domingo, 21 de fevereiro de 2021

"DEPOIS DA TEMPESTADE ... dizem ..."


 

Ontem, como aqui contei, foi um dia de uma tenebrosa tempestade.  A depressão Karim, desta feita, atravessou-nos o país, imbuída de muito más intenções ... 

Precipitação com valores anómalos, vento forte a acompanhar as chuvadas ininterruptas, cheias com prejuízos avultados por vários pontos do país, a orla marítima alterosa, com ondas de mais de dez metros de altura, e outras manifestações de fúria, deixaram se possível, em estado de maior calamidade, a calamidade que já nos cerca !
Hoje, o dia é de sol, no meio de nuvens enoveladas é verdade, mas com muito azul por entre os rasgões.
Não fora o vento desabrido que vai soprando, e isto até daria para animar um pouco.
Parece afinal confirmar-se uma vez mais que "depois da tempestade, a bonança chegará !"

Poderia ser um bom princípio a tomarmos como tranquilizante, na borrasca reiterada que é a nossa vida.  Poderia.  Talvez, bem lá no fundo acreditemos nisso.  As pessoas dizem, admito que sem grande convicção : "calma, que isto vai acabar um dia.  Afinal, sempre tudo o que começa, acaba ... " ou dizem "nem sempre bem, nem sempre mal ..." ou ainda "não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe !"...
As crianças já cansaram de pintar arco-íris com a estafada frase : " Vai ficar tudo bem !" - que também se via por aí, quando todos estávamos menos cépticos e mais animaditos.
Só que neste momento acho que não há santo que nos salve. Até o vocabulário se ajeitou à situação.  
Hoje, num telejornal colocaram a seguinte questão a um médico psiquiátrico :" Faz sentido ou não, falar-se em depressão pandémica ?"
Obviamente que faz, e obviamente acredito não haver uma viva alma que em maior ou menor grau, mais leve ou mais gravosa na sintomatologia associada, a não sinta.
Há dias, também referi aqui, as estatísticas apontarem para mais de sessenta mil pedidos de ajuda na área da saúde mental, por parte dos portugueses, nos últimos meses, tendo existido desde sempre, como é do domínio público, linhas de apoio para o efeito.

A coisa é de tal forma real e preocupante, que foi disponibilizada na Web uma aplicação da Escola de Medicina da Universidade do Minho, que não é mais que uma ferramenta gratuita, direccionada a uma autoavaliação da saúde mental de quem a ela aceder.
É sigilosa e orientadora de cada um, no sentido de alertar, orientar e monitorizar individualmente os sintomas ansiosos e depressivos, fornecendo informação acerca do seu estado.
Promove a divulgação de estratégias a serem utilizadas na área das neurociências, e pretende igualmente "aumentar a literacia em saúde mental, em simultâneo com a automonitorização de sintomas, e a capacitação da população na autogestão da sua própria saúde.
Desta forma, pretende desenvolver-se a consciencialização para a necessidade ( se for o caso ) de recurso a serviços e a profissionais qualificados, de acordo com a maior ou menor gravidade, dos sintomas reportados".
Simultaneamente, cada pessoa tem também acesso a ferramentas de gestão emocional, melhoria do sono e adopção de estilos de vida mais saudáveis, de acordo com Pedro Morgado, investigador e docente da Escola de Medicina e responsável pela equipa que desenhou e desenvolveu a referida plataforma.

Por considerar bem importante esta informação, deixo aqui o sítio onde ela é disponibilizada : saudemental.p5.pt

Claro que já acedi, e claro que, sem surpresas acrescidas, reconfirmei o "autodiagnóstico" que já possuía.  Sem grandes alarmismos, verificam-se sintomas moderados de depressão, com sugestão de uma avaliação consistente por profissionais da área.
Portanto, por aqui nada de novo !

É assim comigo e seguramente com a maioria das pessoas, acredito, porque o ânimo e o estado de espírito que se denota em quase todos, isso denunciam.
Dias idênticos, com recorrência a rotinas que de tão iguais se confundem nas nossas cabeças, tempo excessivo de vivências traumáticas desgastantes, um desconforto acentuado pelo arrastamento temporal de um estadio penalizante, levam à apatia, ao desinteresse, ao cansaço que de psicológico se revela mesmo físico em cúmulo, e a uma incapacidade de conseguirmos transmitir alguma normalidade às nossas vidas.  
Um túnel que não deixa vislumbrar nenhuma luz ainda, um grau de expectativas gorado vezes sem conta, um acreditar que se desfaz a cada dia ... uma esperança que se exaure ... todo este mix explosivo,  embrulhado no medo e na incerteza que continuam a povoar-nos,  levam a uma exaustão, a uma astenia, a limites stressantes que nos sentimos verdadeiramente incapazes de ultrapassar ... em última análise, à doença !

Este é, infelizmente, o meu retrato da nossa realidade.  Não consigo adoçá-lo de nenhuma forma ...

Se  descobrirem  outro,  mais  esperançoso, benevolente  ou  favorecedor,  avisem-me  por  favor !!!

Até lá, só espero que continuem a ver retalhos de azul, mesmo quando as nuvens teimam em não sair bem de cima das nossas cabeças !  Já seria um bom começo !!!


Anamar

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