sábado, 12 de junho de 2010

"O TER E O SER..."

    "E de repente, vi-me diante de mim, como se o deserto fosse o estado de espírito de cada um que busca o ter, esquecendo-se de ser" - José Teixeira

Escrevi esta frase num guardanapo de papel, copiando-a de jornal, ou revista (daquelas com que diariamente complemento o meu pequeno almoço), há já tantos dias, que não identifico em que contexto foi escrita e nem sequer, se quem a proferiu é (de acordo com a Net), um artista plástico da actualidade, ou um outro José Teixeira....

Estes preâmbulos também não contam muito, neste momento....

Conta sim, o impacto que ela me causou, os cordelinhos em que ela tocou , a forma como ela se me impôs....
Aquele guardanapo de papel, manteve-se ali, bem "escarrapachado" na mesa, junto ao computador, já engelhado das limpezas da empregada, as vezes que lhe peguei e o reli, para o deitar fora, sentindo ao mesmo tempo que não podia fazê-lo, que ele me obrigava invariavelmente a  (como fazemos com algo que nos diz alguma coisa),  virar, revirar, ver o seu direito e o seu avesso, ver os pormenores e os defeitos....em suma, neste caso reflectir sobre o que lá estava escrito, impunha que eu trouxesse ao prelo, a minha opinião a propósito.

A minha interpretação (não sei se será a que corresponde à que estaria na cabeça do autor ao escevê-la), é provocar e colocar o ser humano, perante a realidade nua e crua dos valores que presidem à sociedade consumista , insensível e anónima, actual;
é colocar o ser humano versus ele próprio, para valorar o seu desempenho enquanto agente racional  e responsável no Mundo que habita...

Para mim , José Teixeira remete-nos para a prevalência dos valores materialistas e de consumo, "impingidos" pela sociedade do "ter", em detrimento do aperfeiçoamento dos valores intrínsecos de cada homem, enquanto "ser" na comunidade dos seus pares.
Para mim, o "ter" insaciável do ser humano, abana a sua estrutura que deveria levá-lo a preservar e desenvolver os valores ético-sociais, de acordo com a inteligência com que foi bafejado, fazendo-o anular o que nele deveria fazer a diferença, tornando-o num homúnculo, desprezível e indigno...

A sua vida, a sua consciência, os seus comportamentos, a sua moral, posturas e valores, reduzem o seu espírito, a um deserto... provavelmente sem oásis!...

Anamar

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