quarta-feira, 25 de junho de 2008

" O VERÃO..."




Engraçada esta viagem...engraçados estes caminhos trilhados por aí, com a cabeça "viajando" ainda mais que a própria viagem!...
Hoje abri um blogue de um familiar, num outro espaço igualmente interessante; o título aposto ao "post", era mais ou menos este :" O Verão que em algum lugar, em algum tempo, todos tivémos..."
Anexava-se-lhe um pequeno vídeo de Bryan Addams - "The summer of 69".

De facto o Verão chegou...mais um, desfraldando um caudal de promessas sempre auspiciosas...Verão é só por si, sol, calor, céu azul, mar, corpos desnudados, férias, dias mais soltos, sensações doces no ar.
Nunca conotamos Verão com sentimentos negativos, com mágoas, pesos de alma, desânimos...
Não, no Verão podemos tudo...a "maturidade" do ano nesta estação também assume o condão de nos maturar o espírito e a vontade e depois de uma Primavera em que o eclodir da natureza sempre nos surpreende, o redescobrir de novas sensações (que dormiram ao longo do Inverno) e a renovação de uma esperança adivinhada (às vezes sem se saber até em quê), fazem-nos quase acreditar que algum milagre se vai operar e que este, vai ser o "nosso" Verão...
A energia retoma o corpo, a vontade fica mais absoluta, alguma irreverência e "indisciplina" no bom sentido, nos possui. O sorriso vem mais solto ao rosto, as comissuras dos lábios tornam-se menos austeras, até a "rugazinha" da testa se desanuvia...Afinal estamos no Verão...bolas!!!

Muitos foram os Verões que estão lá para trás. Os Verões "bem compridos" da criancice, os Verões sonhadores da adolescência, os Verões mais reais e um pouco descoloridos já, da idade adulta...os Verões mais serôdios um pouco depois...
De compridos que eram, na despreocupação das brincadeiras de pá e balde nos areais de menina, foram "encolhendo" na razão inversa dos anos que íamos vivendo.
As "dunas" da adolescência, palcos discretos de cumplicidades dos primeiros amores, (os amores de "tous les garçons et les filles de mon âge", slogan de uma geração...), exactamente amores de Verão, sazonais, tão intensos, escaldantes e fugazes como o próprio Verão, fizeram-se e desfizeram-se ao sabor dos ventos, tal como as próprias dunas...
Os primeiros bikinis também eram "hóspedes" desses Verões, (conquistas bem púdicas, ganhas à autoridade paterna, ao tempo...)

Os Verões que eram apenas Verões, Junho a Setembro, reais e objectivos no calendário, desfilaram depois, quando havia filhos a olhar, rituais de praia a cumprir, com lancheiras repletas de sandwiches, sumos, yogurtes, frutas e muita água para a criançada.
Algarve ou Costa Alentejana, para o sol ser generoso e a temperatura da água acariciante.
Depois...mais uns dias na Beira, com casa que se abria para a estadia e deixava entrar a relva, as flores, os cheiros e o som do rio que corria ao fundo, onde a frescura da água sempre nos presenteava por cada mergulho, à tardinha, para fugir à canícula.
O tempo e a disponibilidade para os viver, a esses Verões, descoloria-os já um pouco...
A vida começava a deixar as suas marcas, a ingenuidade dos sonhos ia-se perdendo...Os filhos, dos calções e t-shirts, rápidamente estavam a passar para os primeiros fatos formais de trabalho a sério, do tempo da "apanha" dos grilos ou pirilampos e dos jogos de cartas intermináveis pelos serões fora, começavam a passar para os seus "Verões" de férias autónomas...e os meus...iam ficando mais vazios, mais despidos, mais desinteressantes...

Agora vieram os Verões mais "serôdios", como os apelidei...
Sobram dias nestes Verões...sobram horas demasiado vazias...sobram sonhos...porque muitos nunca passaram disso...Sobram demasiadas memórias nostálgicas, escritas lá para trás, em que os intervenientes, estão eles próprios, a escrever as suas próprias "estórias" p'las estradas das suas "viagens"...Sobra alguma paz doce e melancólica, (como uma poalha de luz que atravessa uma vidraça), por já não haver muitas metas a alcançar, muitas ambições a perseguir, muitos objectivos por que lutar...

Mas ainda assim, porque acredito que todos tivémos em algum lugar, numa determinada data "o Verão"...e porque o passado é recordação e o futuro, fantasia...continuo, no presente a querer fazer de cada Verão, esse "tal"... o que possa ficar absolutamente inesquecível no meu calendário das estações...


Anamar

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