vivos que lhes ficam à mercê ...

Talvez devido a tudo isto também, me sinta demasiado cansada.  Este calor mata-me, definitivamente !

O tempo está como a vida ... tudo incerto, tudo imprevisto, tudo anormal ... tudo meio louco !
Na minha meninice e juventude, tanto quanto lembro, as coisas tinham nomes ... Primavera era Primavera, Verão chegava na hora certa e tinha a cara do costume ... o Inverno sempre nos trazia o friozinho gostoso, a convidar a gorros luvas e cachecóis, o fumo das castanhas assadas a soltar-se dos carrinhos e as alamedas dos jardins, totalmente forradas com as folhas molhadas, que já eram ...
E por aí adiante.
Por isso sempre sabíamos com o que contar, sem demais surpresas ou ansiedades.  Acho que os dias corriam mais ou menos mansos, sem outros sobressaltos.
Os dias viviam-se ao ritmo dos dias.  O hoje era  vivido hoje, sem pressas ou ansiedades, o ontem ainda não deixava aquelas marcas mortais que nunca mais se apagam ... e o amanhã, sempre nos aparecia como uma rosa fresca que desabrochasse ao romper da alvorada ... doce, sorridente, cheia de promessas ...
Os amores eram generosos, embaladores e leves.
Viviam-se e sorviam-se ao sabor do sonho.  Em jeito de presente de laço e fita, deixado nos sapatinhos da nossa imaginação, nos tempos em que era Natal todos os dias ...
As imagens das nossas histórias eram sempre coloridas ... porque eram exactamente isso ... imagens das nossas histórias ...
E estas sempre tinham finais felizes ...
A vida tinha muito do açúcar e do arroz doce com que as avós e as mães nos resgatavam dos pequenos desgostinhos ...
Não havia despedidas, nem perdas, nem separações.
Tudo parecia ser para sempre, simples, certo, sem as complicações da gente grande ...
E quando as lágrimas desciam ... porque às vezes também acontecia ... era garantido, que dormida a cabeça no travesseiro, a madrugada era azul  à certa, enfeitada de arco-íris, estrelas esfregando os olhos de ensonadas, e cantos dos pássaros da alvorada ...

E assim se fazia a vida ... com a ingenuidade e a bonomia dos anos que então tínhamos !...
Mal sabíamos da turbulência que nos esperaria a muitos mil pés de altitude ... mal imaginávamos da tormenta de mar alteroso que se iria encapelar diante de nós ...

Afinal ... por que raio tivemos que crescer ??!!...

Anamar

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