quarta-feira, 2 de novembro de 2011

"DE VOLTA PARA CASA"...



     "Lembra-te que és Pó e ao Pó hás-de voltar " (Cf.  Gén 3, 19)

Recebi este vídeo.
As pessoas sempre me mimam e me privilegiam com coisas de qualidade.
Quero partilhá-lo com todos vocês ... afinal, ele fala de NÓS ...

Nós que chegámos de facto, quando, porquê, onde ?? ...
Aleatoriamente ou de forma determinada ?  Quem presidiu aos nossos destinos ?
Que forças, que seres, que conjugações ocorreram para que tivéssemos pisado a VIDA, assim, do nada, naquela hora ?

Ninguém sabe ... não sabemos !

Como já tenho referido, não me acompanham valores religiosos, apesar de iniciada, por tradição familiar, na religião católica, que não perfilho de todo.
Tenho por outro lado, formação académica científica, pragmática, objectiva, experiencial.

Não enjeito que exista uma composição de vectores convergentes no nosso EU, quer tenham eles sido desenhados por "Big Bang"s , explosões astrais, choques galácticos, desígnios divinos ... destinos ...
Costumo responsabilizar o "Grande Arquitecto" ( de saudosas e muito queridas conversas, dissertações de café em épocas passadas ... ), pela aleatoriedade da nossa existência.

O que é facto, é que na total ignorância, chegámos com um baú carregado de potencialidades, de capacidades a desenvolver, de instintos de sobrevivência ... sem que o soubéssemos.

Em situações normais, o decurso dos tempos foi-nos brindando com tudo, foi-nos artilhando com pujança física, beleza, juventude, resistência, inteligência ... mas também sonhos, projectos, leveza de vida, sentimentos de invulnerabilidade, que nos levam a crer ser sempre assim ...
Tudo é promissor, tudo é aparentemente fácil ou pelo menos passível de ser ultrapassado ; os desafios estão bem na nossa frente, os horizontes sempre alcançáveis, pintados de cores generosas ... Nada parece impossível para uma cabeça repleta de sonhos, de creres, de apostas.

E a vida vai-se fazendo, efectivamente sem preocupações ou consciência ainda, da voracidade com que nos arrasta.
Não temos tempo para parar, para analisar muito, para nos interrogarmos sobre o fugaz que tudo é ...

Depois da Primavera, os primeiros dias de Verão começam a instalar-se.
É a altura da consolidação do que fomos semeando pelo caminho.
Por vezes as primeiras chuvas, de rajada, caem-nos em cima ...  Acordamos surpreendentemente molhados, como se isso não estivesse "no programa" ...

E o trilho avança ...

As primeiras perdas colhem-nos na curva da jornada ...
Perdas de sonhos, de realizações não atingidas, de projectos frustrados ... perdas de afectos, perdas de "pares" do nosso percurso, perdas ... demasiadas perdas !!
A vida começa a cobrar "juros" ... por vezes mais altos do que supuséramos ...

Mas continuamos ...

Continuamos, embora as primeiras decrepitudes objectivas surjam, as primeiras surpresas tristes saltem dos espelhos e nos "tapeiem" o rosto ...  Sempre damos a outra face ...
Continuamos quando os primeiros cabelos brancos se generalizam, o primeiro pregueado da cara se acentua, os olhos e os ouvidos ficam "de menos" ... as pernas claudicam ...
Continuamos, mas já nos perdemos muito em recordação do que foi ficando para trás ... do que fomos e do que somos ...
Já nos perdemos muito a olhar para aquela flor que nos perfumava a estrada, e que murchou ... também ela !

Chega então o Inverno ...

A invernia assola-nos, penetra-nos até à alma, seca-nos o coração, entorpece-nos o espírito ... tolhe-nos a vontade ...
Acordamos em cada dia, percorrendo-o, porque ele ainda faz parte do nosso trajecto, do tal trajecto destinado, que carregámos no baú à chegada.

Com sorte, olhamos as fotografias da VIDA e ainda  A  lembramos ...
Lemos os escritos deixados a esmo ... e eles ainda têm eco dentro de nós ...
Olhamos aquelas pétalas secas por entre as páginas dos nossos livros, e ainda nos lembram o tempo das matas verdes, do sol e das aves ...
Mas também aquela concha e aquele búzio, que ainda nos traz os sons das marés de outrora ... em praias de areia mansa e gaivotas ...

E emocionamo-nos ... emocionamo-nos muito ... porque afinal ainda ontem chegámos, e já nos tiram tudo o que então nos deram, duma forma falsamente promissora ...
Já não reivindicamos nada, já não reclamamos de nada ... aceitamos, simplesmente aceitamos submissamente ...

É que não nos tinham preparado afinal, para esse momento ... a hora inevitável do nosso "regresso a casa" ! ...

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito obrigada por partilhares este vídeo
Gostei muito.
Um beijinho.
Merryl.

anamar disse...

Olá Merryl

Ainda bem que gostaste.

Afinal ele traduz a realidade de todos nós !

Condição de ser humano ...

Beijinhos

Anamar