sábado, 2 de janeiro de 2021

" ESPERANÇA "

 


E chegámos ao hoje ...

E hoje é nada mais nada menos que o pontapé de saída para mais um ano que o calendário determinou começar.  Infelizmente, não para todos !
Mas sempre é assim desde que o mundo é mundo, e não há como reverter este curso temporal que nos estabelece datas, metas, limites.  Uma entidade imparável , a única, diria eu, que remete o ser humano à sua real dimensão, perante aquela inevitabilidade da existência !
De facto, o Tempo sempre segue o seu curso, independentemente de tudo, alheio à insignificância da realidade terrena.  O Tempo ignora-nos, ignora os nossos sentimentos, testa-nos sem dó nem piedade, coloca-nos face à pequenez e à fragilidade daquilo que na verdade somos ... uma mera poeira estelar por aqui perdida ...

Ontem viveu-se mais uma passagem de ano.  Este ano ansiada mais do que nunca, desejada mais do que todas, acreditada mais do que nenhuma !  
Depois de um "annus horribilis" a marcar como nenhum outro a era que vivemos, um 2020 com uma prestação verdadeiramente alucinante para o Planeta Terra, havia uma urgência dentro dos corações e das mentes, de que o ano terminasse, fosse embora, deixasse de nos atormentar e destruir mais ainda ... 
Como se ele fosse capaz de decidir, escolher, determinar ... como se ele tivesse sentires como nós, entendimento como nós, responsabilidade como nós.  Como se expurgando-o das nossas vidas, varrido das nossas existências, tudo miraculosamente se compusesse, se alinhasse, passasse a fazer sentido ... Como se, qual messias, terminando, trouxesse consigo o remédio para tudo o que não tem remédio ou explicação ...
Ou seja, como se ele fosse portador de "humanidade" !

E o soar das doze badaladas, e a emoção que se viveu olhando as ruas desertas de cidades confinadas, o nó na garganta e as lágrimas que nos assomaram quando as passas se engoliram ou a taça de champanhe se ergueu, foi alguma coisa que não consigo descrever, por indefinível ...
Do recôndito de lares com portas fechadas, com o estralejar do fogo de artifício aqui e ali, o bater de panelas, tambores e cornetas nas janelas que voltaram a iluminar-se e a confraternizar entre si, numa cumplicidade sofrida ( a mesma do confinamento total dos primeiros dias da pandemia ), numa partilha de afectos, erguia-se um voto silencioso, identificado apenas por um sentimento e uma só palavra que nem sequer era dita, apenas sentida, como se tivéssemos medo de, proferindo-a, lhe retirarmos o sortilégio : ESPERANÇA !
E foi de esperança a noite de ontem, foi de esperança o dia de hoje, é de esperança o ano que agora começa no virar desta página do calendário !...

Mas não nos iludamos !
Não  pensemos  que  milagres  acontecem  da  noite  para  o  dia.  Não  acreditemos  que  ( com a ingenuidade das crianças que pensam ver as renas do Pai Natal riscando o céu escuro e frio ), também a "virada" por si só, vai ser capaz de nos restituir toda a vida que já perdemos, todos os sonhos que nos amputaram ... vai ser capaz de nos devolver todos os afectos adiados, todo o direito à normalidade da vida normal que detínhamos, de nos trazer de volta a paz e a alegria do convívio dos que amamos, ou apagar o sofrimento sem tamanho, e toda a dor pelos ausentes das nossas vidas ... dor que se fez ainda mais presente, porque nos foram injustamente roubados, sem aviso ou previsão, com a violência e a prepotência com que uma avalanche faz sucumbir tudo o que diante de si se perfila ...

Por isso, apesar de de verde-esperança se pintarem os nossos corações, muito mudou irreversivelmente dentro de nós, nas comunidades, nos países ... no Mundo . 
Nunca mais seremos os mesmos, nunca mais recuperaremos talvez com a pureza de antes, a capacidade do sonho, da fé ... do acreditar ... Endurecemos na alma, fomos moldados por todos os sentimentos adversos, que nos semearam cicatrizes que não sei se algum dia sararão ...
Ao contrário de outros recomeços, de outros anos das nossas vidas, em que inevitavelmente, balanceando o que passara, se teciam projectos futuros, se jurava irmos alterar tudo o que de errado vivêramos, sentindo-nos com o optimismo, a garra e a genica de um " Homem novo", arrumando os espíritos, criando novas metas, novos rumos ( sempre melhores evidentemente ), norteados pela necessidade de uma "renovação" interior ... este ano, com as vidas globalmente em suspenso, são mais humildes os desejos que nos invadem, são mais precárias as linhas que buscamos para os nossos trilhos ... menos ambiciosos e exigentes os sonhos que ainda pudermos sonhar. 
Porque afinal, só o agora é a única verdade que conhecemos, e os nossos horizontes nunca podem distanciar-se significativamente de nós ... como em manhãs de cerração profunda, em que a vista nunca nos permite ir mais além ...

Assim, brindemos apenas à certeza de estarmos vivos, de até hoje termos conseguido passar incólumes por entre as bátegas fustigantes da tempestade, e foquemo-nos no objectivo sério de fazermos mesmo de 2021, um ano de ESPERANÇA para a humanidade ... para este planeta, casa nossa que nos abrigará até ao fim dos nossos dias !...

FELIZ 2021 para todos os que me lerem e para todos os amigos que perto ou longe, caminharão uma vez mais a meu lado, espero !

Anamar

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