sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

" ENTRE AS GRADES DOS TEMPOS ..."

 



Tenho a sensação de estar a recuar no tempo !

Hoje é o último dia de alguma "liberdade" antes de mergulharmos de novo na escuridão de mais um confinamento quase total do país, imposto pela necessidade de reduzir a qualquer custo, os números astronómicos com que a pandemia nos tem presenteado desde o Natal, com valores absolutamente "insuportáveis", como já lhe chamaram.
Efectivamente, o número diário de novos infectados, consequentemente de novos internamentos e consequentemente ainda, de óbitos contabilizados, é absolutamente aterrador.
Perante esse cenário catastrófico e sem outras alternativas possíveis, havia que achatar as curvas de qualquer forma, e portanto decretar novo estado de emergência, novo confinamento praticamente total do país.
Regressámos portanto aos tempos de Março / Abril de 2020, em que apesar dos pesares, tínhamos então outra condição física e mental para encarar, suportar e ultrapassar este "modus vivendi".
Neste momento é estatístico e sente-se claramente que as pessoas se esboroam em angústia, ansiedade, tristeza, e desânimo.  Apresentam menos capacidade reactiva, menos resposta na sua capacidade de auto-controle, menos motivação no dia a dia ... em suma, menos saúde mental.  Sabe-se que 60% da população apresenta claramente sinais inequívocos de depressão e vive espaldada em ansiolíticos e anti-depressivos.
O cansaço e o desalento estão instalados !

Enquanto escuto o "Bolero de Ravel" na aparelhagem ao meu lado, colada ao aquecimento que não consigo desligar o dia inteiro ( dividido com os meus gatos que como eu, nele "mergulham" ) ... reflicto sobre tudo isto que percebo, percepciono e sinto dentro de mim.
O Natal como já referi em textos anteriores, com a larga liberalização das restrições sociais, revelou-se uma aposta no cavalo errado.  Foi uma opção assumida pelos responsáveis políticos e sanitários que nos está a sair bastante cara em todas as vertentes sociais.  O custo em vidas, na disseminação galopante das correntes de contágio, no desgaste absurdo, injusto  e sobre-humano do pessoal de saúde, e em termos económicos, afundando ainda mais uma economia que não se reerguera em todo este processo.
Sei que todos ansiaríamos por estar junto dos nossos, nessa quadra particularmente tão sensível em termos afectivos e emocionais. Certamente que sim.  
Mas se não o fazer, fosse o preço a pagar para garantir uma segurança profiláctica para a comunidade ... quem poderia contestá-lo ?!
Acho que ninguém, de posse das suas faculdades mentais !
Natais há um por ano ... saúde para o vivermos é que não seria um dado adquirido !
Seria difícil, doloroso, triste ?  Por certo !  Mas sendo necessário esse esforço, fá-lo-íamos.
Do meu ponto de vista, esta seria a mensagem que deveria ter sido veiculada, e as decisões, opostas das tomadas !

Janeiro confirmou o erro da ingenuidade assumida !

E aqui estamos numa inevitável e complicada paragem do país com custos inimagináveis e com um Serviço Nacional de Saúde em ruptura generalizada.  
E ainda  o pico deste tornado não  foi atingido, e ainda o estado caótico instalado não atingiu o seu expoente máximo, que me aterroriza e confrange !

E novas interrogações me coloco.
Desta feita as escolas não encerraram.  E embora se difunda a ideia de se tratar de lugares seguros, e  de as infecções detectadas por essa via não terem sido significativas, entre o deve e o haver, ou seja, entre os danos sanitários possíveis e o prejuízo escolar numa geração já tão afectada no ano escolar anterior ... ( apesar de enorme controvérsia entre opiniões de cientistas, médicos e responsáveis pedagógicos ligados á Educação ) foi escolhida a opção de manter os estabelecimentos de ensino de portas abertas em todos os níveis de ensino.
Lamento dizer, mas parece-me um novo "tiro no pé" esta determinação política.  E isto porque, admitindo que de facto os espaços escolares são seguros no estrito respeito por todos os cuidados profilácticos de protecção, extra-muros o que observo na minha comunidade é um laxismo absoluto no cumprimento desses mesmos cuidados.  
De facto, fora das escolas, os magotes de jovens em absoluta e descuidada convivência, sem máscaras e sem o distanciamento social observado, manifestam ser focos fáceis de futuros surtos infecciosos. 
E esta opinião já a ouvi corroborada por médicos epidemiologistas, infecciologistas e mesmo de outros quadrantes da área da saúde.  
Acresce ainda que a existência de uma mutação no vírus da Sars Cov2, que já grassa em Portugal, mais rápida na transmissão, parece ganhar particular incidência nas faixas etárias mais jovens ...
Estamos  de  novo  a  pôr-nos  a jeito para daqui  a  alguns dias termos  de    novo  recuo  nestas medidas ...
Infelizmente sei que há outros factores a fazerem pender a balança neste sentido, como os custos a suportar junto de famílias em que um dos progenitores teria que assegurar a presença junto de filhos até aos doze anos, não comparecendo por isso, nos locais de trabalho.
Também o facto de nem todos os estudantes disporem dos meios adequados e garantidos em vão pelo Governo para acompanhamento das aulas à distância, nas suas casas, terá sido determinante para a decisão assumida.
Outra medida que não aceito muito bem, embora já tenha ouvido que a mesma se espalda na Constituição, é o facto das Igrejas se manterem abertas, com todos os actos de culto permitidos, enquanto que as salas de espectáculos não o podem.
Afinal, são lugares de lazer que devidamente utilizados poderiam dar algum "refresh" às nossas vidas tão limitadas e saturantes neste momento ...

Bom, este meu texto foi uma espécie de calendário da pandemia, quando o mês de Janeiro já atingiu o seu meio, e quando temos pela frente pelo menos um mês de clausura, jogando a sorte, nossa e de todos os que amamos, por cada vinte e quatro horas de vida ...

Anamar

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