terça-feira, 6 de outubro de 2009

"FINALMENTE OUTONO"

 Clique no pássaro

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Amanheceu finalmente um dia a fazer jus à interioridade de um Outono que tem andado travestido de Verão envergonhado e incaracterístico, "nem carne nem peixe"...
Amanheceu um dia cinzento por igual, sem pinceladas no céu, sequer farrapos escuros ou claros...tudo uniformemente igual, sem cambiantes ou cores. Temperatura a baixar acentuadamente e pelo meio da tarde, uma chuva inicialmente hesitante, que viria a "desbundar" em chuva desbragadamente forte.

Enfim, alguém que leia tudo isto até aqui, já me nomeou seguramente para metereologista de serviço!

Acontece apenas, que quer eu queira quer não, sempre existe uma interrrelação profunda entre o que vai lá "fora" e o que me vai aqui "por dentro". E experimentei uma espécie de alegria doce quando o dia me amanheceu exactamente assim...
Costumo viver do sol, da sua luz e calor como "doppings" de existência. Costumo inconscientemente determinar os meus humores, ânimo, garra de vida...pelo "presente", que cada dia me oferece...como dizia alguém noutro dia, aniquilando a objectividade do real, pela subjectividade da pessoa que "sou" nesse dia, momento ou circunstância.
As coisas são, não o que são, mas as que eu vejo, sinto ou perscruto...
Acho que isto é fuga ou um certo grau de loucura motivada por defesa ou sobrevivência, creio.

Pois bem, mas o apelo transmitido pela Natureza ao recolhimento, à paz doce e melancólica dos castanhos aos vermelhos das folhas jogadas no chão, o grito "uterino" de introversão de tudo quanto é vivente, o súbito debandar das espécies, encasuladas de todas as formas possíveis, aquele apelo da alma, ao aconchego, ao ninho, ao "enroscanço"...deixou-me feliz, aconchegada, como que a iniciar uma hibernação, sinónimo de "mar flat", sinónimo de silêncios reconfortantes, sinónimo de uma modorra preguiçosa que me agradou...

A aragem perpassava e empurrava ao acaso a minha gaivota, planando sem rumo que a preocupasse...pelo gozo de planar sem rumo mesmo...
A praceta começou a "maquilhar-se" para os desfavores do tempo, com ausências forçadas por bancos molhados. Os pombos, sem grande espírito de sacrifício, debandaram oportunistamente para debaixo de beirais que os protegessem. Até a Rita, cá por casa, já procurou o conforto das mantinhas que lhe marcam locais de sestas intermináveis...porque a lã, começa a convidar agradavelmente...

Enfim, os castanhos, os ocres, os vermelhos, os amarelos, as cores quentes com que a Natureza procura aquecer-se e aquecer-nos para os tempos vindouros, começam a dar os primeiros retoques no grande quadro que ora se começa a desenhar...
Breve, breve, o cheiro e o fumo das castanhas nos assadores de esquinas de rua, lembrarão que mais um ano passou e que o Outono já instalado, não vai demorar a implacavelmente dar lugar a mais um Inverno, neste ciclo ou roda dentada que nos vai levando, levando...nem sabemos bem para onde!...

Anamar

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá Ana:

Muito à pressa.Estás a escrever cada vez melhor.És como o vinho.
Um beijinho

Fernando