quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"OS OLHOS QUE VÊEM AS COISAS..."


Sempre associei bancos de avenidas, alamedas, jardins...a uma palavra : "solidão"...
Olhando estas fotos, de facto elas passam-me isso : abandono, miséria, velhice, dias sem horas, intermináveis, sem objectivos...fim de linha...

Efectivamente na nossa cidade, é o que espelham, na grande generalidade, os bancos e os seus utentes.
Um lar ao ar livre...como alguém me dizia outro dia...

Hoje, no Escudeiro, no primeiro almoço, falando meio a brincar meio a sério com o sr. Alexandre, a propósito de um casal, bem para cima dos oitenta, que lá almoça todos os dias e que custa a ajustar entre si a ementa, o vinho, se é branco, se é tinto, se é fresco, se à temperatura normal...eu referia que o meu pai, que faleceu com noventa anos, tinha como gosto especial, passar longas tardadas nos sofás do Montepio Geral, então (não sei se ainda), situado na Rua do Ouro.
Chegava, acomodava-se confortavelmente, apreciava a circulação de quem ao banco se dirigia, dormitava, acordava...voltava a sentir-se muito integrado e confortável, como quem assiste a um grande espectáculo...

Nunca lhe perguntei, mas aquilo devia dar-lhe um imenso gozo...

E diz-me hoje o sr. Alexandre, quando eu lhe dizia sempre ter conotado os bancos, os mais variados, com "solidão"...sobretudo os dos jardins, no meio da sarabanda das folhas amarelecidas jogadas no chão pelo vento que sopra : "Já pensou o que sentirá um velhote, na tal rampa descendente da vida, sentado, sem pressas ou ânsias de ir para lado nenhum, com uma réstea de sol a inundar-lhe a má circulação das pernas, ao ver passar de cá para lá, uma mulher bonita, uma jovem atraente...uma criança saltitona, vendendo saúde??...
Talvez esteja a tirar um partido de tudo aquilo, que nós nem imaginamos!..."

Fiquei surpresa...nunca tinha pensado daquela forma...
Tinha a minha verdade, aquela que os meus olhos "pintam" ao olhar, e que de absoluto, de facto, nada tem...achei-me tremenda e estupidamente redutora nas análises que provavelmente faço, e pensei que de facto, serão sempre tantas as verdades, quantos os olhos que vêem as coisas...

Anamar

5 comentários:

Anónimo disse...

Olá Ana
Estavas a falar das folhas amarelecidas e perguntei-me quem se lembra das folhas amarelecidas?Qual é o homem novo que tem ternura pelos velhos(caso não tenha qq tipo de interesse)Ou não seja de família,penso que será o mínimo?
No meu ponto de vista estamos perante factos que não são apenas motivos p'ara livros policiais.
Isto é terrorismo de Estado na sua mais pura forma.
A nova geração não sabe em quem acreditar.Enfia barretes atrás de barretes, porque necessita de sobreviver.Muito bla,bla, muito cinismo, muito interesse e não são nada.Em 1000 anos alunos tenho 5 que se aproveitam.Isto nas melhores gerações.

Beijinhos

Fernando

anamar disse...

Olá Fernando
Folhas amarelecidas, alamedas vazias, árvores despidas...o agreste da estação que agora começou, o agreste da vida fustigante...ou simplesmente, eu, a doentia chata!!!
Sabes que há dias (muitos) em que nem eu própria me aturo, em que desinvisto de falar(pelo negativismo do discurso), em que me constranjo de escrever, porque sou de facto feita de uma qualquer "fórmula química", que espero, se tenha perdido ao longo dos tempos...
Só que não sei como fazer...Um ácido neutraliza-se com uma base...Eu, acho que não tenho antídoto!...
Beijinho
Anamar

Ana Oliveira disse...

Que tal o seguinte exercício ( difícil eu sei!), em vez de ver tudo pelo lado mais negro, cinzento e pesado tentar ver a realidade pelo que pode ter de cor-de rosa, leve e positivo!
A moeda tem sempre duas faces...
Em vez de se pensar, a velhice tão triste...pensar que sorte que têm os que conseguiram chegar a essa idade !

anamar disse...

Olá Cláudia
Esse "exercício" é-te perfeitamente perdoável e lógico, no rosa dos teus trinta e seis anos....
Se calhar também pensei assim....vai p'ra lá duma eternidade e ainda não tinha tropeçado tantas vezes nos velhos e nas folhas amarelecida...
Já não tenho a certeza se pensei ou não.....
Um beijo
Eu

Ana Oliveira disse...

Pois, eu acho que não tem nada a ver com a idade...tem a ver com a natureza das pessoas ( que pode ser moldada, com esforço) e sobretudo com uma coisa tipicamente portuguesa que é a de cultivar a desgraça e o miserabilismo.Nós temos pena de nós próprios!
Acho que se deve fazer um esforço para não cultivar o negativismo...
É a minha opinião e atenção eu sou pessimista por natureza ou formação, como sabes, mas ultimamente fartei-me de pensar sempre pelo lado mais negativo.
Enjoei-me...