domingo, 17 de janeiro de 2021

" FLASHES DO MOMENTO "




A  jornalista lançou a seguinte pergunta : "O senhor sabe que é obrigado a ter máscara na via pública "? - ao que a criatura responde de imediato com um ar feliz e descontraído - " Claro, por isso é que ela está aqui no meu bolso !..."

Não sei se ria, se chore.  Decidi-me : enfureço-me, enraiveço-me, desespero-me ... apetece-me partir a televisão, como se, partindo-a, estivesse a partir a cara a um energúmeno destes ... por azar, meu compatriota, por azar, meu concidadão...
Pergunto-me : como se pode conseguir algum resultado prático, como se podem conseguir baixar os números aterradores da pandemia, com uma massa humana deste quilate, que não só não cumpre o determinado, como ainda goza com quem o cumpre ?!

Não esquecer que este e outros "filmes" parecidos, ocorreram ontem, dia 16 de Janeiro, segundo dia do confinamento geral do país, quando os números atingiram o valor de quase onze mil novas infecções e cento e sessenta e seis óbitos, nas últimas vinte e quatro horas.
Não esquecer que este filme e outros parecidos, ocorreram num dia de sábado, de céu azul e sol aconchegante, em Carcavelos, junto ao mar, no passeio marítimo sem dúvida convidativo à sua fruição, onde as pessoas em magotes, muitas delas sem máscara no rosto, passeavam placidamente !...
Não esquecer que neste sábado solarengo, luminoso, de céu azul, as camas dos hospitais estão lotadas, as ambulâncias aguardam em fila caótica às portas dos mesmos, para admissão dos doentes, horas a fio, que os profissionais de saúde, lá dentro, estão absolutamente exaustos e em desespero, que foi trazido oxigénio pelos próprios médicos, para estabilização de doentes agudos, às ambulâncias que os transportavam, e ... que se morre, morre  desesperadamente, sem que ninguém possa fazer mais nada !
Não esquecer que este filme e outros parecidos, ocorreram um pouco por todo o Portugal, nestes primeiros dois dias de confinamento, num descaso absoluto, indiferença ou mesmo provocação à tragédia que se abate sobre todos nós e sobre o Mundo em geral !

Mas cá fora, quem teve a "boa estrela" de ainda não ter sido alcançado pelo vírus, acha-se no direito de ignorar as responsabilidades, como pessoa e como cidadão deste país.
Acha-se no direito de esquecer os deveres para consigo e para com os seus semelhantes, os deveres de dignidade e cidadania que lhe são exigíveis, o dever de obediência às regras ( discutíveis eventualmente )  que foram determinadas, que terão parecido assertivas e adequadas  ... sendo passíveis de não consensuais, obviamente ... 
Mais do que nunca deveria haver uma tentativa de unidade, porque o inimigo é único e reconhecido.  Deveria haver um ideal comum que mobilizasse e não desviasse os cidadãos do foco necessário ... já que " em tempo de guerra não se limpam armas", e o objectivo é imperativo e urge alcançá-lo, ou o sofrimento sem tamanho que já nos fustiga impiedosamente, atingirá uma escala incontrolável !

Podemos ter sérias reservas face às medidas assumidas pelos responsáveis, na publicação deste confinamento.
Podemos até achar que está em prática um "meio-confinamento" ou um simulacro de restrições.
Eu mesma, acho que as medidas tomadas, foram-no brandas de mais, e com muitos "buracos de fuga" possíveis.  Receio que elas tenham que ser reajustadas face à ineficácia das mesmas ...

Não gosto de me sentir prisioneira em casa.  Apetece-me ir ver o mar, usufruir do sol, passear livremente, abraçar e beijar todos os que amo, sem medos ou aflições, viajar, em suma ... tenho saudades da vida normal que detinha .  Estou física e psicologicamente extenuada.  Tenho noites visitadas por insónias recorrentes que me impedem um descanso retemperador.  Vivo com fobias, medos, tristeza e desesperança.  Vivo, não.  Sobrevivo no sentido emocional do termo ... Mas ... ainda assim, serei uma felizarda porque estou viva ao dia de hoje e tenho a minha família com saúde.  Tenho pão p'ra pôr na mesa.  Às vezes penso que já não sonho ... outras, que só tenho os sonhos adiados ... e que chego lá !  Às vezes choro, esbravejo ... outras, aninho-me simplesmente nas minhas quatro paredes e tento hibernar p'ra anestesiar a angústia !  Tenho medo de não aguentar e adoecer ... mas sei que não posso abrir o flanco à fragilidade do momento ... 

E por tudo isso, cumpro a minha parte.  Se tiver que tomar um remédio amargo, tomo-o se ele for p'ra me curar.  Tento respeitar o que a sociedade em geral tem o direito de esperar de mim.  Não posso perder a esperança e tenho que buscar forças onde penso já não as ter.  Tenho que me inundar de paciência e coragem, para esperar um novo alvorecer !
Enquanto isso, apanho sol à janela e vou sozinha à mata, onde os pássaros, as plantas e as primeiras flores me ajudam a sentir que estou ainda viva ... e que apesar de tudo, é bom estar por aqui !!! 

Anamar

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