sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

" 21-21-21 "



Estamos num dia particular.  É curiosa a data que vivemos ... afinal hoje é dia 21 de Janeiro de 2021 do século XXI ... Engraçada esta predominância do número vinte e um no registo temporal da nossa existência !
Não quererá efectivamente dizer muito mais do que uma coincidência interessante.
Estamos num verdadeiro dia de Inverno que amanheceu mais ou menos, mas que com o avançar das horas começou a fazer cara feia, redundando num desconforto total.  
São cinco e meia de uma tarde cinzenta, chove copiosamente aquela chuva mansa e silente, e uma bruma pesada e densa foi baixando, baixando, e tirando-nos a visibilidade escassos metros adiante.  Está um dia triste, de desamparo e de desânimo.

Finalmente o Governo decidiu encerrar as escolas.  Com os números da pandemia a atingirem valores absurdos e com a pressão pública, seja dos especialistas da área, dos responsáveis da saúde, da  pressão política movida pelos partidos da oposição, aos abaixo-assinados de responsáveis da Educação e declarações de figuras com visibilidade e credibilidade no país ... confrontados com a posição suicida que seria a manutenção dos estabelecimentos escolares abertos, acabaram decidindo no sentido do seu encerramento.
Não que o espaço escolar fosse em si o responsável por surtos infecciosos.  Aliás, a verdade é que também não há certezas sobre isso, na medida em que não foi realizada uma testagem intensiva dos alunos.  No entanto, presume tratar-se de um espaço vigiado e acautelado portanto, por forma a serem prevenidas situações negligentes.
Contudo, a existência das aulas arregimenta para perto das escolas toda uma população de jovens e crianças, que em grupos de amigos e colegas esquecem as exigências do momento que se vive, e potenciam, por comportamentos erróneos, uma maior facilidade de transmissão.
Depois, são também eles, os pombos-correios na disseminação posterior do vírus, em contexto familiar e social.  Qualquer pessoa via isto.  O Governo é que parece que não ! 😏😏
Há portanto, a qualquer custo, que tentar quebrar estas cadeias de transmissão.
Assim,  pelo  menos  por  quinze  dias este  será  o  estado  das  coisas,  podendo  ( após  avaliação ) o mesmo ser prorrogado.  Entretanto, o estado de confinamento geral do país vigora por um mês, podendo também, ser alargado.

É um tempo de silêncios.  É um tempo de solidão.
Aqui por cima as gaivotas deambulam na aragem intensa que açoita, com temperaturas baixas, numa tarde desabrida que fechou totalmente.
Lá fora, as ruas desertificam à medida que as horas vão avançando e a noite desce
Ambulâncias deixam ecoar as suas sirenes em direcção ao hospital.  Sempre me arrepio ao ouvi-las.  Sempre me emociono ao pensar naqueles que nelas irão, num caminho vezes de mais, apenas de ida !
Estamos num tempo que parece de despedidas.  Despedidas diárias de tudo o que foi a nossa vida, e que exactamente "foi".  Despedidas não verbalizadas mas sentidas, dos que nos estão longe e que só escutamos pelos telefones, nunca sabendo se amanhã ainda aqui estaremos.
"Vamos estando, até que nos deixem" ... é a frase dita, porque o resto só se sente e não se diz, embora nos queime a língua e aperte o coração ...
"Olha, se me acontecer alguma coisa ... " fica dita uma vontade, um desejo, expresso um sentimento, verbalizado um voto ...
Já perdi amigos nestes tempos malditos, já soube de conhecidos que foram ... e fiquei mais pobre.  A minha vida mais vazia e defraudada.  Como numa guerra.  Como num bombardeamento.  Como no rebentamento de uma explosão.  Nunca sabemos quem parte, quem resiste, quem fica ...

Hoje um carro da autarquia percorria as ruas.  Os altifalantes espalhavam no vento que passava : " Face ao avanço brutal da pandemia, solicita-se que todos permaneçam nas suas residências!  Por favor, fique em casa !"
Veio-me à memória Itália, Março 2020 ... e estremeci. O nó apertou-me mais o peito, e uma lágrima desceu ...
Para quando, o sol a brilhar no nosso firmamento ?  Para quando um outro amanhã ?...

Anamar

Sem comentários: