sábado, 14 de setembro de 2019

" VÁ-SE LÁ SABER !... "





Já aqui referi algumas vezes, ser uma pessoa que vive aqui, com a cabeça algures por aí, em qualquer lugar do mundo.
Costumo dizer que se pudesse, levava a vida de malas feitas, e bem tinha chegado, já estaria de partida, não importa sequer para onde.
Também costumo dizer que isto só pode ser herança ou karma familiar, já que o meu pai, viajante de profissão, não parava de " por o pé em ramo verde" ... e parar, para ele, era mesmo morrer um pouco !

Tenho pavor de voar.
Sou daquelas pessoas que jamais durmo, sequer dormito num avião, ainda que as viagens sejam extenuantes e demasiado longas.  Que mal se acende o sinal luminoso de cintos apertados e aviso de turbulência próxima, se agarra, com unhas e dentes aos braços do assento.
Perco a fome, mal engulo algum alimento e sempre me sinto ansiosa, angustiada e amedrontada, já antecipadamente, sobretudo na descolagem e aterragem daqueles "monstrinhos" ...
Enceto uma luta titânica comigo mesma, de mentalização para desmistificar este estado de coisas, dizendo-me que se trata de um dos transportes, se não mesmo o transporte mais seguro ... que até à porta de casa se pode ser atropelado ... que cada um só vai onde estiver destinado ... que se me entrego a este estado de espírito, não arredo de onde estou ... e patati e patata ... A tranquilidade, mesmo assim, não chega !

Seria portanto, talvez razão suficiente para ficar sossegadinha no meu canto e aquietar "o pito" !
Qual quê !!!   Lá vêm as "cócegas" nos miolos, a saturação da quietude, a vontade de ir ... e as "asas" a crescerem-me ...
E pronto, começo às voltas com os programas das agências, consulto, leio e releio as propostas oferecidas ... porque mexer nas revistas, nos mapas, nos itinerários e olhar as fotografias e descrições dos lugares, já são meio caminho andado para "descolar" !!! 😁😁😁😁

Li há dias um artigo num jornal da actualidade, que finalmente acaba descodificando o "mal" de que padeço : esta vontade incontida de viajar, esta compulsão meio doida de me pirolitar para lugares que não conheço, para civilizações diversas, para formas de viver, de estar e de sentir distintas ... para cheiros, cores e rostos que me falem de outros mundos !...
Trata-se da síndrome PPP ( Permanent Passport in Pocket ).

Segundo alguns estudos, parece haver um comportamento genético por detrás da vontade incontrolável de algumas pessoas, por viajarem.  Sobretudo quando esta apetência parece ser um estado de espírito "non stop", nunca saciável.
Em 2016 foi identificado o gene da "sede de viagens" ... o DRD4-7R.
Um blogue de psicologia sugeria que o 7R, uma variante do gene DRD4 que actua nos níveis da dopamina no cérebro, motiva o comportamento de 20% dos humanos.
A variante 7R, segundo os pesquisadores, traduz-se em "inquietação e curiosidade".  Essa inquietação pode impulsionar as pessoas a assumirem riscos maiores, na busca contínua de novos lugares e experiências.
A dopamina funciona no cérebro como se exigisse em permanência, algo "novo".

Uma bióloga americana, da Universidade de Kaplan, acredita que há uma relação directa entre este gene e o número de carimbos no passaporte de alguém ...
"A dopamina é o gene do gostar, e quando se quer mais, não se fica saciado ... acaba-se viciado !..." afirmou.
Ao contrário dos estudos que apresentam a teoria do gene DRD4-7R, uma outra investigadora do Hospital Richmond em Vancouver, e especializada na ciência de procura de emoção, é mais cautelosa nas conclusões que tira.  Acredita ela que a decisão racional de correr riscos, é mais alargada.
É característica da genética humana, desde a era dos caçadores-recolectores, quando os mais ousados em explorar novos territórios e fontes de alimento, tinham maior probabilidade de sobreviver.

Mas não se deve atribuir este impulso, apenas ao ADN, já que a personalidade de um indivíduo é poligénica, isto é, é uma imensidade de genes que contribui para a formar, além da influência do meio ambiente na química cerebral.

Também há quem defenda que esta vontade pode ser potenciada por contágio nas relações interpessoais a que uma pessoa está exposta.  Se convivemos estreitamente com alguém que adora viajar, é fácil que passemos a partilhar e a apreciar este gosto.

Seja como for, e quaisquer que sejam as origens deste impulso viajeiro - sejam genes presentes no ADN, uma tendência psicológica desencadeada por certas condições, ou uma simples maluqueira minha - algo é incontestável : a melhor maneira de tratar esta vontade louca de viajar, é render-se a ela !...

É isso, em última análise, que eu faço !!!...

Anamar

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