domingo, 7 de fevereiro de 2021

" RUMO AO ARCO-ÍRIS "

 


Gosto de escrever.  Já o disse quinhentas mil vezes, de muitas e variadas formas ... verbalmente, em prosa ou mesmo em verso.  
Disse-o num poema, há anos, que " escrevo porque respiro ... e escrevo p'ra respirar "...
Irónico portanto, que nestes tempos em que milhões de pessoas pelo mundo, lutam em camas de hospitais p'ra respirarem ... eu queira aqui, neste meu canto, respirar escrevendo, e o não consiga, vezes demais ...

Adorava ter histórias interessantes para contar além das banalidades duma vida cinzentona.
Adorava ter sido uma pessoa sem raízes ou amarras, e ter tido coragem p'ra defender convicções ... que dessas mesmo, sempre duvido.
Adorava ter tido a força e a determinação, só que fosse de um bocadinho dos sonhos que sonho ... sem sair daqui, desta cadeira, essa sim, que parece ter cavado raízes neste chão que piso.
Adorava ser crisálida de borboleta promitente, ou mesmo pena de gaivota livre e solta, em céus sem fronteiras.
Adorava ter a esperança da árvore despida, que trepa ao firmamento, e sabe que se vestirá de verdes esplendorosos, assim que a Primavera espreite.
Adorava ter sido alguém neste mundo, além de mero passageiro de malas às costas em estação vazia, e  que olha o comboio lá longe, dobrando a esquina ...
Adorava ... mas não sou !  Nunca fui.  
Nunca arranquei da vida que me foi escrita à nascença.  Nunca enfunei velas p'ra valer, mesmo com ventos de feição.  Sempre me deixei aprisionar, e estendi os pulsos p'ra que a vida me algemasse ...

Pus no mundo talvez, aquela borboleta que conseguiu ganhar as asas que eu abortei.  Pus no mundo talvez, uma cópia carregada da utopia que me alimentou.  Pus no mundo alguém que transporta em si a coragem e a fé que eu não tive, de dar o murro na mesa, de virar o rumo e a estrada para o lado em que acredita que o sol nasce em cada manhã ...
De ter a esperança, com que o tempo justifica a caminhada ... 
Ainda !...

Mas eu ... eu não fui além disso.
E eu sei do sofrimento e do cansaço de quem esbraceja nas ondas, com a praia ainda distante ...
Eu sei  do descolorido de dias tão cinzentos e frios como estes que me atravessam a alma.
Eu sei da mesmice de mim própria, frente a um "espelho" dia a dia menos generoso.  
Sei que o que andei já não tenho para andar, e também sei que o que tenho para andar se não compadece da idade do coração e da alma.
Porque essa, recusa o determinismo dos dias e recusa a tirania dos tempos.  Essa, põe-me uma mochila de sonhos nas costas, e leva-me madrugada fora para lá, para o lugar onde as pernas não me carregam mais,  mas para onde a vontade, ganhando esta nuvem que aqui passa, seguiria de boleia até ao infinito ... além, onde mora o arco-íris ...

E assim completaria a travessia !...

Anamar

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