Há cinquenta e três anos, no dia 9 de Setembro, a primeira página do "Diário de Lisbôa" , obviamente de 1966, abria com uma notícia devastadora para todo o país, particularmente para o povo de Sintra : a sua Serra estava a arder !
O "Diário de Notícias" colocava em manchete : " Sintra : uma vila ocupada " ou " 1966 - Quando a Serra de Sintra ardeu toda "...
As chamas irromperam
na Quinta da Penha Longa, alastrando à Quinta de Vale Flor, Lagoa Azul e
Capuchos e, segundo um relato publicado no site do jornal "Bombeiros de
Portugal", vários pontos de referência da vila de Sintra estiveram sob
risco elevado, como foi o caso do Palácio de Seteais, Palácio de Monserrate e
Parque da Pena.
A própria localidade de S. Pedro de Sintra chegou a correr
perigo, e as projecções incandescentes, originaram focos de
incêndio noutros pontos do concelho — Albarraque, Cacém, Colares, Gouveia,
Magoito, Mucifal, Pinhal da Nazaré, Praia Grande e Praia das Maçãs — obrigando
à dispersão dos meios de combate.
O vento forte foi responsável pelo alastramento das chamas, que só a chuva verdadeiramente acabou por extinguir.
O vento forte foi responsável pelo alastramento das chamas, que só a chuva verdadeiramente acabou por extinguir.
O sinistro lavrou, descontrolado e incontrolável, ferindo de morte o coração do Monte da Lua ... três dias em que o sol, entristecido e impotente, escureceu e se apagou ...
Todas as corporações de bombeiros de Lisboa foram mobilizadas. Mais de 4000 operacionais estiveram no terreno.
Só que, nessa altura não existiam meios aéreos de combate, nem carros de tracção às quatro rodas, nem depósitos de grande capacidade ou bombas de grande débito ...
A combater o incêndio haviam sido também chamadas Forças Militares, como reforço dos operacionais no terreno. O aquartelamento de Artilharia Anti-Aérea Fixa de Queluz ( RAAF ), pertencente ao Concelho de Sintra, fez-se presente. Integrava militares jovens, naturalmente sem nenhuma experiência para o efeito.
Só que, nessa altura não existiam meios aéreos de combate, nem carros de tracção às quatro rodas, nem depósitos de grande capacidade ou bombas de grande débito ...
A combater o incêndio haviam sido também chamadas Forças Militares, como reforço dos operacionais no terreno. O aquartelamento de Artilharia Anti-Aérea Fixa de Queluz ( RAAF ), pertencente ao Concelho de Sintra, fez-se presente. Integrava militares jovens, naturalmente sem nenhuma experiência para o efeito.
Coragem e denodo não lhes faltaram, só que, o fogo, traiçoeiro, cercou-os e encurralou-os ...
Ironicamente, o Alto do Monge, terceiro ponto mais elevado da Serra, o mais importante, se não o único túmulo da Serra, vestígio arqueológico constituído por pedras que formam uma cripta funerária com cerca de 50 séculos, foi o túmulo para 25 jovens que aí caíram carbonizados, no cumprimento da missão que lhes fora atribuída.
Houve quem os tivesse ouvido ainda clamar por água, sem nenhuma possibilidade de os socorrer.
Os seus corpos só foram encontrados no dia seguinte, e por eles e pela sua postura, se pôde adivinhar o horror por que terão passado ...
Sintra imortalizou-os num memorial em pedra, no local onde heroicamente tombaram ...
Eu era então adolescente. Encontrava-me a passar férias no Alentejo em casa dos meus avós.
As notícias da catástrofe, contudo, varriam o país, e a estupefacção e penalização eram gerais.
Hoje, já não conseguia situar no tempo, com exactidão, essa calamidade. Já estive no local há alguns anos, e no alto desse pico, numa Serra que amo, cujo horizonte se perde muito além do olhar e onde apenas as aves se escutam e a brisa perpassa, prestei silenciosamente uma homenagem simbólica a esses bravos jovens, que um dia, lá muito atrás, tiveram com a morte um encontro marcado para esse lugar !...
Um amigo, sintrense de naturalidade e de coração, publicou contudo, um texto tocante que, com a sua autorização, e a minha gratidão, agora aqui transcrevo.
Ele, que foi e é, testemunha viva de uma ferida sangrante que dilacerou para todo o sempre, a sua terra !...
Ironicamente, o Alto do Monge, terceiro ponto mais elevado da Serra, o mais importante, se não o único túmulo da Serra, vestígio arqueológico constituído por pedras que formam uma cripta funerária com cerca de 50 séculos, foi o túmulo para 25 jovens que aí caíram carbonizados, no cumprimento da missão que lhes fora atribuída.
Houve quem os tivesse ouvido ainda clamar por água, sem nenhuma possibilidade de os socorrer.
Os seus corpos só foram encontrados no dia seguinte, e por eles e pela sua postura, se pôde adivinhar o horror por que terão passado ...
Sintra imortalizou-os num memorial em pedra, no local onde heroicamente tombaram ...
Eu era então adolescente. Encontrava-me a passar férias no Alentejo em casa dos meus avós.
As notícias da catástrofe, contudo, varriam o país, e a estupefacção e penalização eram gerais.
Hoje, já não conseguia situar no tempo, com exactidão, essa calamidade. Já estive no local há alguns anos, e no alto desse pico, numa Serra que amo, cujo horizonte se perde muito além do olhar e onde apenas as aves se escutam e a brisa perpassa, prestei silenciosamente uma homenagem simbólica a esses bravos jovens, que um dia, lá muito atrás, tiveram com a morte um encontro marcado para esse lugar !...
Um amigo, sintrense de naturalidade e de coração, publicou contudo, um texto tocante que, com a sua autorização, e a minha gratidão, agora aqui transcrevo.
Ele, que foi e é, testemunha viva de uma ferida sangrante que dilacerou para todo o sempre, a sua terra !...
" AINDA FOI ONTEM "
" Para mim, sim foi ontem e também para todos aqueles que
incrédulos, assistiram a três dias que mais eram noites com labaredas e fumo
intenso, que parecia mais o inferno de Dante, que a tranquilidade e bonança do
clima daquela Serra, que hoje é património da humanidade : o Monte da Lua, a
Cynthia, a Serra de Sintra, com o seu
arvoredo, as suas paisagens idílicas e palácios tão imortalizados na literatura, e que atraem milhares de pessoas.
Passaram cinquenta e três longos anos, no combate a esse grande
flagelo. Lá, morreram então, vinte e
cinco jovens soldados, sediados em Queluz no aquartelamento de Artilharia Anti-Aérea Fixa, que em desespero, rodeados pelas chamas, se refugiaram numa mina de água, nos Capuchos.
Ironia dramática do destino ! Inexperientes, sem meios ou preparação para o
combate a um flagelo daquelas dimensões,
lá viriam a sucumbir ...
A sua memória está hoje preservada em vinte e cinco cedros
plantados no local, e os seus nomes estão
inscritos num memorial rochoso, no alto da Serra que lhes deu morada eterna
...
Mas principalmente, está na mente e no coração das pessoas
que não esquecem o seu sacrifício.
Sintra aprendeu a dura lição ...
Eu tinha treze anos, assisti na base da Serra,
na quinta dos meus pais, ao drama, escutei as pessoas e vi a sua impotência...
Sou uma das muitas memórias vivas, que acompanhou e transmite o que se viveu.
E porque sigo de
perto a política local, assinalo, por ser verdade, a existência de uma grande
preocupação em prol desse legado que é a Serra de Sintra.
Como era dito numa antiga propaganda aos relógios Breitling, nós nunca
somos proprietários das coisas, somos simplesmente os cuidadores, para que as
transmitemos nas melhores condições aos
nossos vindouros.
Nesse incêndio as pessoas sentiram a necessidade de, fosse
qual fosse a sua ideologia, maneira de pensar, raça ou género ( como agora fica bonito dizer-se ) preservar este património, que o era também,
da Humanidade !
Foi no tempo do Estado Novo, veio depois a Democracia, passaram diversos partidos pela gestão da
Câmara de Sintra, mas toda esta gente, sem excepções
conhecidas, se preocupou em melhorar, em investir, em prevenir e em
combater as causas, ou as origens deste pavoroso
flagelo.
Ao longo dos anos investiu-se nas novas tecnologias,
principalmente na prevenção. E por isso, hoje, a Serra devidamente
monitorizada, oferece condições de uma segurança contra qualquer foco de
incêndio, que não existiam nesse lamentável dia de um Setembro a “arder” !...
Pois é...... o AMOR de um povo à sua terra, faz milagres como este.
Neste momento, estamos todos confrontados e mobilizados com o problema da Amazónia. Está na hora de
toda a opinião pública mundial exigir a mudança de paradigma... creio.
A Amazónia não é de ninguém ... é património da Humanidade !
Que seja então gestão das Nações Unidas, e não de governos inescrupulosos como os existentes actualmente.
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