segunda-feira, 31 de outubro de 2011

"COMIGO MESMA. ..."




No tempo dos Mp4, I-phone, I-pad e outras máquinas estanhas e infernais. .. comprei um Mp3 !!...

Brinquedo novo, "bicho" esquisito nas minhas mãos, tem sido uma emoção única, descobrir-lhe os segredos .... rsrsrs
Li as instruções, coisa rara nas mulheres, rezam as estatísticas, e pasme-se ... gravei uma colecção de talvez mais de duzentos temas musicais, escolhidos à minha medida, destinados a deleitar-me enquanto escrevo, enquanto estou pasmada a pensar apenas, mas sobretudo a deleitar-me na minha próxima ausência por terras do oriente.
Depois, os auscultores abafam o som ambiente, por vezes ruidoso, que leva  à dispersão; impedem que sejamos obrigados a "cuscar" as conversas, impedem que tenhamos que ouvir os assuntos intermináveis, de decibéis desconcertados, das comunicações alheias por telemóvel ...

Bom, entre os temas escolhidos está um, espectacular, já antigo, de Joe Dassin .... "L'été indien".

"L'été indien" é um tema romântico que aborda uma história de romance, de separação, de saudade, pintado com as cores do Outono.
Outono, que exactamente vivemos neste momento.

O Outono sempre se veste das mesmas cores, estou em crer que em todo o lado.
O sol que nos ilumina, fraco, tem contudo uma luminosidade inconfundível, absolutamente diversa da que nos é brindada pelo sol do Verão.
Os dias das praias, dos areais repletos, já foram.
Hoje as areias são reserva das gaivotas, que nelas fazem "dança de roda" em ritual de confraternização, conquista, lazer ...
As ondas mais crispadas que então, desfazem-se em rendas espreguiçadas na brisa que corre.
O sol adormece mais cedo envolvido em laranjas adocicados, no horizonte longínquo ...
As folhas são lançadas ao chão em rodopios imparáveis. Os verdes são mais verdes, os castanhos do recolhimento, os ocres e os vermelhos semeiam-se aqui e ali ...
O "silêncio" lá de fora impregna-se-nos no coração e na alma, enquanto o pensamento viaja, à nossa revelia e recua no tempo, dobra a curva da estrada  uma outra vez, e caminha no sentido retrógrado da marcha...
É então que os cheiros, as cores, os sons, a luz, trazem rostos, vozes, olhos, mãos, adormentados do caminho...da estrada que se fez ...

E é uma sensação de profunda melancolia, que embora  não nos traga lágrimas ao rosto, provoca um aperto no coração e um constrangimento doído na alma.

O tempo ... o tempo escoa-se na ampulheta do destino, injustamente, irreversivelmente ... tentando cantar-nos a canção de ninar que nos apazigue o sono ...

"'L'été indien" ... há uma eternidade ... há um século ... há apenas alguns anos ...

Anamar
                                             

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