quinta-feira, 13 de novembro de 2008

"DE MIM PARA MIM..."

Um dos maiores sinais da perda da inocência e do desencanto que os anos nos vão deixando, é quando num dia de aniversário não conseguimos ver que o sol está mais brilhante, as cores mais vivas e as pessoas particularmente simpáticas.

Quando ao abrir da pestana, naquele meio termo entre o dormir e o acordar, quando ainda nem bem sabemos de que terra somos, onde estamos, que dia é aquele que ora começa, nenhum "clique" se faz de imediato no nosso espírito...então é porque decididamente, já estamos em fase não de fazer, mas de "desfazer" anos...

Quando criança, esse dia é esperado semanas antes, "catrapiscado" vezes sem conta no calendário.
Lembra-se aos professores, aos amiguinhos da escola, a todos a quem se pode.
Imagina-se, com "taquicardia" infantil, a festinha, a festa ou a "festona" que sonhámos e que talvez tenhamos a sorte nos venha a ser prodigalizada.
Já fizemos saber com a devida antecedência, as prendinhas que muito gostaríamos de ganhar...e aquele dia nunca mais chega!! E pior ainda...ocorre só uma vez no ano!!...

Passados anos, quando "teenagers" algo inconscientes, já no tempo em que se combina com meio mundo uma enorme farra, num dos espaços da cidade, mais badalados ( e em que cada um paga o seu), o aniversário passa por um convívio, na mesma mesa primeiro, na mesma pista de dança depois, de copo na mão e no balanço determinado pelo DJ da noite.
Entre dois cigarros, entre a cumplicidade da madrugada, fazem-se e desfazem-se "casos", trocam-se carícias aquecidas pelos copos já consumidos, curte-se o som e o entorpecimento dos corpos, para na manhã seguinte, já não lembrarmos bem como foi...
Já não é mais o tempo do "croquetinho" ou da sandwiche de queijo, da mousse de chocolate ou da baba de camelo... Já não se recebem grandes prendas, e nem é isso que importa, mas sim beijos, abraços, risos, gargalhadas...e uma espécie de promessa circulante de que a vida é mesmo fixe, está todinha à nossa espera e é "bué" importante curti-la...

A "ampulheta" vai sempre andando, ou melhor, vai sempre esvaziando, implacável...e chega o tempo em que a "roda" traz até nós, em mãos pequeninas, a prendinha comprada obviamente pelo pai, e o cartãozinho garatujado com traços imperceptíveis ( a lápis de cor ou feltro), que nós juramos ser lindo e cuja mensagem também juramos entender...ou melhor, "ler" perfeitamente...
Vêm os abracinhos, os beijinhos, e aqueles "penduricalhos" sempre no nosso pescoço..."Parabéns mamã..."
Estamos felizes...Afinal eles, os anos, ainda não são muitos...

E calendários passam sobre calendários...

Dos bilhetinhos com casinhas, sóis de olhos e boca, árvores maiores que as casinhas e corações ainda maiores que tudo...das prendinhas compradas à custa de austera poupança na parca semanada...começam a chegar aqueles aniversários em que no jantar do dia, estão, a prestigiar a mãe, os amigos de longa data, que na circunstância trazem filhos da idade dos nossos.
Passam a noite na outra sala, a conversar outras conversas, a ouvir outra música, enquanto os adultos rodeiam a mesa farta dos doces e bolos, que atravessam as primeiras horas da madrugada.
A "malta", de quando em vez, faz uma "incursão "estratégica" de reabastecimento na sala de jantar, ouve restos das conversas entediantes dos adultos (os casos da actualidade, as últimas da política, do cinema, as preocupações com os novos e os velhos) e regressa à outra sala, até que seja dada ordem de partida, ou seja, o alívio para aquela grande "seca"...
Os anos ainda não pesam, há muito percurso ainda a fazer, não há muitos sobressaltos no horizonte...
A vida decorre de acordo com o "figurino" correcto...

Hoje...a maior parte não está por perto, pelas mais variadas razões.
A maior delas, os percursos "enviesados" que cada um decidiu para si.
Depois, há os que não estão nem estarão nunca mais, pela inevitabilidade do destino.

São os tais dias, em que acordamos no meio do édredon e não temos nenhuma urgência em pular da cama.
Afinal, aquele é só mais um dia, entre os trezentos e sessenta e cinco transcursos...
Não há festa à espera, não há cartõezinhos do colégio, não há prendas surpresa em mãos pequeninas, não há discoteca que nos valha, não há amigos com filhos à roda da mesa dos doces...
Só há tudo isto, em "cassetes" e "cassetes" de recordações...

Aliás...estou a ser tremendamente injusta...
A roda rodou outra vez e girou e girou...e acabamos recebendo um "chamado" urgente de vozinhas outra vez não muito perceptíveis ( com um "ponto" em fundo que dita o discurso)..."Olá...Parabéns vóvó!..."

Aí então, apesar de serem já nove da noite, recordamos que o sol esteve mais brilhante neste dia...as cores estiveram bem mais vivas...e particularmente as pessoas...bom...essas, estiveram de facto super-simpáticas connosco...e não tínhamos lembrado porquê!!!...

Anamar

No dia de hoje, de mim para mim, um presente muito especial..."Maria Bethânia, a diva...e Fernando Pessoa...o Mestre"...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

"A ROLETA DO DESTINO"




Para tudo precisamos ter sorte neste Mundo...

Para se nascer no sítio certo, para não se estar no sítio errado na hora errada, para se ser cão, gato, pessoa...sei lá..

A "estrelinha" que parece acompanhar alguns, parece também relegar ao esquecimento outros tantos.

Não é exactamente igual, ou com similares possibilidades potenciais, nascer-se numa Europa de primeiro mundo, ou numa África enteada... em muitas zonas do continente asiático, ou mesmo em determinados países ou pedaços do continente americano, como sabemos...

Não é exactamente igual nascer-se numa família de um determinado estrato socio-cultural, ou noutra de cariz bem distinto.
E não me refiro especificamente ao acesso mais ou menos fácil a bens materiais, ainda que saibamos, que infelizmente este é determinante.
Refiro apenas, "tout court", a aleatoriedade pura e simples...a "roleta do destino ou do acaso".

Porque afinal, todos poderíamos ter nascido ou pertencido a qualquer lugar.

Esta reflexão impôs-se-me pela observação do vídeo que aqui deixo e que dispensa qualquer comentário...creio. (Obrigada amigo Filipe)

Na era dos "Direitos Humanos", em particular dos "Direitos das Crianças", na era das "Embaixadas da Boa Vontade", promotoras só por si de figuras públicas e por vezes não mais...olhe-se bem a realidade que transparece das imagens que aqui ficam...

Anamar

sábado, 8 de novembro de 2008

"OS QUATRO OITOS" - Evasão

8 de Março de 2008 - 8 de Novembro de 2008 - 8 longos meses...

A "MARCHA DA INDIGNAÇÃO"...8 meses de revolta e exasperação...

hoje chamar-lhe-ei a "MARCHA DA CONSTERNAÇÃO"...


Nesta tarde parda com a ameaça de chuva e um sol fraquinho e envergonhado por entre as nuvens, confirma-se na rua tudo o que nós professores, há muito vimos sentindo.

Não pude estar fisicamente presente, mas aqui do meu sétimo andar, transporto-me com a alma, com o coração, com a raiva e a indignação para junto dos meus companheiros de luta e jornada...

Não vou dizer nada mais sobre o assunto.
É por demais conhecido de todo um povo...Na pele, conhecemo-lo nós.
As palavras estão gastas, os argumentos exauridos, os adjectivos, consumidos...
Até Outubro mais de 5000 professores fora do ensino.
Eu fiquei mais um ano, para que a penalização da reforma antecipada não me seja completamente insustentável...

E o pior...ou o melhor....mas seguramente o mais triste, é que continuo a gostar de dar aulas!!!

Sinto-o todos os dias, face àqueles que legitimo como meus verdadeiros avaliadores...os meus alunos...

Mas não me deixam fazer o que aprendi e sei...
Não me deixam ser PROFESSORA!!!...

Por isso hoje, nesta tarde incaracterística de Outono, estou nostálgica, estou triste, estou amarfanhada por dentro...estou mortalmente magoada...

Não me perguntem o porquê...mas foi-me imperioso rever as imagens que aqui postei, ao som de música igualmente escolhida de acordo com o meu estado de espírito.
Elas têm a delicadeza e a beleza que não enxergo por aqui, têm o equilíbrio que precisamos, têm a paz que nos faz falta...elas projectam-nos a uma evasão com que quero "apagar" a amargura e o cansaço que não deixam a minha alma extenuada dormir...





































Anamar

"O CINTO DE CASTIDADE"

Gosto da Clara.

Encerra em si, tudo o que para mim é invejável...
É inteligente, é frontal, é independente, é uma mulher assumida, é desinibida, autêntica (creio).

É o protótipo da mulher-mulher dos tempos actuais, sem precisar de ser feminista. É a mulher desafiadora, corajosa, segura...
Para além de tudo isso, é uma mulher de ciência, investigadora, cientista, culta, estudiosa...e excelente, clara e interessante escritora...

Não bastando este "bouquet" que francamente me fascina, tem uma carinha "laroca" (nada presumida nem "capa de revista"), expressiva, com que completa aquele "boneco", falso "négligé", mas chique e sóbrio...

Caraças...que Deus Nosso Senhor divide tão mal as coisas!!!...

Bom, mas reconhecendo embora tudo isto, e sem lhe estar a fazer qualquer favor ao dizê-lo, não foi o desfiar de loas que aqui me trouxe.
Foi sim, uma breve reflexão suscitada pela crónica por ela escrita num jornal da nossa praça, e que transcrevo na íntegra.

Chamei "Cinto de Castidade" ao pouco que aqui debito, na medida em que acho que se adequa na perfeição à questão que abordo.

Remete-nos a Crónica de CPC, duma forma "soft" porém irónica, às qualidades e aos defeitos dos avanços tecnológicos, nomeadamente informáticos, com que temos que partilhar as nossas existências.

Qualidades e defeitos, facilidades e intromissões, simplificação e controle, cara e coroa na abordagem, no conhecimento, no "espicular" sem pudores, no devassar despudorado e sem permissão das nossas vidas...

Maravilhamo-nos com a capacidade do homem na criação de "máquinas" cada vez mais perfeitas, rápidas, precisas e sofisticadas, tendentes a simplificar-lhe a vida. Contudo, quais "cintos de castidade", tornam-se afinal em algozes do seu criador, expondo-o, tirando-lhe a privacidade a todos os níveis, comprometendo-lhe sigilos, confrontando-o com um atropelo incontrolável, cerceando-lhe os mais elementares direitos à não exposição da sua pessoa e dos seus percursos.

E queiramos quer não, tudo isso se imiscuiu camufladamente e em surdina nas nossas rotinas, tudo isso coabita connosco (não direi em convívio perfeitamente pacífico, mas assimilado e aceite), tudo isso já não "desgruda" da nossa forma de viver, e o pior é que, apesar dos pesares, já não saberíamos viver sem essas "maravilhas" do "século do electrónico", da "era do virtual"...sem o nosso "abençoado cinto de castidade" dissociado das nossas pessoas...



"Os olhos e os ouvidos do Imperador".......



Crónica de CLARA PINTO CORREIA


"Noutro dia liga-me (via kolmi, evidentemente) o meu filho mais velho, com dezasseis anos, que foi de fim de semana alargado com uns amigos para Madrid.
A conversa não fazia grande sentido para mim, mas para ele de certeza que fazia, dada a enorme decalage que existe hoje entre o português e a gramática usados pelos pais e o português e a gramática usados pelos filhos.

- Mãe, o Multibanco que tu me deste não está bom.

- Não está bom como? Tem funcionado perfeitamente desde que saíste de Lisboa.

- Pois, mas agora estou aqui em Madrid, tenho fome, quero comer, preciso de apanhar a camioneta para Lisboa, e ele não está bom. O bonequinho diz que ele não está bom.

- Ó meu grande inconsciente, e tu por acaso não gastaste já todo o dinheiro que eu pus na tua conta?

-Não, mãe. Juro por Deus.

- Deixa lá Deus descansado.
Não pode ser essa caixa de multibanco que está fora de serviço?

-Ó mãe, mas eu já fui esta manhã a bué caixas, já tentei bué cenas, mas isto deixou de funcionar, tens que ver o que é.

- Então e não podes pedir dinheiro emprestado a um dos teus colegas para umas bolachas e um bilhete de camioneta e a gente cá faz contas e eu, entretanto, tranquilamente, vejo o que se passa?

- Oh mãe, eles já estão os dois sem dinheiro. Só eu é que ainda tinha.

Conseguem convencer-nos de tudo, os nossos filhos.
Eu, que tinha planeado ficar calmamente em casa a trabalhar com as janelas todas abertas para fazerem uma saudável corrente de ar, lá me atravessei pelo meio do calor
da tarde para ir à minha agência.
Com tanto azar, nem o gerente nem o meu gerente de conta lá estavam.
Àquela hora, estava só mesmo um rapazinho estagiário colocado ali durante o Verão.

Mas adiante, bolas, que o meu filho precisa de comer e de apanhar a camioneta.

O jovem estagiário faz-me um grande sorriso e eu lá lhe expliquei a situação misteriosa do cartão que de repente deixou de funcionar em Espanha.
O jovem pede-me o nome do miúdo e o número da conta dele, e depois começa a fazer clics com o rato. Às tantas, depois de inspeccionar atentamente uma página de dados, faz um sorriso daqueles mesmo muito malandros.

-Minha senhora, diz ele, o seu filho não está em Madrid. Está em Portimão.

-O quê? Mas ele telefonou-me de Madrid ainda há cerca de meia hora!

-E como é que a senhora sabe que foi mesmo de Madrid que ele telefonou?

-Então, pois se foi o que ele me disse...

E o estagiário,como se fosse ele que tivesse lições para me dar a mim:

-Mas a senhora não pode ser assim tão crédula com filhos adolescentes de dezasseis anos. Olhe bem para isto.

Vira o monitor na minha direcção e aponta para o final de uma das colunas com a ponta da lapiseira.

-Está a ver estas quatro entradas? São todas de hoje de manhã, e, de facto, a última foi há cerca de uma hora. Quatro multibancos diferentes de onde ele tentou levantar dinheiro, todos em Portimão.
Ontem, olhe aqui. Jantou neste restaurante chamado Superpeixe e pagou uma conta que parece claramente de duas pessoas. Isto confirma-se se formos à compra imediatamente anterior, às 19 do mesmo dia, um biquíni brasileiro da loja Poucaroupa. Aliás, bastaria olharmos para as dormidas: duas noites na pensão Oásis, quarto duplo, cama de casal. Ah, e repare no bilhete de camioneta que ele comprou na sexta-feira: está
aqui claramente indicado que é de ida e volta.
E oiça, minha senhora, não se passa nada de errado com o multibanco dele. O rapaz apenas já gastou todo o dinheiro que a senhora lá pôs para ele. Mas tem um bilhete para voltar hoje ao fim da tarde. Se lhe veio com essa conversa, provavelmente é porque ainda quer comprar mais uma prenda de luxo para a namorada antes de se virem embora.

-Qual namorada?

-Então, minha senhora? Cama de casal numa pensão, biquinis brasileiros, jantarinhos para dois...é evidente que o seu menino foi visitar uma namorada a Portimão e lhe contou uma história sobre ir com dois amigos a Madrid!

Bom. Claro que o meu rapaz ouviu ali pela medida grande.
Mas a mim, francamente, o que me incomoda não são estas patetices de manual que os rapazes fazem. O que realmente me incomoda é pensar que, hoje em dia, até um estagiário de um banco, com pouquíssima informação à partida, pode em dez minutos saber precisamente onde estamos, onde estivemos, o que é que fizemos, tirar ilações e fazer juízos de valor. É o lado escuro do admirável mundo novo electrónico, em que todos tendemos a não pensar, mas com o qual todos perdemos completamente a privacidade."

Anamar

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A "CULPA" FOI DO ÓSCAR...



Já aqui não vinha havia dias...
Muita coisa ao mesmo tempo,culminando num problema de saúde meu, agravado por um problema de saúde do Óscar.

O Óscar está comigo há catorze anos...
Veio, contrariando vontades e convicções dos então presentes.
Veio, tinha ainda os olhos bem azuis, pêlos mal nascidos, um rabo de menos de dez centímetros, para um corpo de menos de vinte.
Cabia numa cesta de farnel de escola, era azougado e brincalhão, imparável e curioso e já mordia...com aquilo que prometia ser uma dentadura feroz...

O Óscar veio para ficar...e eu concedi-lhe o "privilégio" de atravessar comigo, períodos determinantes e significativos da minha estória...
Adoptou-me também, à "sua moda".
Adoptou-me ao ponto de nunca se abster de, quando lhe aprazia, me ferrar a unha ou me "trincar" (com o "amor" maior que conseguia), os tornozelos ou a barriga das pernas...

Aprendeu a "conversar" comigo, ou "aprendeu" a ouvir-me e a olhar-me incrédulo, quando só está ele p'ra me ouvir, ou quando só ele pode lamber lágrimas que me escorram pelas faces.
Aí, o seu miado tem um timbre de entendimento ou uma denguice de conforto e carinho.
Ainda assim, o Óscar altivo, independente e individualista perdura, e nem sempre cedeu às expectativas nele colocadas, de "amparo" e afeição...
Só quando queria...gato é assim mesmo...

O Óscar está velho.
O seu "prazo de validade" está a esgotar-se, com a rapidez com que perde as suas capacidades.
Olha para o alto do armário onde dormiu belas sestas e para onde saltava, atravessando em voo a cozinha, desde o cimo do frigorífico, na parede oposta.
Olha, mas já não experimenta sequer tentá-lo...
Olha, mas já o não divisa bem, pelo meio das cataratas que lhe afectam os olhos, agora amendoados...

Não faria por certo, recuar como há anos, um pastor alemão que lhe surgiu inesperado.
Não treparia ao alto dos pinheiros ou "compraria" brigas com gatos inteiros, pelo meio dos pinhais...

O Óscar ficou doente, muito doente, imprevisivel e injustamente doente.
Devia saber que não tinha nada que fechar "para obras"...muito menos equacionar bater em retirada...Logo ele, que nunca foi disso, nem conheceu medo ou cobardia...

Foi intervencionado, numa operação que tinha tudo para poder ser fatal, até porque o coração também não está a querer ajudá-lo...
Bem conversei com ele na véspera e lhe expliquei ao ouvido, que agora é que tinha que ser valente...que agora é que tinha que ser campeão...que não podia "ir-se embora", assim, sem mais nem menos, e deixar esta casa ainda mais vazia...
Não seria coisa de Óscar, mas sim de um "cobardolas" que eu sei que ele nunca foi...

O meu sono desarranjou-se todo...o meu estômago também...quase uma semana a água e chá preto...
Mas o Óscar foi e veio daquela mesa de operações; e tendo embora uma sutura de mais de vinte pontos, e não tendo este tumor, mas podendo dele ter mais metástases no corpo, portou-se de acordo com o seu estilo...não capitulou, não deu confiança à desgraça, não defraudou a minha expectativa, não gorou a minha confiança...
O Óscar está velho...não justifica o investimento em tratamentos mais agressivos...mas ainda é o Óscar!

As eleições americanas decorreram entretanto.
Obama felizmente venceu-as...
" É jovem", "é garboso", "é bem apessoado", "atlético", "está cheio de ideias e capacidades"...
"Simboliza a renovação contra a estagnação", "é capaz"..."pode"...
Tudo isto foi dito e repetido até à exaustão. Isto foi pedra de toque na análise da sua figura.
Concordo também...como não?!...
Ser jovem é que é vendável... Ser jovem, é só por si, meio garante de capacidade, possibilidade, conhecimento, poder...futuro!
Ser jovem é ser bonito, "elástico", "bem-cheiroso"...

Fala-se na experiência de vida, na maturidade, no "know-how"...
Fala-se da sabedoria, da acumulação de aprendizagens e conhecimentos (dados por uma vida vivida), dos velhos...ou dos "menos jovens"...

Uma pinóia!...

Ser velho, é o passaporte para o afastamento da sociedade, para a marginalização aos diferentes níveis (pessoal, familiar, profissional, social).
É um bilhete de segregação ou ostracização passado pelo mundo.
É um atestado de desvalorização, um semáforo alertando à complacência, ao "encolher de ombros", ao descaso dos demais...porque, afinal, esse indivíduo (que até foi "bom", até foi capaz, até deu provas, até deu a sua prestação válida...)ficou velho...aproximou-se do "fim do prazo".
Tornou-se "invisível"(quase sempre), passou a "incomodar" quando resolve pensar que ainda é novo, "estorva" se acha que ainda tem "lugar", "cansa" quando repete dez vezes as mesmas coisas, fica "impertinente", "ridículo", se se concede "direitos" atribuíveis aos novos.

As duas fases da vida...

Na primeira, ganha-se, conquista-se, pode-se, rema-se contra ventos e marés implacáveis.
Na primeira, tudo ou quase tudo se adquire... a família, os amigos, os êxitos, os amores, os sonhos, os creres...
Na primeira, é-se belo, escorreito, perspicaz, inteligente, sagaz, lutador...
mas também reconhecido, valorizado, desejado...aceite e solicitado...

Na segunda, tudo ou quase tudo nos escapa das mãos...
Os pais deixam-nos órfãos, os familiares vão indo, os filhos partem à vida, os amores, na grande generalidade fazem malas, porque nunca são p'ra vida inteira...as realizações pessoais passam p'ra gaveta das recordações, os "vinis" que não acompanharam as tecnologias, bafiam nas prateleiras, os sonhos que não realizámos remetem-se à galeria de tudo o que não chegou a ser...as fotografias com que nos "embrulhamos" em desespero, nunca mais trazem o que com elas queríamos reacordar...
Só os livros nos são fiéis, porque as letras ficam lá, mas nem a forma com que os dissecamos é a mesma, porque os nossos olhos também não...
Até o sol parece estar sempre a descer no nosso horizonte...

E a injustiça é de tal monta, que até os Óscares das nossas vidas (se nos apanham distraídos), resolvem tentar desertar!!...

Anamar

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

"O SEU A SEU DONO..."

Bom...este mini, micro...post é simplesmente a reposição de alguma justiça.

De facto, humildemente devo penitenciar-me em relação à "figura" em causa, que por mérito , serviços prestados, etc, etc...deveria ter por mim sido incluída por direito, na galeria das figuras do Halloween....escolhida com tanto cuidado, que acabei esquecendo o "expoente máximo"!!!!

Exorto os meus leitores a reverem o post anterior, porque, pelo menos, assim sentir-me-ei menos mal!!!

Devo acrescentar que "quem" fez luz no meu espírito (de alguma forma indirectamente me chamando a atenção por esta omissão), foi alguém "anónimo" que comentou o meu post, e que tal como eu, conhece os "sortilégios", as "magias", as "mal-feitorias", as "macumbas", as "bruxarias" e toda a panóplia de "capacidades" desse ilustre "DECANO DA BRUXARIA"...

Já posso dormir em paz...porque finalmente atribuí "O SEU A SEU DONO"!!!!!!!

Anamar

"HALLOWEEN"



Comemora-se hoje o "DIA DAS BRUXAS", mais uma data "importada" não haverá seguramente muito tempo em Portugal.
Eu, pelo menos, não lembro, enquanto criança ou jovem, que esse dia, entre nós tivesse alguma expressão.
Que alguém me corrija, se estiver errada...



A palavra Halloween tem origem na Igreja católica. É um dia católico de observância em honra de santos, dia de "Todos os Santos".
Mas, no século V DC, na Irlanda Céltica, o verão oficialmente terminava em 31 de Outubro. O feriado era Samhain, o Ano novo céltico.
Alguns bruxos acreditam que a origem do nome vem da palavra hallowinas - nome dado às guardiãs femininas do saber oculto das terras do norte (Escandinávia).



Assim, o Halloween marca o fim oficial do verão e o início do ano-novo.
Celebra também o final da terceira e última colheita do ano, o início do armazenamento de provisões para o inverno, o início do período de retorno dos rebanhos do pasto e a renovação de suas leis.
Era uma festa com vários nomes: Samhain (fim de verão), Samhein, La Samon, ou ainda, Festa do Sol.
Mas o que ficou mesmo foi o escocês Halloween.
Uma das lendas de origem celta, fala que os espíritos de todos que morreram ao longo daquele ano voltariam à procura de corpos vivos para possuir e usar pelo ano que ora se iniciava.
Os celtas acreditavam ser a única chance de vida após a morte, e acreditando em todas as leis do espaço e do tempo, isso permitiria que o mundo dos espíritos se misturasse com o mundo dos vivos.
Como os vivos não queriam ser possuídos, na noite do dia 31 de Outubro, apagavam as tochas e fogueiras de suas casa, para que elas se tornassem frias e desagradáveis, colocavam fantasias, e ruidosamente desfilavam em torno das habitações, sendo tão destrutivos e ruidosos quanto possível, a fim de assustar os que procuravam corpos para possuir...
Os Romanos adoptaram as práticas célticas, mas no primeiro século depois de Cristo, abandonaram-nas.
O Halloween foi levado para os Estados Unidos em 1840, por imigrantes irlandeses que fugiam da fome que grassava no seu país, passando então esse dia a ser conhecido como o "Dia das Bruxas".

Travessuras ou Gostosuras?(Trick-or-treat)


A brincadeira de "doces ou travessuras" é originária de um costume europeu do século IX, chamado de "souling" (almejar).
No dia 2 de Novembro, Dia de Todas as Almas, os cristãos iam de vila em vila pedindo "soul cakes" (bolos de alma), que eram feitos de pequenos quadrados de pão com groselha.
Por cada bolo que ganhasse, a pessoa deveria fazer uma oração por um parente morto do doador.
Acreditava-se que as almas permaneciam no limbo por um certo tempo após sua morte, e que as orações ajudavam-nas a subir para o céu, alcançando a paz.
Abóboras e velas: Jack O'Lantern (Jack da Lanterna)
A vela na abóbora provavelmente tem sua origem no folclore irlandês.
Conta a lenda que um homem chamado Jack, um alcoólatra grosseiro, em um 31 de Outubro bebeu excessivamente, e o diabo veio buscar sua alma.
Desesperado, Jack implorou por mais um copo de bebida, e o diabo concedeu-lhe o pedido.
Jack estava sem dinheiro para o último trago e pediu ao Diabo que se transformasse numa moeda. O Diabo concordou e mal vê a moeda sobre a mesa, Jack guardou-a na carteira, que tinha um fecho em forma de cruz.
Em desespero, o Diabo implorou-lhe que o deixasse sair, mas Jack propôs-lhe um acordo:libertá-lo-ia em troca de ficar na Terra por mais um ano inteiro.
Sem opção, o Diabo concordou.
Feliz com a oportunidade que lhe fora concedida, Jack resolveu mudar o seu modo de agir e a sua conduta de vida.
Começou a tratar bem a esposa e os filhos e a praticar obras de caridade.
Contudo a mudança não durou muito tempo...
No ano seguinte, na noite de 31 de Outubro, Jack estava a regressar a casa quando o Diabo lhe apareceu.
Jack, esperto como sempre, convenceu o diabo a pegar uma maçã de uma árvore.
O diabo assim fez e ao subir no primeiro galho, Jack pegou num canivete e com ele desenhou uma cruz no tronco.
Com isto, o diabo prometeu partir por mais dez anos, mas Jack ordenou ao diabo que nunca mais o aborrecesse. Ele aceitou e Jack libertou-o da árvore.



Para seu azar, um ano mais tarde, Jack morreu.
Tentou entrar no céu, mas a sua entrada é negada. Sem alternativa, vai para o inferno. O diabo também não lhe permite a entrada, mas com pena da sua alma perdida, o diabo deu-lhe uma brasa para que Jack pudesse iluminar seu caminho pelo "limbo".
Jack pôs a brasa dentro de um nabo para que durasse durante mais tempo e foi-se embora sem ter paz.
Por essa razão, os nabos na Irlanda eram originalmente conhecidos por "lanternas de Jack".
Quando os imigrantes vieram para a América, verificaram que as abóboras eram muito mais abundantes que os nabos, e por isso, na América, passou a ser uma abóbora iluminada com uma brasa, o símbolo da alma penada de Jack (Jack O'Lantern).
Diz-se que quem está atento, vê uma luzinha fraca na noite de 31 de Outubro e que é o Jack procurando um lugar de paz..
Os nabos na Irlanda eram usados como seu "lanternas do Jack" originalmente. Mas quando os imigrantes vieram para a América, eles acharam que as abóboras eram muito mais abundantes que nabos. Então o Jack O'Lantern (Jack da Lanterna), na América, era em uma abóbora, iluminada com uma brasa.



Bruxas
As bruxas têm papel importantíssimo no Halloween.
Não é à toa que ele é conhecida como "Dia das Bruxas", em português.
Segundo várias lendas, as bruxas reuniam-se duas vezes por ano, durante a mudança das estações: no dia 30 de Abril e no dia 31 de Outubro.
Chegando em vassouras voadoras, as bruxas participavam de uma festa chefiada pelo próprio Diabo.


Lançavam maldições e feitiços em qualquer pessoa, transformavam-se em várias coisas e causavam todo tipo de transtorno.
Diz-se também que para encontrar uma bruxa era preciso colocar suas roupas do avesso e andar de costas durante a noite de Halloween.
Então, à meia-noite ver-se-ia uma bruxa!...
A crença em bruxas chegou aos Estados Unidos com os primeiros colonizadores. Lá, ela espalhou-se e misturou-se com as histórias de bruxas contadas pelos índios norte-americanos e, mais tarde, com as crenças na magia negra trazidas pelos escravos africanos.



O gato preto
O gato preto é constantemente associado às bruxas.
Lendas, dizem que bruxas podem transformar-se em gatos e algumas pessoas acreditavam que os gatos eram os espíritos dos mortos.
Muitas superstições estão associadas aos gatos pretos. Uma das mais conhecidas é a de que se um gato preto cruzar o nosso caminho, deve voltar-se pelo caminho de onde se veio, pois se não o fizermos, o azar cairá na nossa vida.



Halloween pelo mundo
A festa de Halloween, na verdade, corresponde ao Dia de Todos os Santos e ao Dia de Finados, como foi assimilada pela Igreja Católica para apagar os vínculos pagãos que estavam na origem da festa.
Os países de origem hispânica comemoram o Dia dos Mortos e não o Halloween.
No Oriente, a tradição é ligada às crenças populares de cada país.

Espanha
Como em Portugal, comemora-se o Dia de Todos os Santos no 1º de Novembro e Finados no dia seguinte.
As pessoas usam as datas para relembrar os mortos, decorando os túmulos e as lápides das pessoas que já faleceram.



Irlanda


A Irlanda é considerada como o país de origem do Halloween. Nas áreas rurais, as pessoas acendem fogueiras, como os celtas faziam nas origens da festa e as crianças passeiam pelas ruas dizendo o famoso “tricks or treats” (doces ou travessuras).

México

No dia 1de Novembro comemora-se o Dia dos Anjinhos, ou Dia dos Santos Inocentes, e é quando as crianças mortas antes do baptismo são relembradas.
O Dia dos Mortos (El Dia de los Muertos), 2 de novembro, é também bastante comemorado no México.
As pessoas oferecem aos mortos aquilo que eles mais gostavam: pratos, bebidas, flores.
Na véspera de Finados, família e amigos enfeitam os túmulos dos cemitérios, e as pessoas comem, bebem e conversam, esperando a chegada dos mortos na madrugada.
Uma tradição bem popular, são as caveiras doces, feitas com chocolate, massapão e açúcar.

Tailândia
Nesse país, existe o festival Phi Ta Khon, comemorado com música e desfiles de máscaras acompanhados pela imagem de Buda.
Segundo a lenda, fantasmas e espíritos andam entre os homens. A festividade acontece no primeiro dia das festas budistas.

Alguns significados simbólicos


a abóbora
: simboliza a fertilidade e a sabedoria

a vela: indica os caminhos para os espíritos do outro plano astral.


o caldeirão
: fazia parte da cultura - como mandaria a tradição. Dentro dele, os convidados devem atirar moedas e mensagens escritas com pedidos dirigidos aos espíritos.

a vassoura: simboliza o poder feminino que pode efectuar a limpeza da energia negativa.
Associa-se-lhe o "meio de transporte" das bruxas.

as moedas: devem ser recolhidas no final da festa para serem doadas aos necessitados.


os bilhetes com os pedidos
, devem ser incinerados, para que os pedidos sejam mais rapidamente atendidos, pois elevar-se-ão através da fumaça.

a aranha - simboliza o destino, e o fio que tecem suas teias, o meio ou o suporte para seguir em frente.

o morcego - simbolizam a clarividência, pois vêem além das formas e das aparências, sem necessidades da visão ocular.
Captam os campos magnéticos, pela força da própria energia e sensibilidade.

o sapo - está ligado à simbologia do poder da sabedoria feminina, símbolo lunar e atributo dos mortos e de magia feminina.

gato preto - símbolo da capacidade de meditação e recolhimento espiritual, autoconfiança, independência e liberdade. Plena harmonia com o Unirverso

Cores:
Laranja - cor da vitalidade e da energia que gera força. Os druídas acreditavam que nesta noite de passagem para o Ano Novo, espíritos de outros planos aproximavam-se dos vivos, para vampirizar a energia vital encontrada na cor laranja.
Preto - cor sacerdotal das vestes de muitos magos, bruxas, feiticeiras e sacerdotes em geral. Cor do mestre.
Roxo - cor da magia ritualística.

Anamar

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

"TRISTEZAS" DESTA VIAGEM OU A "POBREZA" DO MEU "QUINTAL"...



Hoje estou um pouco perplexa, "piursa", possessa, furibunda, "desarticulada das ideias"... por ainda estar num residual estado de choque...

Hiperbolizo, óbvio, mas a fúria não está hiperbolizada...juro!

Tive esta tarde uma consulta médica, e enquanto pacientemente aguardava na sala de espera a ordem p'ra avançar, resolvi deambular os olhos por aquela normal profusão de revistas indistintas com que os médicos nos "presenteiam", para que, distraídos, os doentes não consciencializem de quanto já estão atrasados em relação à hora marcada.

Aleatoriamente caiu-me em mãos, da amálgama de revistas "cor de rosa" (que só leio ou nos consultórios ou no cabeleireiro), uma famigerada, cujo nome felizmente não retive, tendo retido isso sim, a páginas tantas, a seguinte frase dita com "pompa e circunstância"(como se uma máxima filosófica ali estivesse a expressar-se) : "Qualquer português tem o direito de se sentir orgulhoso de pertencer a um povo, cuja classe alta dispõe de senhoras tão bonitas e elegantes"...(sic)
O título para esta delonga era "Orgulho", e esta frase salientada de um texto longo, a propósito e dentro do estilo - "Portugal Chique - Gente diferente" (Capítulo XI), o que me pressupõe a existência para trás, de mais dez dentro do mesmo calibre...

Não fora a frase só por si já me deixar "doente" (estava no sítio certo afinal...Um consultório médico!!), e ainda o que li em diagonal no texto, quase me mata!

"À partida todos somos iguais. Mas alguns marcarão sempre a diferença"...""Definir o colégio onde estudarão os filhos foi sempre uma prioridade para qualquer progenitor, que ambicione para a sua prole, o mesmo percurso que ele próprio. Nos anos 60 e 70, era frequente encontrar nos melhores estabelecimentos de ensino ingleses ou suiços, alguns portugueses privilegiados, cujos pais preferiam uma maior abertura ao exterior que a protagonizada no ensino oficial. De pequenino se torce o pepino, sendo ainda hoje visível a diferença entre quem frequenta o liceu público ou o colégio privado"...

Fazia-se depois a apologia da "gente chique", suas vidas requintadas, seus casamentos dentro de clãs ou "pares", suas festas, toilettes, o desfile dos nomes colunáveis ou muito "In", os locais frequentados e "frequentáveis"...etc, etc...

O estômago embrulhar-se-ia, penso, a qualquer um que não sendo "deslumbrado", tenha a consciência exacta do país em que vive...
Eu acho que até mesmo os mais resistentes "iluminados da Gilamp", ou os mais "excêntricos do Euro-milhões", não aguentariam sem náuseas tal leitura...

Eu sei que esta "literatura" de cordel, estes "pasquins" de vão de escada, são consumidos por sectores bem referenciados da nossa sociedade...e também, ninguém me coagiu a ler tal artigo...Mas foi superior a mim!
A indignação assaltou-me e disparou em exponencial, na proporção em que os olhos se me arregalavam e as pulsações aceleravam...
Eu estava incrédula, possessa, absolutamente possessa!!!

Que insulto mais gratuito a todo um povo sim (que poderá sentir-se orgulhoso ou não), neste Portugal que não lhe arranja emprego, que não garante a sua segurança a nenhum nível, que não lhe cuida da saúde, que não o assiste em conveniência na educação, que o desmotiva, que não respeita a sua dignidade, o empobrece ao mais profundo limiar, que não lhe abre perspectivas de vida e o obriga de novo a emigrar, que lhe desestrutura socialmente famílias...que não lhe ajuda a tratar dos seus velhos...que lhe prostitui intelectualmente os seus jovens!!...

Oh alminhas!!! Por favor...de futebol, telenovelas, "Verdades ou mentiras" "Fiéis ou infiéis", "Quintas de celebridades", "Big Brothers", "Tardes da Júlia", doses e doses de "Morangos..." e outras cabotinices parecidas, temos que chegue!

De Cinhas, Lilis, Merches, Soraias, Dianas, Bibás, Saras, Dânias...Tuxas e Pituxas, Elsas ou Lucianas (de "Heidi" a mulher fatal), "tias" e sobrinhas...
de "turmas" de mortas de fome, pavoneando jóias das lojas dos chineses, ou "roupinhas" emprestadas p'ra promover boutiques...por Deus...estamos (estaremos? ) fartos!!

Não alienem mais este pobre país, já tão maltratado...
Não acenem com valores balofos e ludíbrios descarados de vidas fáceis, aos jovens desta terra!...
Não promovam como louváveis, desejáveis e defensáveis, todas as vidas "cinco estrelas" das "pseudo-socialites" de trazer por casa!...
Não aliciem as nossas jovens "enfiando-lhes" p'los olhos dentro, gente "promovida"(??!!) pela media, de formação duvidosa, promocionada unicamente pelos "dotes" físicos...(com a gravidade de que tudo isso é passado subrepticiamente, numa "pseudo" e intencional naturalidade)!...
Não usem despudoradamente o vazio mental e a ingenuidade, de quem muitas vezes ainda não tem maturidade, formação ou cultura, para distinguir o certo do errado, o genuíno do falso, o "gato da lebre"...
Não casem e descasem, semana sim, semana não...não tirem e ponham silicone nas mamas de todas essas "tristes"(que nem percebem como, e porque as usam!...), só para "vender!!...
Chega a ser criminoso...porque afinal é tudo isto que "factura" neste pobre país...nesta sociedade de "meia tigela", numa época de maior tristeza, alienação, desistência e cinzentismo!!!

Poderia ser mais exaustiva, mas p'lo menos, apesar das quase quatro e meia da manhã, talvez possa agora dormir mais pacificamente, porque "lavei um pouco a alma"...

Eu sei que esta nossa "viagem" vai encerrando em si, algumas tristezas p'lo caminho!...
Agora, confrontar-me uma vez mais que com esta "pobreza" no nosso "quintal" nunca mais sairemos da cauda da Europa...bom, não sei mesmo se no que me resta desta noite, não terei pesadelos acrescidos!!!!...

Anamar

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

"A PARAGEM..."





"Por vezes a paragem é a etapa mais importante da viagem..."

Neste fim de semana confrontei-me com esta frase, em jeito de "cartão de visita" de um filme em exibição nas nossas salas de cinema.
Ainda o não fui ver, tenciono ir, também porque esta frase (ao lê-la no cartaz afixado), fez um "clique" estranho na minha cabeça...
Com "fazer clique", não quero dizer que ela me tivesse surgido como se de uma descoberta se tratasse...
Não! "Fazer clique" significou exactamente que me perturbou, mexeu comigo, me fez parar.
Obrigou-me a lê-la compulsivamente várias vezes, tentando "senti-la"... e não me saiu da cabeça...; digamos que se me "colou" e não desgrudou mais.
Deambulando pela sala com os cartazes expostos, flagrei-me a "encompridar" os olhos para a dita, como se ela me "piscasse" lá do fundo e de alguma forma me tivesse magnetizado.

Quando em miúda viajava com os meus pais de comboio, (porque sempre foi de comboio ou autocarro que o fizemos por nunca termos tido carro próprio), as paragens eram auspiciosamente desejadas e aguardadas, como momentos em que a pausa permitia um abastecimento de sandwiches, bolos, bebidas, ou, com sorte, alguma "lambarice" para a pequenada que ansiosamente ficava à janela do comboio.

O meu pai descia sempre, no ritual da "paragem" e depois ficava junto ao estribo da porta, pé em cima, pé em baixo, na gare da estação.
Subia (ele e os outros passageiros que também por ali apanhavam ar no exterior ou fumavam um cigarro), só quando o chefe da estação (devidamente uniformizado e com um boné de pala que me fascinava...até porque aquele nem era polícia nem nada...), desenrolava a bandeirinha verde que trazia debaixo do braço e tocava uma corneta anunciando a nova etapa que tínhamos pela frente.

Aí, o comboio (às vezes ainda a carvão ), largava para o ar a bafurada "encardida" da chaminé fumegante e aquele apito rouco e estridente (qual paquete a largar o porto) e arrancava...
Primeiro, devagarzinho (o que permitia que os passageiros mais retardatários voltassem a subir para a plataforma, já com ele em andamento, acabando com a angústia dos mais pequenos, que sempre achavam que poderiam ficar "órfãos" de pai, ali mesmo naquela estação)...
Depois, lentamente...aumentava o ritmo, naquela "pouca-terra"..."muita-terra"..."pouca-terra"..."muita-terra"...



Anos mais tarde, de filhas a bordo, em carro próprio, naquelas "odisseias" de seis ou sete horas de viagem Lisboa-Beira Alta, Natais, Páscoas, Verões...pela famigerada estrada (única existente, que ao tempo, fazia as vezes da nossa A1...), também a paragem (não nas áreas de serviço, obviamente, mas em locais estratégicos para se comerem uns bons panados, arroz de tomate, leite creme e quejandos...), era reivindicada em ânsias...
Até porque as "precisões" de cada um, sobretudo da criançada que não aguentava os apertos biológicos, ditavam lei...

Anos ainda mais tarde, novas "paragens" me aguardavam nesta "auto-estrada de altíssima velocidade" que encaro por cada dia que o sol nasce...
Certamente paragens não tão gostosas...não tão gratificantes...sem vitualhas, sem doces, sem chefes de estação, sem o meu pai na gare...sem eu ser criança ou sequer já transportar crianças comigo...

"Paragens" necessárias, paragens impostas, inevitáveis, paragens não apetecidas por vezes, não desejadas quantas outras!...
Sobretudo algumas delas...paragens de fim de linha...em que o carril terminava e não havia mais percurso a fazer-se...mas ainda...paragens!...

Foram-no também, na maior parte das vezes, a etapa mais importante da viagem, de facto...

Nessas paragens fiz novas "agulhas"...inverti marchas, contornei percursos, reabasteci de combustível...às vezes pedi "informações" de rotas e itinerários, quando por perto alguém mos sabia dar...

Ou então, foram apenas paragens de encostar mesmo, à sombra de um chaparro no meu Alentejo e procurar um qualquer horizonte que fosse horizonte...quando parecia que eu já não tinha nenhum pela frente...
Ou tentar descortinar uma "estrada" menos agreste, mais generosa, para quem chega exausta e meio perdida...


Paragens, paragens, paragens...

Elas continuarão por certo...(elas integram a própria jornada, elas corporizam a dinâmica da viagem)...até à derradeira...

"A tal", que não sabemos em que estação, apeadeiro, área de serviço ou árvore de beira de estrada, nos aguarda e que certamente não falharemos...

Anamar

sábado, 25 de outubro de 2008

"A VERDADEIRA MONTANHA RUSSA" - COISAS DE MULHERES



Encontrei inesperadamente na rua, uma amiga que já não via há "séculos"...

Fôramos amigas durante anos e anos, cúmplices dos amargos e doces da vida...partilháramos sonhos, angústias, fragilidades, certezas e inseguranças... enfim, aquelas coisas profundas ou frívolas da vida de uma mulher...

Dividíramos horas de Faculdade, "varáramos" noites em estudos de cadeiras "chatas", puxando uma pela outra quando o sono teimava em fechar a pestana; secáramos algumas/muitas lágrimas nos primeiros desgostos de amor, no insucesso de um ou outro exame menos feliz... mas também soltáramos muitos risos e gargalhadas (pelas vitórias alcançadas)...quando elas ainda se soltavam fácil, bem cá de dentro, por a vida ser leve e as responsabilidades não excessivamente agressivas.

Mais tarde, partilhámos também filhos, nascidos contemporaneamente, êxitos e inêxitos da vida deles, as suas primeiras "graças", os sarampos e as amigdalites, o sucesso ou não das suas vidas escolares, a entrada nas suas vidas de adultos...

Emprestámos ombros... quando amputadas pelos desgostos à séria com que o destino nos atropelou, pela morte de entes muito queridos...

Ambas com percursos paralelos, próximos; ambas sem preocupações acrescidas...porque a vida correu mansa, estranhamente cinzenta, estranhamente amorfa, estranhamente não vivida, também para as duas...



Essa mesma vida encarregou-se de nos separar por razões familiares e profissionais, e o tempo e o afastamento que sempre são "carrascos", foram-no de facto, e a separação física, acrescentada à "loucura" que sempre constitui a existência de cada um, foram determinantes para que nos perdêssemos.

Quando nos revimos hoje, éramos quase duas estranhas que se aproximaram...para nos reidentificarmos segundos depois...
A amizade tem destas coisas mágicas...a verdadeira amizade tem o condão de reabilitar, reafirmar e reerguer num esfregar de olhos, os "cordelinhos" invisíveis que sempre ligam quem se quer bem.

E aquilo em que a tarde se transformou foi inimaginável...

As horas passavam e a "torrente" jorrava, jorrava e jorrava...inesgotável, como se quiséssemos colocar o passado no presente, naquela mesa de café...
E como havia urgência em nos contarmos como foi, como havia sido, como havíamos sentido, como reagíramos, como acreditáramos, como choráramos, como ríramos, como desistíramos para nos levantarmos depois, como sofrêramos, como também fôramos felizes, cada uma do seu jeito, cada uma na sua "estória"...outra vez parecidas, coladas uma vez mais!!...

Queríamos contar-nos como tinham sido os primeiros cabelos brancos, os primeiros sulcos a espreitar traiçoeiramente no espelho à nossa revelia, a primeira mágoa, quando o braço já não tinha tamanho para nos deixar ler as letras do jornal no café da manhã...

Queríamos "trocar" como fora assumir a perda da ingenuidade do percurso...como é a preocupação presente, quanto ao futuro dos nossos "velhos"...como é o frémito gostoso que nos invade, num misto de curiosidade, deslumbramento, orgulho, expectativa e esperança ao ver as gerações que aí estão a dar-nos continuidade...

Queríamos dizer-nos como doem as "mazelas" deixadas pelas cicatrizes que nenhuma plástica já resolve...por serem cicatrizes da alma...

Queríamos partilhar como é a angústia que sentimos, ao contabilizar todos os dias os recursos económicos de que dispomos hoje, nós, para quem, feliz ou infelizmente, essa questão era inexistente lá atrás...
queríamos dizer-nos como é, ter de deixar...para "quem sabe comprar qualquer dia", aquele "modelito" que nos provoca, da montra...ou ter de resolver se a consulta de oftalmologia é ou não prioritária à de ginecologia...

Uma "montanha russa"...constatámos...rindo e chorando ao mesmo tempo, frente a um bom copo de vinho branco, bem gelado, para "espantar" os amargores e as nostalgias...
uma "montanha russa" que nos deixa entontecidas, algo cansadas, apreensivas, talvez injustiçadas, pela famigerada "ampulheta" que não pára de deitar para baixo, a areia que está em cima...
nesta altura em que a "frescura" já não é a que tínhamos, quando na Feira Popular de outras épocas, com toda a adrenalina do mundo, aceitávamos subir e descer a verdadeira montanha russa, com a imagem da felicidade estampada no rosto e os cabelos, que então não eram brancos...se desgrenhavam no vento...


Anamar