quinta-feira, 2 de agosto de 2018

" TEMPOS ... "




Há um tempo para tudo, na vida.
Há um tempo para viver e um tempo para morrer.  Um tempo para estar e um tempo para partir.

Acredito verdadeiramente nisto.  Sinto exactamente isto.
E acho que efectivamente o ser humano é tão insignificante nesta imensidão onde um dia germinou, que é inócuo o seu estar e o seu ir.
Percebo cada vez mais a precariedade da existência e a insignificância do grão de areia que somos, na engrenagem gigante a que pertencemos.

Com a partida da minha mãe, com a ausência da sua figura física nos meus dias, consciencializo mais e mais estas verdades.
Dizem que o tempo resolve e que a terra esbate as faltas.  Penso que simplesmente nos habituamos a novas realidades, a novos contextos para a nossa vida.
A saudade é imensa, mas é uma saudade da minha mãe de toda a vida e não da minha mãe dos últimos anos.
Essa, foi uma figura estranha e desconhecida que aconteceu, de que tive que cuidar, que tive que amar, proteger e ajudar.
Essa, foi alguém que conduzi pela mão no trilho árido e agreste que foram os seus últimos longos dias, em passos titubeantes, cada vez mais imprecisos e incertos.
Essa, foi uma personagem que a vida, injustamente foi arrastando e arrastou tempo de mais, com um sofrimento que parecia cirúrgica e ironicamente escolhido, com uma forma que diríamos, desumana, maquiavélica, usurpando-a dia a dia, crescentemente, das capacidades que faziam e sempre fizeram dela, uma grande mulher !
Como uma folha morta largada na correnteza, o destino foi-a jogando sem rumo ou norte, impiedosamente, contra as penedias do leito, numa maldade sem tamanho !...

Já aqui referi vezes sem conta, em muitos posts que fui escrevendo em jeito de alívio, neste calvário dos últimos quatro anos, que  a começar pela dependência móbil que a confinou a uma cadeira de rodas, à degeneração mental progressiva que a afastou totalmente de nós e de toda a realidade circundante ... o ser humano que ela foi, tornou-se numa figura patética, irreconhecível e dolorosamente triste.
A mãe, a minha mãe que eu adorei por toda uma vida, filha única que fui, com uma dedicação e um amor extremos talvez por isso mesmo, esfumou-se no espaço e no tempo ... e partiu ... finalmente em paz !

E estranhamente, ou talvez não, foi paz que eu senti exactamente, desde então.

E quando, em conversa, um amigo me dizia noutro dia, pensar que eu levaria mais tempo a recuperar-me do choque da sua partida ... eu reflecti sobre a frase, e entendi-me claramente...
É que há um tempo para tudo, na vida.  Há um tempo para viver e um tempo para morrer.  Um tempo para estar e um tempo para partir ...

E a minha mãe esgotara seguramente o "seu tempo" por aqui ...

Anamar

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