terça-feira, 28 de agosto de 2018

" PINGOS "





O Verão está a ir.  Chegámos  à  "rentrée".  A estação vira, os dias estão a amanhecer nublados e mais frescos com alguns pingos esparsos, de surpresa.
O Outono espreita ... ainda longe, mas espreita.
São dias estranhos, nostálgicos, estes ... São dias de fim e recomeço ... para os que recomeçam. Quando recomeçam ...

As aulas da miudagem anunciam-se já já, na próxima semana.
A luminosidade dourada, doce e espreguiçada do Verão, dos dias sem horas ou compromissos, já foi.

Costumava ser um tempo de azáfama.  Havia no ar, aquela urgência "de fazer cócegas"... Compra de livros e material escolar, chegada dos novos horários e consequentes ajustes nas rotinas.
Ansiávamos o reinício, lamentávamos o fim do lazer ... numa contradição típica do ser humano.
Reviam-se os locais e as pessoas, falava-se das férias ora terminadas, planificava-se a vida. Porque havia uma vida futura já a seguir.
Agora, alguns anos volvidos, os tempos têm rostos descaracterizados e existe um vazio instalado. Desconfortável e silente.
Parece que terminámos uma faxina, que arrumámos tudo nos lugares, parece que de repente, a nossa "casa" da alma ficou devoluta, sem préstimo ... Não somos mais precisos, e pronto, não temos mais nada por fazer.
A não ser ir estando por aqui ... pegando Verão com Inverno, Primavera com Outono, sem grandes metas ou fasquias. Num recolhimento meio agradável,  meio estranho ... melancólico seguramente ...

Hoje, as memórias caem-me no colo.
São memórias de pessoas, de locais, de momentos.  Memórias de instantes vividos, de palavras ditas, de sorrisos trocados ... memórias de afectos.
Todos...todos os afectos que fizeram história na minha vida.  Porque se eu amei alguém, algum lugar, se acalentei um sonho bom por um instante que fosse ... esse alguém, esse lugar, esse sonho ficarão comigo ao longo da minha existência ... sempre !

Hoje, apetece-me o silêncio de um areal vazio.  Apetece-me a voz da brisa passante pelo meu rosto.  Apetece-me o grasnar ocioso das aves marinhas rasantes da babugem.
Hoje, apetece-me um colo que eu queira.   Apetece-me a conversa jogada fora, nos córregos desenhados pelas encostas das ravinas.
Hoje, apetece-me a paz das clareiras verdes da mata e a música orquestrada do regato que corre.  Apetece-me tão somente a voz dos pássaros empoleirados nas ramagens, ou o sussurrar leve do besouro que se faz à flor oferecida ...
Hoje, tenho saudades não sei do quê, porquê, de tudo e de nada, talvez.
E talvez só tenha mesmo, saudades de mim ... De me achar, algures por aí... de me encontrar pelas esquinas dobradas, pelas ruas pisadas ... nas praias desertas ...
Ou apenas rever-me no tempo em que me empoleirava nas nuvens, amarinhava ao arco-íris, namorava a lua cheia e dormia abraçada ao sol, quando ele partia e dormia também na cama das estrelas ...
Hoje, a cor do dia é a minha cor.
O betão que me cerca sufoca ainda mais o ar precário que respiro.  O cinzento lá fora convida ao recolhimento aqui dentro.  E dormiria, se não tivesse que acordar ...
Os pingos de chuva, grossos e generosos que já caíram, chamam ao reencontro com a Natureza, na época em que ela se prepara para a dormência gostosa da estação da letargia e do silêncio, que se aproxima ...
Nem Énya consegue levar-me aos limites celestiais da sua voz cristalina ...

Aqui, hoje, não se operam mesmo milagres ...

Anamar

1 comentário:

Unknown disse...

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