quinta-feira, 29 de outubro de 2009

"SEREI UM ET??..."

Tenho esta crónica escrita há dias...
Já a li vezes sem conta...Leio-a e enjoo-me. Leio-a e fico com ganas de a pôr directo no lixo. Só me apetece pô-la aqui, porque haverá olhos que me lêem que nunca me viram nem verão, e assim sempre tenho uma espécie de buraco na areia p'ra falar lá p'ra dentro...

Esta coisa dos blogues, da exposição pessoal e autêntica, a gentes que nos conhecem, falam connosco, convivem connosco, tem destas situações: ou não se é genuíno a escrever e mais vale estar quieto, eu acho, ou estamos a escrever, quantas vezes por necessidade, como única forma de extravasar o que pesa quilos em cima de nós...e aí parece que "ouvimos" vozes, que tantas vezes, sem entenderem nada, levianamente tecem juízos de valor, nem sempre certos ou sequer aproximados...
E fica assim aquela sensação desconfortante de estarmos nus no meio da rua...

Bem...lá vai...

Li há dias numa daquelas noticiazinhas da "home-page" no PC, a referência a um estranho medo ou fobia, de Angelina Jolie.
A actriz, catapultada com uma imagem social de mulher a quem facilmente não se atribuiria um medo ou uma inquietação, tal o seu percurso divulgado e acompanhado a par e passo pelos media, afinal padece de facto, de uma estranha e talvez inexplicável fobia.
É teoricamente uma mulher de sucesso pessoal (beneficiada até na beleza física, que lhe foi pródiga), na relação afectiva que conquistou aparentemente de uma forma vitoriosa (embora nestas coisas nunca se saiba muito bem), profissionalmente ( o seu trabalho é disputado e reconhecido sem margem de erro), social e humanamente, desde o seu empenhamento em causas de ordem humanitária, não só favorecendo com a sua presença e ajuda, eventos dessa índole (como embaixadora da boa vontade), como ainda pela adopção indiscriminada de crianças de países desfavorecidos, lado a lado com os seus filhos biológicos.

Pois é...Angelina Jolie não consegue abraçar ou ser abraçada estreitamente por ninguém que não lhe seja bem próximo, e não atina com a razão para esta atitude comportamental que a acompanha de longa data.

Obviamente que à boa maneira destes "círculos", logo o psicoterapeuta Jenn Berman, a pedido ou não, opinou à revista britânica Stylist, que "pessoas que não gostam de abraços, habitualmente cresceram sem os afectos e o aconchego de um lar"...
Sobre isto não me pronuncio, apesar de adorar enfiar-me pelos meandros do ser humano, e de ter uma costela de psicóloga de trazer por casa, tipo detective Colombo, com aquele seu ar "negligé" de "quem não quer nada"...até porque não conheço efectivamente o que está para trás na vida de Angelina, e depois, mesmo que algo me fizesse sentido..."não deve ir o sapateiro além da chinela"...

Bom, é claro que não foi a Angelina, os seus medos ou sucessos, que me fizeram abordar este tema.

O ser humano é o vector resultante de muitos vectores que começam bem lá atrás a produzir os seus efeitos, eu diria que muitos têm mesmo a  sua matriz na ordem genética, e quanto a isso nada há a fazer.
Depois temos toda a súmula objectiva de "informação", códigos bons e maus, espécie de "chips" que vão chegando, sinalizando, gravando...e também quanto a isso, aquilo que ficamos a saber, é o resultado prático consequente disso mesmo, posteriormente...às vezes muito posteriormente...

Eu tive uma infância de filha única, rodeada de afectos, os mais variados, numa família, pelo menos teoricamente estruturada, em que eu sempre constituí o seu centro, e em que em torno de mim gravitava o Mundo...aquele Mundo que me quiseram mostrar, aquele atapetado de relva verde e fofa, malmequeres amarelos, um sol aconchegante sempre por cima, ou uma lua cheia, cúmplice, ali ao meu lado, a dividir comigo segredos de pseudo-mulher...
E esse mundo foi um "aquário" claustrofóbico e enganador, onde só passavam filmes de "happy-ends" em que acreditei, e para os quais fui programada; um aquário habitado por uma vida que não era nada disso, onde eu não tinha asas, não tinha vontades, não tinha quereres, em nome de uma protecção, de um afecto, de um amor sufocante e desmedido, donde nunca me disseram que um dia eu tinha que sair e encontrar-me só, absolutamente só, como uma criança de cinco anos, largada no meio da multidão, numa grande cidade...

Não me disseram que os pedregulhos que eu pisaria, não tinham nada a ver com relva verde, que os escolhos iriam ferir-me os pés, as mágoas dilacerar-me o coração, a incapacidade de ser gente, tornar-me-ia isso mesmo, "não gente", um espécime que se mexe muito mal, no meio de parâmetros que nunca lhe foram ensinados, que se defende muito mal, por excesso ou por defeito, às surpresas do virar de cada esquina; alguém que paga até hoje uma factura excessiva, alguém que não gosta de si, cuja auto-estima não pratica nem estima, que se sente muitas e muitas vezes tremendamente infeliz, desinserida, carregando sempre o peso de um Mundo ignóbil...enfim, um verdadeiro caso patológico...

E assim, sem ter a fobia do abraço da Angelina, tenho ao contrário, um "saco roto de afecto", como alguém sabedor já me disse; tenho uma inépcia e uma ânsia de ser aceite, entendida; lido mal com o fracasso e a rejeição, sofro por a insegurança me dominar, e guardo bem dentro de mim, sem volta a dar, uma raiva e um ódio, porque considero que a vida jamais saldará a tal dívida, e que o máximo que levarei daqui, um dia, será um monte de erros, mágoas, tristezas...e ver-me-ei só, porque ninguém "curte", ou tem pachorra para estar perto de quem só carrega fardos excessivos nas costas, amargo na boca e desilusão na alma...

O facto é que não consigo reverter um milímetro na resultante de tantos vectores "marados", que me reduziram à pessoa que eu sou hoje, sentindo todos os dias a inglória de nem ao menos poder ser compreendida...

Moral desta história de "terror" : uma fulana "chatérrima", uma fulana que se acoita no isolamento, uma fulana  egoísta, que se cansa cada vez mais de si própria....enfim...um ET com carinha de gente,  que perdeu o caminho de volta para o lugar que certamente lhe pertence de direito : o espaço dos "homenzinhos verdes", olhos esbugalhados, dedinho de pisca-pisca....
Lembrei-me agora: conhecem alguma nave que faça o transbordo, só com bilhete de ida, entre a Terra e um lugar melhorzinho para mim???!!!....

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Ana:
Ãchas?
ET??
Com 2 pontos de interrogação??
Ainda por cima falas do meu querido inspector Colombo com ar negligée?
Não acredito em ti.A tua teoria de que és uma substânçia incompatível com o Mundo,que não te dissolves com nada, não acredito nela.
Agora é uma teoria revolucionária.´
Declaro apenas que não acredito em ti.Acho-te uma pessoa mt bonita.

Fernaqndo

anamar disse...

Olá Fernando
Que o Colombo era um "querido" com ar negligé...tens que convir que sim. Ele e as suas nódoas a esmo, naquela gabardine "sebenta", faziam as delícias do tempo em que eu ainda via televisão!!!!
Agora sobre a minha teoria ( quanto a ti "revolucionária") de que eu sempre constituirei uma mistura heterogénea com o mundo que habito....vai por mim, porque é mesmo verdade....
De repente virava um modismo e eu ganhava os meus dez minutos de fama...mas desgraçadamente nem isso....eheheh!!! Isto é o que se chama uma "penúria" total...acredita!
Uma beijokinha grande p'ra ti, que és um crédulo no ser humano...
Anamar