quinta-feira, 26 de junho de 2008

A "TERNURA" DA VIAGEM...





Hoje jurara que me deitaria cedo, à revelia do que tenho "instituído"...
Amanhã, obrigações profissionais tocam-me a "alvorada" bem cedinho...ou razoavelmente cedinho, p'ra quem é uma desregrada compulsiva em termos de sono.
Bom, mas ele há intenções e intenções...e cumprimento das mesmas ou não...óbvio!
Há pouco recebi no meu correio electrónico diário (correio que sempre me premeia em quantidade e qualidade), um mail duma ternura atroz, que me impeliu de imediato a vir aqui, contra todos os desígnios de Orfeu...
Chamava-se ele "Tenho 58 anos"!
Abria com uma fotografia do António Fagundes, sentado num sofá, com aquele seu sorriso cativante, aquele seu ar de bonomia descontraída, aquele seu semblante displicente de bem com a vida, (que parece saborear sem pressas, duma forma bem gostosa e doce)...
Iniciava-se então o texto, delicioso, que ia decorrendo sobre a imagem. Claro que o associávamos implicitamente, à voz rouca e sensual do Fagundes...e o facto de não ser verdadeiramente ele, de viva voz, o "diseur" do mesmo, constituiu, do meu ponto de vista, o único e "imperdoável" senão...

Um seu neto ter-lhe-ia perguntado : "Quantos anos tem o senhor, vôvô"?
Estou mesmo a ouvi-lo responder (quem já o viu em palco, sabe exactamente qual o timbre, a expressão, a forma...) :

-"Deixe-me pensar, meu neto...

Quando nasci, não havia televisão nem vacina da poliomielite, comida congelada, máquina de fotocópia, lentes de contacto, pílula anticoncepcional...O radar, o laser, os cartões de crédito, os patins em linha, o ar condicionado, as máquinas de lavar roupa e menos ainda as de secar...se conheciam...a roupa secava ao vento, mesmo...

Quando nasci, o homem ainda não tinha ido à lua...; "gay" era uma palavra que em inglês, queria dizer uma pessoa alegre e divertida...Os rapazes não usavam "piercings" e de lésbicas nunca se ouvira falar...
Não havia computadores, duplas carreiras universitárias, terapias de grupo...
Até aos vinte e cinco anos, eu chamava os homens de "senhor" e uma mulher, de "senhora"...

No meu tempo, virgindade "não produzia cancro"...aprendemos a distinguir o bem do mal e a ser responsáveis por todos os nossos actos...
P'ra nós, "comida rápida" era quando se comia à pressa, "bom relacionamento" era dar-se bem com primos e amigos...e "tempo compartilhado" era o que se passava, quando toda a família fazia férias junta...
De telefone sem fios nunca se ouvira falar...e de celular!!!! Ihhh!...menos ainda...
Música estereofónica, rádio FM, MP3, CDs, DVDs, playstations e game boys...nem é bom você pensar!...
Máquinas de escrever eléctricas, calculadoras...Ui!!! Minha nossa! (diria o Fagundes...)
Por essa altura, todas as noites se dava corda aos relógios, nada era digital...
Cafeteira eléctrica, rádio-relógio-despertador, microondas, vídeo-cassetes e câmaras de filmar também não conhecíamos...
As fotos, eram a preto e branco e levavam mais de três dias a revelar...As coloridas, quando apareceram, eram caras e demoradas...
"Made in Japan" não significava má qualidade...e não existia "Made in Korea", "Made in Taiwan" ou "Made in China"...
"Pizza Hut" , "Mc Donald's" e aquele cafezinho expresso que o vôvô tanto gosta, nem sonhávamos...
Havia lojas, onde se podiam comprar coisas a 5 e a 10 centavos, como por exemplo, os sorvetes, os bilhetes de autocarro, os refrigerantes...
"Erva"...habitualmente cortava-se...não se fumava...
"Hardware" era uma ferramenta e "software" não existia...
Fui também a última geração que acreditou que uma senhora precisava de um marido, para ter um filho!!...

Agora diga-me lá, meu neto...quantos anos acha que eu tenho"???

-"Hiii...vôvô... mais de duzentos"!!!!!...

-"Não, querido...somente cinquenta e oito"!!!...

E agora digam-me lá, vocês, em boa verdade : este diálogo é ou não uma verdadeira "ternura", (que certamente nos dará muito que pensar), da nossa (pelos vistos, dinossáurica ) viagem??!!...


Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

olá anamar!
estou aqui, mais uma vez, a tentar fazer-te uma visitinha na tua nova casa...(esperando que hoje me consigas ler)e para te dizer que gosto muito da "ternura da viagem" e, também do viajante Fagundes, que tem realmente aquele charme...
De facto, o que se caminhou ao longo de 58 anos é quase inacreditavel!
Passámos a nossa infancia e parte da juventude no parque Jurassico?!
Bjs
Mariaspace (ehhh)

anamar disse...

Mariaspace (escolha perfeita)...
Pois...também me sinto por vezes "múmia" do além!
E o pior é que se quisermos absolutamente descrever as "cores" da época na actualidade, o olhar que nos devolvem deixa-nos por vezes ainda mais "mumificados"....rsrsrs
Quanto ao Fagundes....bom...nem comento! Eu acho que ele mete (no seu todo) num canto muita "gentinha" que se arvora galã da actualidade!!!
Por que é que a minha "viagem" não se cruzou com a dele, e eu nunca "encalhei" no homem????!!!!
Designios injustos do destino...eheheh!
Bjinhos e volta sempre
Anamar