quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

"REFLITAMOS ! "...

Não me canso, nem me cansarei jamais, de ser grata  com quem divide comigo sempre, alguma coisa do valer a pena desta vida ...
Com quem sabe e sabe-se dar e partilhar !
Tudo isso são provas de AMOR !

Assuntos mais ou menos contundentes, temas normalmente relevantes, humor fino e de bom gosto ... notícias da actualidade, que muitas vezes são veiculadas sem que nos cheguem às mãos ... figuras públicas, ainda assim desconhecidas de muitos de nós, só porque este Mundo é imenso, e as pessoas que nele fazem história e deixam "marca", são miríades ...inalcançáveis !

Hoje, trago aqui uma personagem que eu desconhecia ... talvez também muitos de vocês.

Carlos Alberto Libânio Christo , nascido em Agosto de 44 em Belo Horizonte, Brasil ... vulgo Frei Betto.
A sua biografia refere-o como "religioso, teólogo, escritor".

É de facto um escritor e religioso da Ordem Dominicana, filho de um jornalista e de uma escritora.
Adepto da  "Teologia da Libertação", é militante de movimentos pastorais e sociais, ocupou funções de assessor especial do Presidente Lula da Silva, e foi coordenador de Mobilização Social do programa "Fome Zero".

Esteve preso por duas vezes sob a ditadura militar, em 64 e entre 69 e 73.

Tem inúmeros livros publicados, um deles relatando a resistência dos dominicanos à ditadura  ( que passou por torturas e mortes ), foi mesmo adaptado ao cinema .
Recebeu vários prémios pela sua atuação em prol dos direitos humanos, e a favor dos movimentos populares.
Assessorou vários governos socialistas, em especial Cuba, nas relações Igreja Católica - Estado.
É chamado a proferir conferências, debates, colóquios, enfim ... tudo em que o seu espírito liberal, humanista, esclarecido e claro, pode intervir, mediar e influir, ajudando ...

Apresentado que está minimamente Frei Betto, vou limitar-me apenas a deixar-vos para reflexão, estes extraordinários quanto imprescindíveis excertos, tão necessários e importantes às sociedades em que vivemos, tecnocratas, consumistas, materialistas e sobretudo ... muito "corridas".... em que o ser humano perdeu o tempo, o saber e a capacidade de reflectir e meditar ....
Em que em última análise, o ser humano perdeu, e perde cada vez mais, a capacidade de ser....... HUMANO !!!

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Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo : a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente.
Aquilo me fez refletir : "Qual dos dois modelos produz felicidade?"


Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei : "Não foi à aula?"  Ela respondeu : "Não, tenho aula à tarde ".
Comemorei : "Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde ".
"Não", retrucou ela, "tenho tanta coisa de manhã ..."
"Que tanta coisa ?", perguntei.
"Aulas de Inglês, de ballet, de pintura, piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada.
Fiquei pensando : "Que pena, a Daniela não disse : "Tenho aula de meditação ! "
Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.


Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica ; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias !
Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.
Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos : "Como estava o defunto ?"  "Olha, uma maravilha, não tinha celulite !"
Mas como fica a questão da subjetividade ? Da espiritualidade ? Da ociosidade amorosa ?


Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra !
Tudo é virtual.
Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais.
E somos também eticamente virtuais ...


A palavra hoje é "entretenimento" ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva.
Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.
Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres : "Se tomar este refrigerante, vestir este ténis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá !"
O problema é que, em geral, não se chega !
Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista.  Ou de remédios ...
Quem resiste, aumenta a neurose ...


O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista.
Assim, pode-se viver melhor.  Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis : amizades, autoestima, ausência de stresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno.
Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral : hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center.
É curioso : a maioria dos shopping-centers têm linhas arquitetónicas de catedrais estilizadas ;  neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo.
E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca : não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas ...


Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista.
Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.
Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus ...
Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório ...
Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno ...
Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald ...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas : "Estou apenas fazendo um passeio socrático".
Diante dos seus olhares espantados explico : "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas.
Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia : ..."Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser FELIZ !!!..."

Anamar

3 comentários:

Anónimo disse...

Anamar,
Li mais uma vez com todo o interesse o seu post, sem duvida trata-se um vicio meu, ler o seu Blogue assim como outros nomeadamente o "31 da armada" ou o "Abrupto" recebo alertas no meu mail.
No entanto reflecti sobre o mesmo e não me posso esquecer que tenho alguns amigos Dominicanos, cérebros superiores sem duvida e por isso invejaveis, mas como muitas vezes tenho dito nunca me posso esquecer que foi a dita Ordem Dominicana, que esteve como executora no Santo Oficio, ou seja a Santa Inquisição, quando nos lembramos que Galileu Galilei, foi queimado nas fogueiras do mesmo Santo Oficio, muita reflexão fica por fazer sobre as Ordens Religiosas e o facto de serem pessoas que as constituem, com tudo o que o Ser Humano tem de Bom e da Mau tambem.
Jonas
(Um admirador da sua escrita confesso)

anamar disse...

Olá Jonas

Cá estamos de novo, não é??

A nossa "dialética" não deixa de ser interessante....

Pois sobre o que me diz....só poderei citar a velha sabedoria popular que nos diz que "uma andorinha não faz a Primavera"...e que são as pessoas que farão e darão uma conotação positiva ou negativa às instituições, e não as instituições que serão inteiramente responsáveis pelos seus membros, infelizmente!

Um abraço

Anamar

PS: Só uma coisa mais...os seus comentários estão a chegar duma forma repetida, pelo que sou obrigada a eliminar uma ou mais versões, deixando obviamente, apenas uma. Deve ser qualquer questão relacionada com a emissão. Não sei.

Anónimo disse...

Anamar,
Peço desculpa, mas só comento uma vez, lamento qualquer transtorno que esteja a causar, vou no entanto tentar tomar as previdencias necessárias a que não se repita. Apreciei a sua resposta com a qual concordo.
Jonas