Em 2013 ( Agosto ) postei neste espaço, um texto sobre o Café Pigalle, café que faz parte do meu quotidiano, aqui na minha cidade.
Como lá refiro, trata-se de um espaço com mais de cinquenta anos, atravessado por isso, por muitas gerações, entre elas, a minha. É pois, um "ex-libris" da Amadora.
A história do Pigalle de 2013 até à actualidade, é a história triste de um gigante que se acaba aos poucos, mercê das crises, da má gestão, do descaso, da não aposta ... do desinteresse ... ou da velhice, quiçá !...
Publiquei entretanto o texto no Facebook, num espaço de que sou "amiga", "Amadora - Passado, Presente e Futuro ", e com ele desencadeei na altura, diálogos muito interessantes entre os leitores, amadorenses com histórias cruzadas e vividas em passados próximos, exactamente no Pigalle. Pessoas que haviam deixado de se ver, de se encontrar, pessoas cujos nomes lhes faziam sentido, mas não tinham certezas de quem eram ao certo ... Enfim, reaproximei amigos de uma vida, companheiros de bilhar, tertulianos de horas mortas, em juventudes idas ...
E isso, foi-me profundamente gratificante ...
Passaram seis anos entretanto.
Hoje ( e este é o prodígio que as redes sociais às vezes têm, quase sempre mais negativas que positivas nos relacionamentos ), o meu texto foi "repescado" como memória, por alguém que obviamente não conheço, mas que lendo-o, o comentou .
O texto "saltou" portanto, de novo, para a página do referido Grupo de Amigos.
Entendi por isso, reatar o contacto com as pessoas que tenham curiosidade e interesse em saber do percurso de vida, do Pigalle, seis anos transcorridos ... eu, que o frequento incontornavelmente, todos os dias ...
E escrevi o texto que aqui igualmente posto :
"Surpreendeu-me
o regresso do meu texto, tão
carinhosamente aceite na comunidade Amadora- Passado, Presente e Futuro,
aquando da sua publicação, em 2013.
Se os amigos
repararem, a maioria dos comentários datam exactamente desse ano.
Pois bem,
volvidos seis anos após a minha publicação, cabe-me reportar que o Pigalle, o
tal “dinossauro” da nossa cidade, resistiu e resiste à intempérie do tempo, e
ainda mexe !
Mexe mal,
trôpego das pernas, sem força anímica para se erguer e padecente de reumático, idêntico ao dos seus frequentadores ...
Penso que o
FB recuperou este meu escrito e repô-lo como memória, creio. Daí que tenha sido retomado por alguns
amigos, e me tenha caído à frente, de novo esta manhã, exactamente quando eu tomava
o pequeno almoço ... no Pigalle !
A
precariedade e o envelhecimento do café, mantêm-se, ou melhor, agravaram-se
nestes seis anos, como é lógico esperar de alguma coisa sem manutenção
qualitativa significante.
O espaço
físico, eu diria estar exactamente
igual, com uma “lavadela de cara” agora nas férias, em que encerrou.
Portanto,
sem ponto ou vírgula de acréscimo.
Os
empregados reduzem-se a uma única funcionária que, por ser multi-funcional e
não parar um minuto, tem conseguido resistir à “sanha” de despedimentos
sucessivos, de pessoas que passam períodos temporais escassos e mínimos, ao
serviço do estabelecimento.
É um rodopio
de empregabilidade de funcionários que ( e alguns revelaram qualidade na
prestação de serviços ), mal entram e já partem ...
Explicaram-me
ser uma política defensiva por parte dos patrões, a quem não interessará
assumir contratos mais definitivos, com tudo o que eles envolvem de
responsabilidades, como empregadores.
Ao cliente,
em termos de géneros, e por comparação com todos os outros espaços idênticos de
restauração, existentes na mesma zona da cidade ( afinal, o seu centro ), pode
falar-se em “mínimos absolutos” ...
Não chega a
ser um espaço prazeiroso em termos logísticos.
É um café servido por luz artificial, como se sabe, em que não há
vontade expressa de o tornar confortável e aconchegante para o cliente. Todo o Verão se “suam as estopinhas” com os
ares condicionados desligados ( avariados ... diz-se ), e no Inverno o
aquecimento também poucas vezes nos ameniza o ambiente ...
A clientela continua a privilegiar a classe “sénior”,
digamos, já que o café não é obviamente,
minimamente atractivo para os
jovens. Talvez por isso, fruto de tudo
isto e da pouca simpatia e alguma conflitualidade do dono, que por ali
perambula, muitos grupos de amigos que à mesma hora, diariamente, ali
confraternizavam, desapareceram, buscando outros espaços certamente mais aliciantes, do nosso burgo.
Quando,
depois de férias reabriu, percebi que mais e mais o Pigalle se
descaracteriza. As “baixas”
acentuam-se. Por insatisfação dos
clientes, fundamentalmente, mas também por
“deserção” forçada e triste de outros ...
Acredito
que apenas a detenção da venda de jogo seja a sustentação económica do café ...
e não mais.
Perguntarão
então os amigos, depois desta minha longa e exaustiva dissertação, por que,
masoquistamente ou talvez não ... insisto em frequentar aquele espaço ?!
Serão recaídas saudosistas ?!
Serão recaídas saudosistas ?!
Pois
não sei exactamente o porquê desta questão !
Alguns amigos
perguntam-me, meio a brincar meio a sério : “então, amanhã vais ao Centro de
Dia ?” E não entendem ... também
eles.
Sei que sou
fiel nas escolhas. Sei que sou
saudosista das memórias. Sei que me
prendo e miscigeno com os locais, os hábitos e as histórias ... e eles se me
colam debaixo da pele ...
Será isso
? Será essa a razão por que,
“desgraçadamente” os sapatos, sem racionalmente
me obedecerem, por cada manhã, ao sair de casa, para lá me encaminham
???!!!
Um abração,
esperando não vos ter roubado demasiado tempo com esta minha crónica ... Afinal
... o Pigalle ainda mexe !!!... "
Anamar
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