A vida é um fenómeno estranho...
Por mais que se viva, nunca a iremos entender.
Chegamos, instalamos "barraca", ainda não sabemos bem para quê e porquê . Também ninguém nos explicou por que num belo dia resolveram fabricar-nos. Foi assim, a maior parte das vezes calhou, e portanto aí estamos nós na forja.
Assim sendo, coisa assente, é que não nos perguntaram se queríamos amanhecer no "planeta azul", ou numa qualquer outra galáxia, mais escura, mais iluminada, mais arejada, mais bem frequentada, com "homenzinhos verdes", sem ninguém, com vida ( vida igual a esta ou diferente desta ), deserta ou ocupada.
Ninguém nos perguntou rigorosamente nada !
Largaram-nos e fomos andando ... e fomo-nos "amanhando" como deu.
Alguns tiveram "asas", debaixo das quais se enfiavam quando a coisa dava para o torto ... outros, foram ficando ao "relento" mesmo ...
E fomos "sobrevivendo" ...
A palavra diz tudo ... a palavra reflete já por si, algo de transcendente ... a façanha de se conseguir ir além da vida, mostrando em si, que esta não é de certeza "pera doce" de se ter, e que conseguir superá-la diariamente, coisa de "super-pessoas" !
E esmurrámos os joelhos, e inventámos o sorriso quando queremos esconder outra coisa chata que temos, que são as lágrimas.
E criámos esperança ( outra palavra esquisita ), quando parece que caminhamos numa estrada de fim de linha ( sim, porque por aqui há "estradas" ... caminhos supostos serem percorridos, uns atrás dos outros, alinhadinhos, direitinhos, como mandam os códigos deste local ).
Não se pode parar para apanhar flores ( porque senão perdemos o lugar da fila ... nem descansar à sombra de uma árvore, quando o coração parece estar em vias de parar, de cansaço ) !Ah ... ( estava a esquecer-me ) ... chegámos apetrechados dessa "coisa" ... de um coração !!!
Uma peça que está no interior do invólucro, pesado como o raio, que tem mais o efeito de nos apertar até estrangular, do que nos deixar voar e partir, como tantas vezes nos apetecia ...
É muito mais um empecilho, do que uma ajuda de percurso ...
E sonhamos ... outra coisa que nunca se sabe o que é !
Mas eu acho que é um programa de televisão do "canal de refugo", quando não temos outros canais para ver.
E a chatice, é quando acreditamos que o programa de que desfrutámos, podia acontecer por aqui mesmo, no tal "buraco" onde nos meteram.
Mas é um puro engano, porque na verdade, não acontece nunca !
Mas nós, masoquistas que somos, persistimos ... e persistimos ... e persistimos !!! Oh teimosia desgraçada !
Na mochila, às costas, sempre trazemos uma provisão de fé ... ou seja, umas lentes que nos permitem ver com cores de arco-íris, os "cumulonimbus" que nos pairam por cima ...
Que nos permitem ver com sol, as manhãs que acordam escurecidas ...
Que nos fazem crer que "o luar de Janeiro que não tem parceiro", vai brilhar o ano todo ... e que nos fazem acreditar que é exactamente no dia seguinte, que a tranquilidade que a paz nos transmite, nos vai deixar repousar a cabeça cansada, e dormir um pouco, apoiando-a mesmo nas pedras do caminho !...
E dia após dia cruzamo-nos com caminheiros também já esfalfados, que nem nós.
Contam-nos que encontraram pelas veredas, uma outra "entidade" estranha, que se chama Amor, mas que é alguma coisa, que se não formos rápidos, já não apanhamos, porque é assim uma espécie de raio de luar a espreitar no meio das nuvens ... ora aparece, ora no instante seguinte, já foi !...
E por isso, é brincalhão, é falso, é desordeiro ... e provocador também !
Não se deixa nunca prender ... Extasia-nos e quase nos cega, ao aparecer, para nos deixar defraudados no instante seguinte, exactamente porque se foi, sempre a rir-se de nós, com um ar safado e gozão ... como quem diz : "Tontos !!! Básicos !!! Achavam mesmo que eu existia ???!!! Ahahah !!!
E nós deixamos ficar o olhar comprido, bem comprido e triste, preso àquele resto de céu, por onde ele se "escapuliu" ... já com uma saudade doida a consumir-nos e a matar-nos por dentro !!!...
Saudade ... pois é ... aí está outra "bela encomenda" que nos enfiaram nas mãos !!
Quais mãos?!
Esta, está é mesmo mais "embiocada" no tal "coração", a peça que não nos faria falta nenhuma, e que só atrapalha !
A saudade "massacra-nos", "mói-nos" ... "mata-nos" aos poucos.
Uma vez instalada, nunca mais despega ... feita lapa, nos rochedos onde a maré bate insistente ...
E pronto ... a VIDA é de facto um fenómeno estranho !!...
Mas apesar de tudo isto ( e isso é algo que ainda não consegui descodificar até hoje ), todos a querem prolongar, mais e mais ... todos, de uma forma sádica e masoquista, querem continuar a vivê-la ... e ninguém a quer largar de vez !!!...
Anamar