domingo, 19 de agosto de 2018

" ESTAR FELIZ ... "





" Você é aquilo que ninguém vê
Uma colecção de histórias,
memórias, dores, tragédias,
sucessos, desaires, sentimentos e pensamentos.
Definir-se é limitar-se.
Você é um eterno parêntesis em aberto,
enquanto a sua eternidade durar "

                                               Machado de Assis


Tarde insuportável de calor, neste Agosto que continuou um Julho metereologicamente meio atípico.
Presenteou-nos sim, e Agosto também, com tormentas semeando perdas e desgostos.
Os fogos em escala dantesca voltaram a grassar  aqui e lá fora, as intempéries, as cheias, os sismos ... as temperaturas impensáveis derretendo calotes polares, tudo quanto foi anormal de se viver, se tem vivido, numa Natureza que pisca incessantemente o semáforo vermelho a gente incrédula que acha que talvez ainda não seja bem assim ...
O falado "ponto de retorno" a atingir-se a passos largos, e o Homem, cego, surdo e mudo !...

Tenho vindo aqui pouco.
Desta feita, falta de tempo mesmo.  Falta de "assento" como costumo dizer, têm-mo impedido.
Mas sem esta catarse necessária, não sou bem eu. Sinto-me esportulada de uma parte de mim.  Incompleta.  Inquieta.
A razão ?  Várias, sendo que o términus do desfazer da casa dos meus pais, seguindo-se de uma sanha meio alucinada de radicalmente por a minha também mais organizada, são os motivos principais.
De quando em vez parece eclodir-nos uma urgência absoluta de "limpeza", arrumação, faxina inadiável, numa busca de renovação, alteração e mudança ... como se com esse desiderato, a verdadeira renovação, o verdadeiro retirar do balofo, a verdadeira assepsia alcançasse, visasse  especialmente, o nosso eu interior, cansado, bafiento, desencantado, rotinado de mais ... cinzento !...
São as fases de dobragem de esquinas.  De busca de caminhos airosos, verdejantes e floridos !...

Nesse espírito deitei mãos à obra, procurando que, junto com o supérfluo, o desnecessário, o excedente cansativo e oneroso, também fossem os meus sentimentos mais negativos e pesados, o meu desconforto, a desesperança que teima em instalar-se vezes de mais, a aparente ausência de horizontes ... Fi-lo sem demais preocupações, interrogações, dúvidas angustiantes, ansiedades ... medos ...
Procurei alienar as incertezas, as apreensões doentias, as definições demasiado enquadradas e previsíveis, que coartam, espartilham, fecham os túneis do acreditar, a graça da surpresa ... e simplesmente deixei-me ir vivendo, um dia depois do outro, saboreando cada momento.  Os de paz e felicidade, os menos auspiciosos e escuros ... os sonhados e os que me caem na almofada por cada manhã em que acordo ... só porque valem a pena ser vividos, e eu continuo viva por aqui !

A vida afinal é tudo isso.  É este mix de "colecção de histórias, memórias, dores, tragédias,
sucessos e desaires, sentimentos e pensamentos" ... na busca da nossa essência, na procura do que fomos, do que somos, por que o fomos ... por que o somos ... sem nos enjeitarmos, sem nos repudiarmos, sem sermos excessivos algozes das nossas imperfeições, acreditando sempre !
Sem buscarmos definições "essencialmente correctas" e censuradas do que talvez esperem de nós, bastando-nos que nos encaixemos no que nos realiza e faz feliz, com uma auto-aceitação e bonomia de paz, tranquilidade e equilíbrio ...

Não busco de facto, figurinos, sequer me preocupo com juízos excessivos ... Cada vez menos o faço.  Vivo, simplesmente com a coerência que consigo, nunca abdicando de sonhar ... mantendo-me um  " parêntesis em aberto enquanto a minha eternidade durar " ... e procuro "estar feliz" ... não, "ser feliz", porque isso, não existe !...

Anamar

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