sábado, 18 de fevereiro de 2012

OS "TIRANOS"...


Os "tiraninhos"começaram numa famigerada noite, dia, ou momento, em que por obra do Grande Arquitecto ou do Mafarrico ( ainda estou p'ra saber qual dos dois estava de serviço ), um espermatozóide esperto, de vistas largas e tipo "Pepe Rápido", "violou" o reduto mais que defendido de um óvulo!

Nesse preciso e "mágico" momento, teremos entre mãos, um "projecto" de "tiraninho" !...

Reparem ... eu vou inserir este meu post na classificação de "Humor" ... Simplesmente e só, porque nas etiquetas que constam das minhas escolhas, não cabe o item "Humor / Drama" ... Porque, efectivamente o que penso a respeito, neste momento e cada vez mais, é que tudo isto, está mais para drama do que para rábula humorística ...

Pois bem ...dizia eu que a saga destas "personagens" maquiavélicas, começa nesse exacto momento ... e o dramático da coisa, é que não termina nunca mais !

Ainda em "aviário", e já o dito cujo se impõe, pelos enjoos, noites mal dormidas, exames sistemáticos ( uns mais simples que outros ), a que a mãe é sujeita ( a bem da criatura ) ... deformação inerente, daquelas curvas que tanto prezávamos, dentes cariados, ossos descalcificados, alguns sustos ... quantas vezes, angústias de ecografias que nem sempre mostram tudo ... gastos em despautério, na preparação do "enxoval" adequado ao "reizinho" ou à princezinha" a caminho ...
Nos últimos tempos, até abstinência sexual ... por via das dúvidas ...

E chega o dia, em que pela primeira vez, a mãe, obviamente, se consciencializa de quem "começa a mandar" no pedaço !
A hora do parto aproxima-se, e com ela as famigeradas dores que só nós conhecemos, os medos, as incertezas, a vontade louca de inverter aquela estrada sem hipótese  de marcha-atrás ... enfim, qualquer coisa que nos tirasse daquele filme ...
Mas como o que não tem remédio remediado está, e o "tiraninho" já assoma com a cabeça ... pé na tábua e vamos em frente !

Aí, a procissão ainda nem saíu do adro da igreja !...

Os próximos episódios ( quantas vezes tirados de um filme de terror, "suspense" e mistério ), caminham para nós a passos largos.
As noites incompleta e faseadamente dormidas, a "afinação techno" das goelas escancaradas, sempre à procura de uma mama de serviço, ou com a bendita cólica abdominal que não dá tréguas ... A fralda, no "muda que muda"...o creminho para o rabo ( que embora com todos os cuidados, se assou ...) ... enfim ... depois as papas, os berros dos primeiros dentes ( que é outro "petisco" muito jeitoso ... ), as otites, as viroses, os sustos dos primeiros passos, os perigos domésticos a espreitar ... e etc,etc, etc ...

O "tiraninho" está programado p'ra crescer ... e não pede licença.
Começam aí novas etapas.

Escola à vista ( estuda, não estuda, já estudou ?...), as companhias, os amigos escolhidos ( nem sempre os mais adequados, mas que aqueles "serzinhos" teimam em manter como desafio ), as primeiras saídas nos grupos  ( primeiro, festinhas inofensivas, em círculos de amizades próximas ), depois as saídas à noite com os bares e as discotecas ... e sabe-se lá mais o quê ?!.....
E nós impotentemente a ver crescer os nossos cabelos brancos, as nossas rugas, a "taquicardia" nos corações!! E a incapacidade para fazer frente ao "domínio" desenfreado e progressivo das exigências, das comparações, dos desafios, das "provas" em que deveremos ser aprovados !...

Os namorados, as primeiras relações, a explicação o mais prosaica e natural possível do tema ( sem ninguém nos ter ensinado nada sobre como fazê-lo ... ) ... a nossa angústia ( a nossa ... não a deles ! ), sobre possíveis gravidezes, doenças, desvios.
E no campo "minado" que temos à frente, a maior parte das vezes, uma inacessibilidade atroz !
Os "anjinhos" fecham-se em copas, cerram fileiras, guardam redutos até às últimas consequências !...

Depois, se for esse o rumo, casam ... para na primeira oportunidade, "descasarem" com uma limpeza total !
Se o não for, aí estamos nós novamente, com a dúvida e preocupação, sobre os quinhentos mil namorados que entretanto vão desfilando, dos quais, nem a cor, nem o carácter, nem as referências conhecemos ... Até porque os "tiraninhos", entretanto se acham gente bem graúda para darem satisfações, ou terem a vida pessoal devassada pelos "cotas" ... que em boa verdade, só atrapalham !

Os que casaram e tiveram filhos, pretendem obviamente alargar a "tirania" familiar, aos respectivos pais.
Aí temos nós os avós a queixarem-se então, que "agora que estariam libertos p'ra viverem as suas próprias vidas", têm que "aguentar" os pestinhas, em continuidade da espécie !!!
E dizem, com o ar mais desalentado possível : "Fazer o quê"???!!!!.....  ( É assim uma espécie de destino, não pedido !... )

Há ainda outro aspecto a considerar :
se eventualmente os pais dos "tiraninhos", caírem em desgraça e separarem eles próprios as suas vidas ... inicia-se outra cena rocambolesca ...
Armados em "mete nojo", suas excelências, não se coíbem de opinar, dar palpites, devassar, obstaculizar, quase reprimir, possíveis e futuras relações dos próprios pais ( coisa que não admitiram para eles, não esqueçamos ! )
O namorado / namorada, da mãe ou do pai, não cabe no "figurino" nem é "admitido / a", sem que antes passe na malha, na rede apertada, ou nos Raios X das criaturas!

E estamos perante algo perfeitamente surreal e hilariante ...
Os progenitores dos "tiraninhos" submetem-se piamente, culpabilizam-se, deixam-se acabrunhar, justificam, explicam, ouvem impropérios e adjectivos pouco edificantes a propósito, quase têm vergonha ... como se eles próprios não tivessem mais direito a viver, a escolher, a acertar ou mesmo a errar...
como se eles próprios, por terem a ousadia de infringir regras de ouro que povoam a cabeça das "encomendas", devessem ser chamados "à pala", devessem ser submetidos a julgamentos sumários, fossem mesmo ridicularizados, por afinal AINDA serem gente, terem sonhos, terem vontades, não serem assexuados como deveriam ...

E o que é facto, é que se "elas não matam ... moem" !...

E no mínimo, desestabilizam, geram conflitos, maus estares, parece mesmo que medos a lixarem-nos as almas ( com a fúria com que escrevo este post, como imaginam, o vocábulo "lixar", não era exactamente o que me apeteceria aplicar ) ...
E é espantoso, como nós, os da geração que os pariu e pôs neste Mundo, nos sentimos na obrigação de quase pedir licença ... ao invés de nos pormos nos bicos dos pés, erguermos bem a cabeça, e olhando-os nos olhos, darmos três berros, que é o mínimo necessário para quem não sabe remeter-se ao lugar e posição que devia!...

Fico por aqui ... porque até já me agoniei de raiva, fúria e desalento !!!

Quem nos mandou de facto, numa bela noite, dia ou momento, permitir que o Pepe-Rápido, "Bugs Bunny" ou "Perna-Longa", entrassem em "território alheio" ??... Ainda por cima, dentro de nós !!!...

Este post vai ser do desagrado de muita gente, que eu sei.
Porque é "incómodo", diz algumas verdades, obriga a alguma reflexão !
Corro mesmo o risco, de neste momento ter passado de "bestial" a besta ... e encarnar a "megera", aos olhos de alguns.
Não me faz qualquer diferença, e desafio mesmo os mais honestos, a desautorizarem e rebaterem, se o conseguirem, estas minhas "verdades"!!!...
                                             
Anamar

" 40 ANOS ... "

Pois é, a minha escola acendeu hoje 40 velinhas!

40 anos é cerca de metade da vida de alguém !...
Lá, eu fiz cerca de trinta e seis desses quarenta ... o que significa que também para mim, lá me passou perto de metade de uma vida, neste caso, a minha!

Entrei, lembro bem, com vinte e três anos de idade.
Cara de miúda, corpo de miúda ... sonhos e vontades de gente graúda.
Estávamos em 74, o 25 de Abril tinha sido apenas meses antes, o seu sonho sonhado povoava as cabeças !

Respirava-se esperança, respirava-se convicção de luta e vitória, respirava-se fé !...
Eram tempos promissores.
O "Inverno" terminara, e com ele, a longa estação escura na vida de todos os portugueses ...  Era impossível que o que se acreditava não virasse realidade !...

Entrei na escola, dossier debaixo do braço, determinação na alma ... susto no coração ... ar sério afivelado no rosto, na convicção de que daria assim credibilidade ao "boneco".
Mini-saia não era prevaricação na altura ... Até eu casara de mini-saia, poucos anos antes.
Mas, o empregado a postos no portão, resolveu tirar dúvidas e "barrou-me" a entrada...  "Onde é que a menina pensa que vai "?...

Corou ele, e corei eu, creio ... quando, timidamente lhe disse : "Desculpe, mas eu sou aqui professora "!...

Naquela escola "vivi" como disse, cerca de trinta e seis anos.
Lá me nasceu a minha filha mais nova ... lá criei laços, realizei sonhos, construí afectos.  Afectos que nunca se destruíram até hoje, na generalidade.
Lá me partilhei com todos, fossem empregados, colegas, alunos. Afinal, todos juntos éramos uma "família"!
Para lá, entrei com um montão de sonhos, esperanças, creres…mas também de dúvidas, medos e angústias no peito !

Ainda se "remava" na altura, numa só direcção.
Ainda não coabitávamos em "campo minado" !
Ainda não víamos no nosso par, um potencial "rival" ... Sim um amigo, um companheiro de jornada, quase um irmão !

Aprendia-se com uns, ensinava-se a outros ... Aprendia-se sempre muito mais que se ensinava !...
A entreajuda, o companheirismo, o trabalho de equipa norteavam os nossos ideais ... ninguém era "mais" que ninguém ... todos éramos aprendizes uns dos outros, nas vidas divididas.
A meta ... a "perfeição"...ou a aproximação da mesma, já que esta não existe !
A luta ... era pela formação de "gente", gente inteira, genuína, com valores ... Gente que continuaria a nossa estrada futuro adiante ... na ética, no respeito do indivíduo, dos valores humanos e sociais ...

Guardo memórias indestrutíveis, que são o espólio precioso da minha vida !
Guardo afectos até hoje, de pais de filhos, que também já passaram pela minha escola !
Guardo o calor da amizade sentida, de todos quantos dividiram comigo, espaço, tempo, vida !...
E estou grata, por tudo o que me foi dado, generosamente, porque tudo afinal, fez de mim também, a mulher que sou hoje !...

Como homenagem bem singela, deixo aqui um poema que ofereci em jeito de despedida, aos meus alunos, no último ano que leccionei.
Também vo-lo ofereço !...




 




ESCOLA SECUNDÁRIA DA AMADORA
Ano Lectivo de 2008/2009

AOS MEUS ALUNOS E AMIGOS
DAS TURMAS 11º e 10º B

“Até breve…”

Dizer adeus
e ver-te seguir em frente
mesmo ainda que o presente te seja penoso e duro,
acredita, vale a pena,
“se alma não é pequena”,
ser lavrador do amanhã,
tecer de esperança o futuro!

Mas…
Dizer adeus,
é também um até breve…
Alguém o disse, e estaria na razão.
Fomos companheiros,
Amigos verdadeiros,
E ser amigo, é um pouco ser irmão!...

Eu sou um marco da estrada…
Eu fico, tu vais partir…
Mas já me sinto feliz
se te ajudei a seguir…
Nada tenho p’ra te dar…
Tu já tens tudo contigo!...
Contudo, podes levar
a certeza de apertar
p’ra sempre, a mão de um amigo (a)


Ano lectivo 2008/2009  (talvez o meu último ano como docente)

Um grande beijinho de felicidades
da professora de Física e Química

Anamar

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

" APENAS ... "

Na vida, os perfis estão definidos.

Há estereótipos de tudo, perfeitamente alicerçados ...
É esperável que "mãe" seja isto, "avó" seja aquilo, "filho" tenha outro estatuto, "indivíduo socialmente enquadrado" obedeça a determinado figurino ... é espectável que - tendo-se responsabilidades profissionais - as mesmas se honrem, e não se desvie um milímetro do considerado "lógico" e "obrigatório" ... é "obrigatório que se crie e se mantenha um determinado "boneco", sempre de acordo com o que está na cabeça das pessoas, da sociedade, do Mundo.
Quem desvia, é marginal, é "outsider", é desenquadrado.

E logo aí, leva com uma carga emocional em cima, profundamente negativa.
Se não o for pelos juízos de valor que sobre esse indivíduo caem ( o que seria o de menos ), sê-lo-á pela culpabilização que a sociedade lhe infere, pelo facto de ser diferente, ou digamos, não conseguir ser igual.
Como sempre, ser igual aos iguais, não criar conflito, ser cinzento, ser "flat", ser "discreto" na forma como se pauta, não confrontar ... dá muito menos trabalho, é sempre mais cómodo, provocaria menor desgaste.
A droga, é que nem sempre se consegue, e nem sequer é por teimosia ou incoerência ... É porque é assim ... somos assim ... funcionamos imperfeitamente assim !!!

Eu tenho muito essa questão, a agitar-me turbulentamente os neurónios, sempre, e a apertar-me o coração ... As pessoas nem imaginam quanto !

Eu sou filha, sou mãe, sou avó.
Eu tive uma vida extremamente castradora, não que o fosse intencionalmente para me infligir danos, mas o que é facto, é que infligiu, e muito !

Fui filha única de pais "velhos" (  trinta e quarenta e oito anos ) , vivi numa época em que se vivia apenas e só, o que nos deixavam viver, em que se aceitava porque não havia como discordar, em que a dialéctica ou sequer o diálogo entre pais e filhos, não existia.
Era assim ... os de hoje não entendem, nem podem, claro .  Os da mesma geração que eu, conhecem-no claramente.
Sempre fui rebelde ;  sempre lutei por "espaço", pelo "meu espaço", e dificilmente me conseguiram "encarneirar" em rebanho.
Fui por isso, sempre ovelha fora do redil, quando e como podia ...
Contudo, repito, este "poder" era extremamente relativo e limitado ainda assim ...

Casei era uma criança ; tinha na altura dezanove anos e uma mão cheia de ilusões.
Penso que acreditei que ganharia com isso, um estatuto de autonomia e de posse do meu próprio destino.
Apenas então, o meu destino estava obviamente cruzado com outro, e se não os mesmos, outros "figurinos" se desenharam ...
Era uma mulher casada, com família constituída, com uma célula familiar que deveria ser convencional,  "calminha", seguindo os trilhos ditos normais e inerentes ao que se desejava : trabalhar, ser dona de casa, ter filhos, eventualmente netos, ser filha dedicada ( porque única, de pais a envelhecer a olhos vistos ), ser uma boa ou de preferência excepcional profissional, ter dedicação à casa, ou melhor, ao "lar", como estaria destinado ...

E fui indo ... fui indo, de facto !

Se fizesse um gráfico da minha vida, pareceria o registo electrocardiográfico de um doente acabado de morrer ... uma linha recta, sem picos ou depressões ... o registo do mar na maré baixa ... a ausência de brisa num dia irrespirável de calor !

E fui indo ... fui indo, de facto ... pautando-me o melhor que podia e conseguia, pelo que de mim se exigia, não me desviando da margem do riacho que estava escolhido para a minha vida !

E o tempo passou ... aliás, passou tempo demais !

Criei filhas, trabalhei ( fui considerada e reconhecida pelos meus pares e por quem de mim dependia ), fui uma "boa filha", como era "obrigação" e "justo" que fosse, fui esposa, ( novamente de acordo com os arquétipos estabelecidos ), construí e decorei casas ( lindas, mas sem alma ... carregadas de mim em cada centímetro quadrado ... Contudo impessoais, por frias, demasiado "arrumadas", demasiado "convencionais", porque sem Vida ... Aquela vida que, quando vivida, "bagunça", desarruma, grita, agita ... enche de choros e de gargalhadas os lares onde se faz ... ) !
Enfim, tudo, tudo direitinho, o melhor possível, o melhor que fui capaz !

E eu, como a "Bela Adormecida" das histórias da minha infância ... a dormir na torre do castelo ... sem perturbações.
Até um dia ... um dia em que, mesmo sem príncipe, acordei.
Acordei, porque aquele sono profundo já havia "virado" pesadelo, e os pesadelos fazem-nos normalmente acordar.

Abri as janelas, sacudi o mofo, olhei o céu cá fora e o sol que espreitava, e decidi que de "masmorra de alma", tinha que chegasse ...
Nesse dia, a minha vida mudou. E comecei a aprender a viver ...

Muito complicado ... tudo muito complicado.
Como uma criança nos trambolhões dos primeiros passos, como uma criança que se embrulha nos próprios pés ...
Muito sofrimento, muita mágoa, muita dor ... mas também a realização de quem galga a montanha a "pulso", sem ajudas ou empurrões.
Criei uma nova existência, uma nova consciência, um novo percurso ... Mais certo, mais errado ?  Não sei ! O meu, simplesmente ...
Muito imperfeito certamente, muito incompleto, a tactear, a tactear todos os dias ...  A errar aqui, para acertar ali ... provavelmente a errar mais, que acertar.
Mas sinto-me uma "resistente" e uma "vencedora"...
Já caí muitas vezes, já sossobrei outras tantas, já chorei lágrimas até secarem, mas também já ri muito ... já sorri às vezes sozinha, para mim mesma, para dentro do meu coração !
Já acreditei e já fui traída ... vezes demais !
Mas sempre continuo a acreditar, e por esse acreditar, já vale a pena !
E sempre espero ... sempre continuo a esperar. Esperar por amanhãs, que tenho fé, ainda me consigam ressarcir de tanto tempo na "torre do castelo" ...

Espero por compreensões que parecem demorar a chegar, espero por entendimentos e aceitações que quase nunca vêm ...
E sou diferente !  Se calhar sou !!  E fujo aos tais parâmetros que ficaram lá para trás, porque cansei de os viver !
Fujo à previsibilidade que de mim esperam, porque se calhar fui previsível tempo demais, durante "uma vida" ...
Defraudo muita gente que não aceita o perfil que tenho hoje, é provável ...  Dentro de mim tenho ânsia de recuperar tempo, de viver fora de horas o que deveria ter vivido nas horas certas ...
Não encaixo em padrões pré-definidos e previstos ... e não consigo encaixar por mais que me esforce !...
Não caibo no "modelito" social e familiar decidido para as mães da minha faixa etária, menos ainda para as avós da minha faixa etária ...   Fazer o quê ??!!...
O meu tempo vive-se de facto em contra-ciclo, vive-se ao arrepio dos anos, talvez de mim mesma ...  Fazer o quê ??!!...

Magoo-me se me confrontam com essa realidade, que parece aberrante ... sinal que não me entendem, sinal que não conhecem o meu sofrimento ...
Porque, na realidade, travo uma luta interior diária, comigo mesma, apesar de tudo ;  uma luta que defronto entre o esperável e o que na realidade sou de facto ... E sempre me sinto obviamente em falta, obviamente omissa, obviamente não cumpridora ...
E às vezes penso : "Que raio de destino o meu, que ( por estar fora do que me exigem e exigiram, antes e depois ), sempre erro, sempre estou em permanente falta ou défice, para com tudo e todos "??!!...

Nem sempre consigo ter as costas "tão largas" que aguente ...
Nem sempre consigo encolher os ombros, e dizer : "Que se f..... a taça" " ... Lamento !!!
Sou como sou ! Se calhar, o cúmulo da imperfeição !
Sou como apenas sei ser ... não como "escolho" ser "ser" !!!...  Lamento !!!

Mas hoje, sou "eu mesma" ... APENAS !!!

Anamar

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

"PARA REFLEXÃO ... "

 
Este meu espaço, é também um espaço de divulgação de 
tudo o que merece ser conhecido.
 
E disso me orgulho muito !
 
Deixo-vos pois, hoje, aqui este fabuloso texto, 
inteiramente à vossa reflexão. 
 
 
MEDINDO AS RIQUEZAS DO SER HUMANO!!!
  
 
Fabuloso texto escrito por Catón, jornalista mexicano.  
  
 
“Tenho a intenção de processar a revista "Fortune", 
porque fui vítima de uma omissão inexplicável. 
Ela publicou uma lista dos homens mais ricos do mundo,
e nesta lista eu não apareço.
 
Aparecem: o sultão de Brunei, os herdeiros de
Sam Walton e Mori Takichiro.  
Incluem personalidades como a rainha Elizabeth 
da Inglaterra, Niarkos Stavros, e os mexicanos Carlos 
Slim e Emilio Azcarraga.
 
Mas eu não sou mencionado na revista.
E eu sou um homem rico, imensamente rico. 
Como não?  Vou mostrar a vocês:
 
Eu tenho vida, que eu recebi não sei porquê, 
e saúde, que conservo  não sei como.
 
Eu tenho uma família, esposa adorável, que ao 
me entregar sua vida me deu o melhor para a minha; 
filhos maravilhosos, dos quais só recebi felicidades; 
e netos com os quais pratico uma nova e boa paternidade.
 
Eu tenho irmãos que são como meus amigos, e amigos 
que são como meus irmãos.
Tenho pessoas que sinceramente me amam, apesar dos 
meus defeitos, e a quem amo apesar dos meus defeitos.
 
Tenho quatro leitores a cada dia para agradecer-lhes 
porque eles lêem o que eu mal escrevo.
 
Eu tenho uma casa, e nela muitos livros (minha esposa 
iria dizer que tenho muitos livros e entre eles uma casa).
 
Eu tenho um pouco do mundo na forma de um jardim, que todo 
o ano me dá maçãs e que iria reduzir ainda mais a presença 
de Adão e Eva no Paraíso.
 
Eu tenho um cachorro que não vai dormir até que eu chegue, 
e que me recebe como se eu fosse o dono dos céus e da terra.
 
Eu tenho olhos que vêem e ouvidos para ouvir, pés para 
andar e mãos que acariciam; 
cérebro que pensa coisas que já ocorreram a outros, 
mas que para mim não haviam ocorrido nunca.
 
Eu sou a herança comum dos homens: alegrias para 
apreciá-las e compaixão para irmanar-me aos irmãos que 
estão sofrendo.
 
E eu tenho fé em Deus que vale para mim amor infinito.
 
Pode haver riquezas maiores do que a minha?
Por que, então, a revista "Fortune" não me colocou na 
lista dos homens mais ricos do planeta? "
 
E você, como se considera? Rico ou pobre?
 
Há pessoas pobres, mas tão pobres, que a única coisa 
que possuem é .....DINHEIRO.
 
Armando Fuentes Aguirre (Catón)
 
Anamar 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

" EX "



Não há nada mais difícil e improvável de se retomar um dia, que as relações com os "ex".

"Ex" qualquer coisa ... "ex-maridos", "ex-mulheres", "ex-amigos", "ex-amantes" ... porque o que é perene, nunca é "ex".
Filhos não são "ex"...não há "ex-pais", "ex-mães",  "ex-netos" ... não há "ex-irmãos", e amores com "A" não são nunca "ex" ...

Faz parte da condição de ser "ex", uma carga emocional negativa, e essa não se vai com a mudança de estatuto.
Às vezes tenta-se superar, relevar, pensar que esquecemos, mas a situação sempre continua incómoda e latente, e não há boa vontade que nos valha.
Alguém que foi muito "nosso", e passou ao outro estatuto, está definitivamente maculado no nosso coração, "assinalado" com qualquer ou muita coisa, que nos foi marcante, irreversível, determinante, e que não conseguimos superar.

Admiro, e não entendo alguns casais ( e na sétima arte temos exemplos ), que fazem duas e três tentativas de reatar relações que já foram.
Para mim, é o chamado cúmulo da esperança, da boa-fé e da persistência ... se calhar, da burrice ... não sei !
Quantos amigos que o foram, por vias do destino deixaram de o ser, por incompatibilização motivada por divergências, mal entendidos, falhas, omissões ?
Os ressentimentos persistem mesmo que se tentem ultrapassar ;  as "raivas" ficam, juntamente com as mágoas que se agigantam, e impedem a criação de novas "pontes".
Todos somos humanos ... nunca super-homens ...

"Homens de boa-vontade", apregoa a Santa Madre Igreja ... mas normalmente apenas nos dogmas e nos livros sagrados !!
Na verdade, todos somos feitos da mesma massa imperfeita, incompleta, todos temos profundas limitações, e quem deu "a outra face", dizem que foi Cristo ...

Se mais não fosse, bastaria a presença daquele ser que nos lembra um falhanço, nos estende sempre um dedo acusador, representa uma aposta gorada ... para inviabilizar o retorno e a retoma do que já foi caminho único, e se bifurcou.
O ser humano não lida bem, nem sequer "normalmente" creio, com o fracasso ... e a ruptura é sempre de responsabilidades imputáveis às duas partes.
Sem dúvida, aquele que se tornou o nosso "alvo negativo", ( e que leviana e comodamente sempre tendemos a responsabilizar ), é, efectiva e simplesmente, apenas um dos lados da questão, e no nosso íntimo, bem sabemos que as responsabilidades estão perfeitamente divididas, e que se aquele ser é um "ex" meu, eu também sou uma "ex" dele !

Creio que estórias de vida deste teor, todos temos nas nossas vivências.
Ou rupturas conjugais ( ou simplesmente e tão penalizante como ), diria, rupturas de amizades, amizades de anos ... quantas vezes sem motivos plausíveis ou justificáveis ... mas que ficam inadiavelmente por resolver ... e pronto ... o afastamento magoado, dita o resto ...
Nunca mais aqueles voltarão a ser os amigos de antes, ou sequer amigos !

Se as relações conjugais destruídas são devastadoras, como é óbvio, porque representam apostas muito sérias de vida ( ou deviam representar ), com toda a inerência conjuntural que desencadeiam, de consequências extremamente gravosas ( até porque já estenderam ramificações a terceiros, resultantes dessas relações ) ....... eu diria que as relações de amizade, doem tanto ou mais que essas!

A escolha e eleição de amigos, sobretudo os que vêm da infância e adolescência, obedece a uma pureza de ideais afectivos, inerentes à idade que então se tem.
São escolhas desinteressadas, incondicionais, desarmadas, ingénuas, puras, determinadas apenas por aquela cumplicidade e gosto de dividir, partilhar, miscigenar estares, pensares, sentires, sonhos, vontades ...
Os amigos escolhem-se, e assumem códigos comportamentais uniformes ; partilham gostos iguais, interesses iguais, sonhos iguais, excentricidades até, também iguais.
Adquirem o espírito do grupo ou clã em que mergulham, e tornam-se  numa espécie de elos de correntes, que puxam para um mesmo lado, cerram fileiras à sua volta, defendem um só reduto ...

Os vectores que levaram a que se escolhessem, não têm outras componentes que não as do coração e dos afectos ... Não têm intencionalidades encapotadas, interesses escondidos, não há outro tipo de impulsos ( biológicos ou outros ) que o determinam.
O desmoronar de edifícios assim criados, é um tsunami avassalador, é uma frustração destruidora, é uma mágoa, que acredito, nunca mais se resolve.
"Viram" irremediavelmente "ex", no momento em que viram também as costas.

As ligações conjugais, para lá de todas estas componentes referidas, igualmente presentes ( porque afinal também deverá existir uma amizade subjacente à criação do casal ), tem depois toda uma cumplicidade resultante da atracção e aproximação físicas, que surgiu ( vá-se lá saber porquê ... ), a qual, uma vez quebrada ou ferida, resulta num corte doloroso que não estanca, num sangramento de alma que nos vai exaurindo, consumindo, "apodrecendo" ...

As marcas personalísticas e comportamentais deixadas em consequência, são muitas, resultam indeléveis e portanto irremediáveis e nunca superadas, e condicionam os implicados em termos futuros.
Claro está que o estatuto de "ex-de tudo", e também de Vida, está instalado, cavou um buraco intransponível, abriu um caudal truculento, sem ponte que o atravesse, delimitou fronteiras absoluta e definitivamente inexpugnáveis ...

Neste contexto, como se poderá / poderia alguma vez mais, retomar então essa relação, ou acreditar ser possível voltar a pintar esse quadro, de novo com cores de arco-íris ???!!!...

                                        
Anamar

" MARGOT "


Margot subiu ao piso de cima.
Estava cansada, exausta mesmo, mas a voz de Giselle ordenara ... não havia escolha. Mais um cliente aguardava no quarto do primeiro andar.  Não havia outras "meninas" disponíveis, e mesmo que houvesse, ele escolhera-a a si !
Naquele momento, como em quase todos, quereria morrer.  As coisas só se tornavam menos penosas, quando "metia" uns copos, da garrafa que escondia entre os seus parcos pertences.
Com eles se anestesiava, com eles se atordoava ... através deles, esquecia.

A sua vida era curta ainda, mas longa demais em sofrimento.
Lembrava os tempos em que na pequena casa em que vivera, com o quintal das sardinheiras e o jacarandá ao fundo, sonhava que os seus sonhos se cumpririam um dia.
Gostava de se sentar à tardinha, quando a canícula se abatera ( e já corria uma breve aragem abençoada ), debaixo da única árvore do quintal, jardim sonhado por si ...
Fora ela, com as suas mãos que a plantara, e todos os anos, como que agradecida, ela se adornava pujantemente de lilás, se enfeitava, como quem vai p'ra uma festa !

A planície de sobreiros e azinheiras, prolongava-se sem horizontes, para além do quintal, até onde a vista alcançava e a terra tocava o céu !
As andorinhas, as garças, as cegonhas, os cucos, os melros, no início das Primaveras perambulavam por ali ... pássaros livres, sem medos ou limites.
Os campos sempre se bordavam de macela, papoilas, esteva ... tufos de giestas ao fundo, junto do ribeiro que por lá corria ; a urze também se perdia, salpicando o montado ...
Flores da sua infância, quando corria solta pelas terras, feito um potro sem freio, para apanhar raminhos e oferecer à mãe !!!

Onde estavam hoje essas flores ??
Onde estava hoje a mãe, o quintal do jacarandá, a brisa da tarde que acalmava o fogo que emanava da terra ??!!
Tudo perdido lá para trás, numa vida que Margot raramente queria lembrar, raramente podia lembrar !

Hoje a sua realidade era aquela casa de pesadelo, aqueles homens de pesadelo, até o seu nome era pesadelo que a atormentava em noites sem sono ...

Margot subiu ao piso de cima.
Entrou no quarto, iluminado apenas por uma meia penumbra do dia que começava a cair.
Ele estava sentado na cama, de costas para a porta, como que preso em pensamentos.  Quase não deu por ela entrar ...
Ah !  Era "aquele" homem, quase o único homem que a tratava como gente, naquela casa.
O homem que a escolhia, e muitas vezes apenas a acolhia nos braços, e no colo que lhe tinha ficado tão longe !...
Nunca o percebera, não sabia sequer o seu nome, não sabia por que ele sempre a preferia às outras, mesmo quando disponíveis.
Não conhecia os seus segredos íntimos.
Ele falava pouco de si, mas do pouco que falava, Margot sabia-o sensível, doído, com um peso de alma inexplicável.
Costumava aparecer meio cabisbaixo, entristecido, parecia, mas tinha uma forma doce de a olhar, de a "ver" ... até de a acarinhar ...

O "homem sem nome",  tinha dentro de si um segredo do tamanho do Mundo, que devia pesar-lhe e o tornava muito "pessoa" ...isso, Margot  pressentia-o claramente.

Naquela casa, naquela vida, era difícil não se ser "invisível", irrelevante, nada !
Era difícil que alguém pudesse ser uma "mulher", verdadeiramente para alguém ... pouco mais que objecto, coisa de utilidade prática, vaso onde se despejava toda a imundície das estórias e das vidas.
Tudo era demasiado impessoal, doidamente impessoal, agressivo e triste !

Naquela casa, Margot era simplesmente a "Margot", uma "menina" mais, sem história, sem passado, sem destino ...
Também, a quem interessaria que ela tivesse tido um quintal de sardinheiras com um jacarandá ao fundo ?!
A quem interessaria que ela tivesse gostado de ouvir os trinados dos pássaros, no fim das tardes de Agosto, quando o calor amainava ?!
A quem interessaria que ela tivesse tido mãe, a quem oferecia raminhos de flores catadas nos campos, quando por eles corria, em criança ?!
A quem interessaria que Margot tivesse sonhado um dia, e acreditado, que os seus sonhos viriam a concretizar-se ?!
A quem interessaria que Margot não fosse de facto Margot ?!

Olhou-o, esboçou um sorriso ( normalmente o seu sorriso nunca era feliz ), e acariciou-lhe lenta e docemente a cabeça ...

Foi então que o "homem sem nome" lhe estendeu o mais bonito ramo de margaridas silvestres, que colhera para ela ... As primeiras, desabrochadas por entre os frios do Inverno agreste, que ainda se fazia sentir !!!...

Anamar

sábado, 11 de fevereiro de 2012

" GOSTO, NÃO GOSTO, PARTILHAR, COMENTAR "




Gosto, não gosto, comentar, partilhar... o Facebook  no seu melhor !

Ultimamente as redes sociais andam a fazer-me "comichões cerebrais".
Entra-se muitas vezes por curiosidade, por brincadeira, com mais ou menos boas intenções ... às vezes mais más, que boas ... mas entra-se.
Neste mundo, há que conhecer, para analisar, para concluir ... parece-me.

Há pouco tempo, depois de conhecer outros espaços, reactivei o FB, onde já "estivera" há uns dois anos atrás, tendo então cancelado a inscrição.
Achava eu, ser esta rede algo diferente das típicas redes de "engate" generalizado, passo a expressão ...

Afinal neste momento, há o mito de que quem não tem FB não é ninguém ... faz parte do estatuto de ser "gente" ... rsrsrs
Receio mesmo que um destes dias, seja condição "sine qua non", se possa aceder a certos cargos ou posições sociais, que faça parte integrante do CV de cada um, e mais ... que ainda, numa qualquer remodelação governamental, se exija que tal situação deva vir averbada no Cartão de Cidadão !!!  :))

Quando por lá passara anteriormente, o mecanismo de funcionamento do espaço era-me confuso.  Não estive também tempo suficiente para o descodificar, embora continue ainda agora ( que estou mais "esperta", informaticamente falando ), a achá-lo não muito intuitivo efectivamente, e não muito claras as explicações que nos são fornecidas, para protecção dos utentes.

Neste momento, tudo se trata, no e pelo FB ...
Cumprimenta-se, distribuem-se abraços e beijinhos a esmo, trocam-se picardias, desenterram-se "amizades", que não fora esta "tecnologia de ponta", e "pufftt "... teriam sumido de cena.
Convocam-se reuniões laborais, parabenizam-se pessoas, combinam-se chás ou cafés que se concretizarão ou não ( isso é o de menos ... ),  faz-se o pingue-pong das ideologias políticas, e fica-se, fica-se, fica-se até às quinhentas, madrugada fora !...

Depois há aquela faceta "MUITO" cultural ( rsrsrs ), assaz ORIGINAL ( rsrsrs ) ... a procura e escolha no youtube de notícias frescas, novidades musicais ... tudo o que seja ou possa vir a ser um "boom" informativo, de preferência à frente de toda a gente ...
Sermos o "primeiro jornal" a apregoar isto ou aquilo, acaricia o ego duma tal forma , que até parece que ganhamos o dia ... ou a noite !!!

Há também os sites de anedotas ( algumas com barbas ) e humor, com imagens, sem imagens, os sites das palavras "trocadas", "sentidas", "ilustradas" ... ( aliás há palavras de tudo ... rsrsrs), de pensamentos, que obviamente já foram pensados e criados por alguém ( porque creio que já está tudo inventado !... rsrsrs ) ... as "cenas maradas" e outras menos ... e que nós ufanamente transportamos para o nosso espaço ...
Há os sites de "letras", "História", espaços de divulgação cultural e política, para os menos básicos, os cartoons ... enfim, de tudo um pouco !
E vá de botar ... à consideração dos demais ... sempre de olho no "feed-back" do pessoal.
E é aí que começa o "gosto", "não gosto", "comentar", "partilhar" ...

Distribuem-se polegares empinados, à borla por tudo quanto é postado ...
Os comentários são sempre menos, porque afinal dão mais algum trabalhinho ...
Depois "rouba-se" ( até porque tudo aquilo não é verdadeiramente de ninguém ), e distribui-se pelos amigos, que se encarregarão de redistribuir pelos próprios amigos, e quando damos por nós, estamos numa estrutura em pirâmide de amigos, de amigos, de amigos ...
E de repente, temos sem querer, uma multidão de "amigos", sendo que a maioria nunca os vimos mais gordos !
Com uns, "vamos com a cara" ( quando lá a colocaram ) ... com outros, não nos agradam nem a fuça nem a postura.

Alguns alargam as penas e abrem o leque de pavão que têm em si ;  alardeiam os grandes princípios e valores muito louváveis que os norteiam ... Vêm então aquelas máximas foleiras de desgastadas : "Gostas de exclusividade ? Aproveita, que eu sou de edição limitada " ... " Habilidosa, Criativa, Aventureira, Boa Amiga, Boa amante... Isso tudo ???? Que fixeeeee !!!..."  "Eu não tenho mau feitio ... tenho personalidade!" 
"Se alguém lhe fechar a porta, não gaste energia com o confronto, procure as janelas. Lembre-se da sabedoria da água: a água nunca discute com seus obstáculos, contorna-os "...
E a seguir vêm os "amigos" :  " É assim mesmo, amiga "!.... ou  "Não fosses tu quem és, querida ...por isso ninguém te derruba"!... blablabla...
Uma troca de galhardetes espantosa ... troca de bandeirinhas, afagos na alma em público, portanto muito modestos, como se vê !!!  Hipócritas nalguns casos ( topam-se à légua !... )

Há ainda os "alucinados brincalhões", que soltam a criança que há em si ... e desvairam na compra de porcos, galinhas, ovelhas, frutas, terrenos, flores ... para uma "quinta" que pelo menos detêm por aqui ... Menos mau !...

Exibe-se a família ... apregoam-se os dotes das criancinhas ... que invariavelmente são sempre "fofinhas", "queridas", "amorosas" ... "tão crescidas !"... altamente capacitadas ... prodígios ou portentos !!! rsrsrs

Há também quem aproveite para se "mostrar" ...
Mais os "atributos" físicos, que outros, obviamente ... Com alguma frequência, tristemente ... mas nem dão por isso !
Pode ser que "desencalhem"!!!.... :))
Há as pretensões claramente expressas : "Interessada em ..."  "Interessado em ..."  e aí, a rede social vira igualinha às outras, até porque também, para lá do que é exibido publicamente "ao sol", há depois o correio por "debaixo do pano" ... as mensagens privadas e o próprio "messenger" anexado !!!

Enfim ... tudo como dantes ... tudo a mesma "droga" !!!...

Apenas,  nós todos ( em rebanho ) ... bem mais realizados, bem mais ricos, bem mais FELIZES ...
 
Afinal temos Facebook, carago !!!...
                                                                
Anamar

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

" ELEGIA DO AMOR "



O "dia do amor" está a chegar ...

Ahahah ... como se devesse haver um dia para o amor !
Como se o amor fosse de datas, como se o amor fosse entre mim e ti ... entre mim e nós, e não devesse ser entre mim e o Mundo, nesse e em todos os restantes dias do ano, de todos os anos !!!

A "irisipela" que contagia quem dele não se lembra a maior parte do tempo, simplesmente porque não o tem no coração, começa a "sentir-se". "Ouve-se" claramente o "brouhaha" de alguma que outra compra, com ursinho, sem ursinho, com coração ou não ... sempre vermelhos porque, em tese, o amor é ardente, e vermelho é a cor do fogo, da chama da paixão.

Já escrevi muito sobre este dia, todos os anos é recorrente que este é um tema sempre apelativo, e portanto já o abordei de vários ângulos, que pretendo não repetir.
Continuo no entanto, a manifestar-me acérrima opositora dos tais dias "de decreto", como lhes chamo ... das tais hipocrisias sociais determinadas por calendário de homens ... e nada há de mais "falível" que o Homem !

Quando todos os dias as queixas na APAV aumentam, quando ao longo do ano os homicídios entre casais se verificam, os maus tratos domésticos disparam, os crimes de abusos sexuais contra crianças, em casa mesmo ( no núcleo familiar que deveria ser intocável ) crescem, o abandono, negligência e exclusão social, de idosos escorraçados também das suas gentes de sangue ... quando a desumanização "se sente" a progredir exponencialmente a olhos vistos, quando não conhecemos o nosso vizinho de prédio, quando o país, a sociedade, o Mundo se desresponsabilizam de "AMAR" ... vêm falar-me em Amor ??  Em dia de rosas vermelhas com corações aos pulos ??!!...

Não quero ser "velho do Restelo", não quero ser do contra sistematicamente, não quero ter inevitavelmente "mau feitio", mas por favor ... parem de inventar e pratiquem ... pratiquemos mais, muito mais !!

Tudo aquilo, são formas de ausência de amor, e o amor não é propriedade privada e particular, dos namorados e casaiszinhos de adolescentes, quando o céu está sempre azul e o sol sempre brilha !
Quando a vida corre cor-de-rosa, por macia ... e macia porque as vivências ainda não lhes mostraram que o "caldeirão", tem mais, muito mais lá no fundo ...

O amor semeia-se, cultiva-se, aduba-se, rega-se, acarinha-se .
O amor sonha-se, deseja-se, protege-se e pratica-se ...
Exige-se que seja festejado todos os dias das nossas vidas ... quero festejá-lo todos os dias enquanto viver ... deveria ser a mola impulsionadora deste Mundo desencantado, em que moramos ...
É universal, é lato, é generoso, é de coração sem portas, e não simplesmente o amor das rosas vermelhas, compradas a correr, só porque inventaram que o S. Valentim havia de ser protector das floristas, num belo dia de Fevereiro de cada ano !!!

Não me alongo mais !  O meu "protesto" fica ... vale o que vale!...

Mas como do AMOR, o tal com quatro letras todas maiúsculas, sou uma "devota", e praticante até exagerada ... o Amor afinal glosado de todas as formas, por todos os poetas, transversal a todos os tempos ... o Amor que nunca se gasta, cantado por tantas bocas, que nunca se exauriu nem "vulgarizou" ... o Amor por AMAR, tão simplesmente ... o Amor imaterial, que passa em "cordões invisíveis", que nos enleiam porque somos gente e nos tocamos ....

A esse ... faço-lhe aqui uma elegia, uma elegia no feminino ... pela voz imortal  ( que como ninguém o expressou ), de Florbela Espanca, mulher ... eternamente mulher de sonhos e paixões, de sentimentos e devaneios, de loucuras e de dor .....porque AMOR, afinal ... também rima com DOR !!!...

E, como não poderia deixar de ser, pela voz do maior poeta português ... Luís Vaz de Camões !!!...


 Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente! 
                                                                                                         Florbela Espanca


  Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor? 
                            Luís de Camões
 
  Anamar

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

"COMO MONTANHISTAS ... "


"A vida devia vir acompanhada de manual de instruções " !...

Achei assaz curiosa a observação de um comentador aqui ao meu blogue, há alguns dias atrás.
Achei curiosa e fiquei com a "pulga atrás da orelha", porque eu sinto exactamente isso também.
Por outro lado, verifico que o tema recorrente dos meus últimos posts, me remete invariavelmente para a VIDA, vista de vários ângulos e formas de a equacionar e sentir.

Efectivamente, como eu também postava então, somos aqui largados, no maior grau de ignorância e inconsciência, e por aqui vamos,  "a  pulso", caminhando, galgando, tentando progredir, escalando ...
Ferimos os joelhos, rasgamos as mãos, batemos com a cabeça ... mas vamos andando !
Afinal, é preciso sobreviver, é preciso "acordar" todos os dias.

E caminhamos tacteando como um cego, só que nós ... sem bordão e sem cão !
Experimentamos nas sucessivas aprendizagens aqui, para aplicar acolá !
Errando mais do que acertando, e tendo consequências inevitáveis desses erros ( alguns absolutamente crassos ), quantas e quantas vezes irreversíveis !
Caminhamos como o cientista o faz no laboratório, num ensaio de proveta, em tentativas e falhanços sucessivos, passinho a passinho ... passinho de passarinho, não de gigante !...

Tropeçamos sistemática e continuadamente, como filhos, como cônjuges ... depois como pais ... enfim, como pessoas !...

Esbarramo-nos em dúvidas sem resposta, em conflitos internos, abissais e destruidores, em culpabilizações desnecessárias ... como se tivéssemos que ser "supra-sumos" desta coisa onde nos meteram ... como se fosse espectável que soubéssemos de tudo, como se fosse exigível que fôssemos eclécticos também nisto ... saber viver ... e, claro ... sem o manual, ou o tal livro de instruções connosco ! 

Caímos constantemente ... sendo que depois de cada queda, também todos acham que temos que nos reerguer, aprumar, sacudir as penas e "ala, por aqui me sigo" !
"Toma e embrulha"!  Aprende, e na próxima, vê ... antes de pores o pé !...

É um pouco assim ... ou melhor, é MUITO assim !

E nós ali, a pé firme, levando bordoada de todos os lados, fortes e hirtos, de preferência, peito feito a ventos e marés, quase imunes de tão "bons" que temos que ser ...

Mas há "experts" de VIDA ??  Que eu saiba, não !...
Há manuais do assunto ??  Que eu saiba, não !...
Há livrinhos de bolso ao menos, para uma emergência ??  Parece que esqueceram de os fabricar !...
Manuais de primeiros socorros, com pensos rápidos para as nossas escoriações ??  Idem !...
Nem um triste dicionariozinho ou prontuário de Vida, pelo menos para descodificar o significado de tantas "gaitas" em que encalhamos, ou para "escrevê-la" de uma forma correcta !!!...

E depois também acho que levam a vida a criar-lhe "ACORDOS", para que, como na ortografia, quem até a fazia sem, ou quase sem erros, passe a errar tudo, a "escrever" falhado.
Diariamente nos deparamos com "novidades" em tanta coisa com que somos confrontados ... nada que estivesse "previsto", ou de que alguma vez tivéssemos ouvido falar ...
E então, como "pau p'ra toda a obra", temos que nos adaptar, reaprender tudo de novo, experimentar tudo de novo, sofrer tudo de novo, esfalfarmo-nos mais e mais  para termos  capacidade de resposta ao "imprevisto" !...

E é uma "lufa-lufa" constante, um "corre-corre" esgotante, desencantatório tantas e tantas vezes ... para chegarmos à triste conclusão que NUNCA estivemos bem, que NUNCA correspondemos às expectativas em nós colocadas, que NUNCA, na encruzilhada, escolhemos o percurso mais adequado, sempre optando pelo mais comprido, o mais difícil, o de maiores escolhos !!...

Bolas !!! É demais !  Estamos sempre a "morrer na praia" !...

Além de que, temos que ser criativos, e verdadeiros "freelancers" também ...
Criativos, porque temos sempre que imaginar, improvisar, inventar ( para qualquer "berbicacho" que se nos depare ), como sair dele com o mínimo de efeitos colaterais, lesando o mínimo de corações abrangidos, amachucando o menos possível quem envolva na coisa, pisando o mais levezinho que pudermos os obstáculos à frente ... enfim, progredindo como "elefante em loja de porcelanas "...

"Freelancers", porque temos que ir a "todas", ou seja, jogados que somos neste "circo de feras", temos que saber mexer todas as peças do xadrês, da forma mais correcta, mais assisada, mais condigna, mais adequada possível !!...

Como tal, terei que concluir, que esta "maratona" não será de certeza, para gente "normal", pelo menos até que lhe criem um manual de instruções à altura, a acompanhá-la ( que tragamos num qualquer chip, enfiado dentro dos nossos miolos ).
Ou então, como alternativa ( e isso eu acredito que é mesmo verdade ), que lhe ampliem o prazo de validade, ou seja, como o gato, tenhamos sete vidas na totalidade, porque a sétima, seguramente, já nos sairia PERFEITA ...

... a menos que sejamos alunos absolutamente relapsos, ou então absolutamente ineptos ... ou mesmo muito burrinhos !!!...

Anamar

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

"NEM A LARANJA CHEGO " !...

Hoje sou uma pessoa pior !!

Ora bolas ... chegar a esta conclusão logo de manhã, com um dia pela frente, com uma vida pela frente ... é dose !

O ser humano tende para a perfeição, tenderá para a perfeição.
Essa a razão pela qual por cá andamos,  parece ser o desiderato de todos ... o meu também o será.

As diferentes convicções religiosas assim o publicitam, as diferentes correntes filosóficas para isso nos encaminham, as diferentes estruturas sociais ( as mais variadas ), uma profusão de entidades concebidas, criadas na essência desses valores e princípios, tendem a dar uma "ajudinha" !
Nunca se publicaram tantos artigos de opinião a propósito ...
Nunca houve tantos livros de auto-ajuda.
Nunca se apelou tanto à reflexão, à meditação, à introspecção.
Nunca tantas frases, tantas máximas, tanta dialéctica, tanto aforismo, correu Net's, revistas, tertúlias .
Nunca houve tantos cursos de saúde e bem estar, de "formação" sobre VIDA ... como se VIDA se ensinasse a alguém ... se ninguém afinal sabe, bem bem, o que ela é !!!

E no meio desta molhada toda, no meio do turbilhão ... eu estou uma pessoa pior !!!

Hoje eu sou céptica mais do que nunca ...
Hoje eu reduzo tudo a "balelas" ...
Hoje eu "adoro" aquelas máximas de vão de escada ... tipo " Você não é derrotado quando perde ... Você é derrotado quando desiste !" ... bla bla bla ...
Hoje eu sou ressabiada, sou desconfiada ... não esqueço ... talvez nem sequer perdoe !
Hoje eu bebo o meu próprio fel, e acho mais que nunca, que a vingança é um prato para comer frio ...
Hoje cultivo raivas ... não sei se ódios !...
Hoje cego e auto-descontrolo-me, quando sinto a "vida" por perto ... porque ela não augura nada de muito bom, nunca !
Hoje, muitas vezes eu como e cuspo o caroço para bem longe !
Engulo o que quero, se quero, e quando quero ... procuro não me "engasgar" nunca mais !
Já não "curto" sofismas, a fazer de conta que sim ...
Topo a falsidade e a mentira à distância, e "cheiro" no ar, o descaso e a desonestidade ...
E só embarco neles, se quero !!!...

As pessoas, cada vez menos "são" ; as pessoas, cada vez mais "aparentam" !

Atenção, que não estou a auto-excluir-me deste contexto. Aliás, estou salvaguardada pela primeira frase deste post.

Como um escorpião acossado ... talvez eu, acossada pela Vida, enterre o ferrão  venenoso no meu próprio coração !!!  Quem sabe?!...

Hoje podem "bater-me", e pensar que desta feita é que foi ... "passei-me" de vez ;  ou especular sobre que raio de tremor de terra houve por aqui, para eu estar acirrada assim ... feito "bulldozer" numa construção ...

Pois, nada ... nada de novo, absolutamente nada de novo !...

Tem dias em que tudo fica muito cru à nossa frente ;
Tem dias em que a meditação faz de "coveiro",  a reflexão, de Diabo, e as conclusões do "panelão" do Inferno ... só isso !
É dos tais dias, em que vou já avisando ... saltem a página, não provem do "limão" que hoje eu estou ... porque afinal, estou tão ácida, tão ácida ... que nem a laranja chego !!!...

Anamar

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

" INCOERÊNCIA ... OU TALVEZ NÃO " !


A vida é um fenómeno estranho...
Por mais que se viva, nunca a iremos entender.

Chegamos, instalamos "barraca", ainda não sabemos bem para quê e porquê . Também ninguém nos explicou por que num belo dia resolveram fabricar-nos. Foi assim, a maior parte das vezes calhou, e portanto aí estamos nós na forja.
Assim sendo, coisa assente, é que não nos perguntaram se queríamos amanhecer no "planeta azul", ou numa qualquer outra galáxia, mais escura, mais iluminada, mais arejada, mais bem frequentada, com "homenzinhos verdes", sem ninguém, com vida ( vida igual a esta ou diferente desta ), deserta  ou ocupada.
Ninguém nos perguntou rigorosamente nada !
Largaram-nos e fomos andando ... e fomo-nos "amanhando" como deu.
Alguns tiveram "asas", debaixo das quais se enfiavam quando a coisa dava para o torto ... outros, foram ficando ao "relento" mesmo ...

E fomos "sobrevivendo" ...

A palavra diz tudo ... a palavra reflete já por si, algo de transcendente ... a façanha de se conseguir ir além da vida, mostrando em si, que esta não é de certeza "pera doce" de se ter, e que conseguir superá-la diariamente, coisa de "super-pessoas" !

E esmurrámos os joelhos, e inventámos o sorriso quando queremos esconder outra coisa chata que temos, que são as lágrimas.
E criámos esperança ( outra palavra esquisita ), quando parece que caminhamos numa estrada de fim de linha ( sim, porque por aqui há "estradas" ... caminhos supostos serem percorridos, uns atrás dos outros, alinhadinhos, direitinhos, como mandam os códigos deste local ).
Não se pode parar para apanhar flores ( porque senão perdemos o lugar da fila ...  nem descansar à sombra de uma árvore, quando o coração parece estar em vias de parar, de cansaço ) !

Ah ... ( estava a esquecer-me ) ... chegámos apetrechados dessa "coisa" ... de um coração !!!
Uma peça que está no interior do invólucro, pesado como o raio, que tem mais o efeito de nos apertar até estrangular, do que nos deixar voar e partir, como tantas vezes nos apetecia ...
É muito mais um empecilho, do que uma ajuda de percurso ...

E sonhamos ... outra coisa que nunca se sabe o que é !
Mas eu acho que é um programa de televisão do "canal de refugo", quando não temos outros canais para ver.
E a chatice, é quando acreditamos que o programa de que desfrutámos, podia acontecer por aqui mesmo, no tal "buraco" onde nos meteram.
Mas é um puro engano, porque na verdade, não acontece nunca !
Mas nós, masoquistas que somos, persistimos ... e persistimos ... e persistimos !!!  Oh teimosia desgraçada !

Na mochila, às costas, sempre trazemos uma provisão de fé ... ou seja, umas lentes que nos permitem ver com cores de arco-íris, os "cumulonimbus" que nos pairam por cima ...
Que nos permitem ver com sol, as manhãs que acordam escurecidas ...
Que nos fazem crer que "o luar de Janeiro que não tem parceiro", vai brilhar o ano todo ... e  que nos fazem acreditar que é exactamente no dia seguinte, que a tranquilidade que a paz nos transmite, nos vai deixar repousar a cabeça cansada, e dormir um pouco, apoiando-a mesmo nas pedras do caminho !...

E dia após dia cruzamo-nos com caminheiros também já esfalfados, que nem nós.
Contam-nos que encontraram pelas veredas, uma outra "entidade" estranha, que se chama Amor, mas que é alguma coisa, que se não formos rápidos, já não apanhamos, porque é assim uma espécie de raio de luar a espreitar no meio das nuvens ... ora aparece, ora no instante seguinte, já foi !...
E por isso, é brincalhão, é falso, é desordeiro ... e provocador também !
Não se deixa nunca prender ... Extasia-nos e quase nos cega, ao aparecer, para nos deixar defraudados no instante seguinte, exactamente porque se foi, sempre a rir-se de nós, com um ar safado e gozão ... como quem diz : "Tontos !!! Básicos !!! Achavam mesmo que eu existia ???!!! Ahahah !!!
 E nós deixamos ficar o olhar comprido, bem comprido e triste, preso àquele resto de céu, por onde ele se "escapuliu" ... já com uma saudade doida a consumir-nos e a matar-nos por dentro !!!...

Saudade ... pois é ... aí está outra "bela encomenda" que nos enfiaram nas mãos !! 
Quais mãos?!
Esta, está é mesmo mais "embiocada" no tal "coração", a  peça que não nos faria falta nenhuma, e que só atrapalha !
A saudade "massacra-nos", "mói-nos" ... "mata-nos" aos poucos.
Uma vez instalada, nunca mais despega ... feita lapa, nos rochedos onde a maré bate insistente ...


E pronto ... a VIDA é de facto um fenómeno estranho !!...


Mas apesar de tudo isto ( e isso é algo que ainda não consegui descodificar até hoje ), todos a querem prolongar, mais e mais ... todos, de uma forma sádica e masoquista,  querem continuar a vivê-la ... e ninguém a quer largar de vez !!!...


Anamar

sábado, 4 de fevereiro de 2012

" E AFINAL, FOI TUDO ... ONTEM !... "


O homem do "Borda D'Água" é um romeno, magrinho, já idoso, boné na cabeça, sorriso no rosto.
É do "Borda D'Água", mas também dos pensos rápidos.
Compremos ou não, sempre sorri, sempre faz uma vénia, sempre agradece ...
Não ostenta nunca um ar miserabilista ou pedinchão. Não é chato ou insistente.  Sempre nos sentimos compelidos a corresponder à sua simpatia ... "Bom dia !... Não, obrigada !"... digo-lhe eu à saída da porta ...
Sim,  porque ele quase "mergulha" na minha escada.
Não articula um vocábulo de português. Mas sorri, com o rosto miúdo e iluminado ... e um sorriso sempre é igual em todas as línguas !

O "Borda D'Água" é também um espécime em vias de extinção.  Os antigos, como diz a minha mãe, "guiavam-se" por ele ; as culturas obedeciam-lhe, o frio, o calor, as chuvas, os ventos, até as luas ... sempre úteis para as mulheres parideiras !

Lembrei o "Borda 'Água", porque recordei como anualmente sempre recordo ( e se o não lembrasse, a minha mãe encarregar-se-ia de mo trazer à memória ), que no passado dia 2, foi o dia da Senhora das Candeias, a tal santa também adivinhatória do tempo que fará daqui para a frente ...
Digamos que uma verdadeira assessora da metereologia do Paraíso ...
Fui reler o post que eu sabia obviamente ter colocado aqui neste meu espaço no ano transacto, pelo caricato, pela ternura, pela recordação ...
Nada mais que um registo para memórias futuras ... E lá estava o que ano após ano, oiço os quase 91 anos da minha mãe, vaticinarem :  "Se a Senhora das Candeias rir, o Inverno está p'ra vir, mas se a Senhora das Candeias chora, temos o Inverno fora" ... ou seja, se o dia 2 de Fevereiro for um dia ensolarado, o Inverno estará p'ra chegar, mas se nesse dia chover, o Inverno está a acabar ...

Sempre irei seguramente lembrar com saudade, um dia mais tarde, esta faceta curiosa da minha mãe.
À boa moda da sua época, a voz do povo ainda era a "voz de Deus", e a sabedoria popular, sempre a considerar.
Hoje ela diz : " Está tudo ao contrário !...  Desde que o Homem foi à lua, que nada é como era !..."

Desde que o Homem foi à lua !!!...

"Bem aventurados os simples e pobres de espírito ... deles será o Reino dos Céus" !...

Simples de facto ... simples no sentido de não se questionar o porquê de tanta coisa. Eram objectividades, eram factos, acontecia ... era assim !
Começava a chover pelo S. Mateus, e o Inverno seguia, como o espectável, de acordo com o "figurino".  Sabia-se bem com o que se contava ... e não falhava, normalmente.

As mulheres que pariam, recolhiam em "resguardo", à cama, e eram tratadas com canja de galinha ...
Os nascituros, enfiados nuns cueiros que os "couraçavam", e lhes impediam os movimentos nos primeiros tempos ...

"Hoje as crianças já nascem de olhos abertos " !...

Tudo diferente, tudo provocadoramente diferente.

Nas alcofas, e sempre na meia obscuridade, se pareciam sonhar, e esboçavam aquele esgar semelhante a um sorriso que os bébés fazem enquanto dormem ... estavam com a "lua" !
A mãe, juntava uns pelinhos de lã de uma camisola, criava com eles uma bolinha, e com saliva colocava-lha na testa ... para passar a "lua" ...

No sarampo, o resguardo era total.  Tudo se forrava a papel de seda vermelho ... os candeeiros, as lâmpadas, as vidraças, para a criança não ficar com a "vista prejudicada" ...
Não podia encarar a luz do dia !...

Se o bébé tinha prisão de ventre, estimulava-se a excreção das fezes, com um "talinho" de couve, molhado em azeite morno ...

Se se caía e se fazia um hematoma, o Hirudoid, tão nosso conhecido, nem ainda era sonhado.  Havia um "produto" natural que resolvia o problema : as "bichas", que tanto quanto me foi explicado, mais não eram que sanguessugas ; colocadas sobre o hematoma, destinavam-se a  "chuparem" o sangue pisado.
Como ficavam cheias e inchadas, despegavam da pele. Ali bem ao lado, deveria haver um recipiente com cinza quente, para onde elas rebolariam, e onde, ao que parece, largavam o sangue absorvido ... E pronto, aí tínhamos de novo, sanguessugas recicladas, prontas a entrar em acção !!!

As "catarreiras" ou males de peito, eram miraculosamente curadas com a "grade", desenhada com tintura de iodo, nas costas do doente, na zona pulmonar.
Era um cruzado de linhas, pintadas com a referida tintura.
Não me perguntem como actuavam, porque o não sei .  Aliás ... não sei mesmo se alguém o saberia !...
Era tão simplesmente assim !...
As pessoas eram "sangradas", por uma incisão no pulso, para que, no sangue eliminado lhes saísse também o mal.
Havia ainda as "ventosas", que se colocavam nas costas, para o mesmo efeito.
A ventosa era uma espécie de copo em vidro, no interior do qual se colocava um pedaço de algodão a que se puxava fogo.  Ao ser invertido sobre a pele, por ausência de oxigénio, a chama apagava,  e como o nome indica, funcionava como uma ventosa. A pele do doente crescia para o seu interior, como que chupada  pelo vácuo criado...
Devo acrescentar que se trata afinal de uma forma de medicina alternativa, originária da China, e de há muitos e muitos anos atrás!
Os "sinapismos", que me esforcei por perceber do que se tratava, feitos à custa de mostarda em pó embebida em água morna, ou as papas de linhaça, feitas de idêntica forma, só que a partir de sementes de linho, embebiam toalhas ou panos, formando uma cataplasma que colocada sobre o peito ou costas, aliviava a tosse, descongestionava os brônquios, era terapia das afecções respiratórias.


Eficácia ???...  Desconheço !!!...

Penso que se curava quem tinha por destino curar-se ... e morria, quem via chegada a sua hora !!!

Na prisão de ventre, davam-se "clisteres". Existia para isso, na "farmácia" caseira, um famigerado irrigador, objecto em vidro, onde era colocada água morna ;
Tinha o seu escoamento feito atravás de um tubo de borracha com uma torneirinha, que abria e fechava ao ritmo desejado. A mesma, terminava numa "cânula". Essa sim, tinha o papel de verter para o intestino do paciente, a bendita água morna, a qual, passados alguns minutos ( convinha que fosse retida o máximo de tempo possível ), provocaria uma tal "revolução" orgânica, conducente à resolução do problema pendente !!!... Quais laxantes ... quais Microlaxes ... qual quê !!!

As mulheres menstruadas não deveriam tomar banho, menos ainda de mar ! E lavar o cabelo então, nem falar !!
Estavam-lhes vedadas certas tarefas, porque dado o seu "estado", as prejudicariam.
Lembro-me que uma vez teimei em fazer um bolo, porque me apetecia.  Por obra do destino, o malfadado encruou,  não cresceu, e teve por isso um fim trágico ... ( rsrsrs ).
Claro está, que a tia com quem eu estava na altura, logo me responsabilizou pelo sucedido : "Bem te disse!!!... És teimosa" !!!

Num destes dias, em casa da minha filha, o Frederico que não pára um só minuto, caíu e fez um "galo" na testa, daqueles que crescem de repente e ficam negros num ápice.
Flagrei-me a pedir rapidamente uma rodela de batata para lhe por no dito, atando-lhe à volta da cabeça um lenço para a segurar ...
Toda a gente me olhou com aquele ar estupefacto de comiseração, como quem diz : "Coitada ... desta vez passou-se "!!!.... ( rsrsrs )

Resquícios dos tempos, tão lá para trás !!!

Bem, onde eu já vou ...
Comecei no "Borda D'Água" do romeno da minha porta ...

E pergunto-me :
"Que sentido fará tudo isto, às gerações actuais, às gerações das altas tecnologias, sempre em perene desenvolvimento, das sofisticações a todos os níveis, dos conhecimentos científicos em descoberta constante e em todos os campos ... gerações ligadas permanentemente a teclados, a écrans, a virtualismos, a especulações, que de tão ficcionadas já são tomadas como reais" ??!!

Provavelmente parecer-lhes-emos verdadeiros ETs, e perguntarão como conseguimos sobreviver, para afinal lhes termos podido dar continuidade ??!!...

Anamar

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

"REFLITAMOS ! "...

Não me canso, nem me cansarei jamais, de ser grata  com quem divide comigo sempre, alguma coisa do valer a pena desta vida ...
Com quem sabe e sabe-se dar e partilhar !
Tudo isso são provas de AMOR !

Assuntos mais ou menos contundentes, temas normalmente relevantes, humor fino e de bom gosto ... notícias da actualidade, que muitas vezes são veiculadas sem que nos cheguem às mãos ... figuras públicas, ainda assim desconhecidas de muitos de nós, só porque este Mundo é imenso, e as pessoas que nele fazem história e deixam "marca", são miríades ...inalcançáveis !

Hoje, trago aqui uma personagem que eu desconhecia ... talvez também muitos de vocês.

Carlos Alberto Libânio Christo , nascido em Agosto de 44 em Belo Horizonte, Brasil ... vulgo Frei Betto.
A sua biografia refere-o como "religioso, teólogo, escritor".

É de facto um escritor e religioso da Ordem Dominicana, filho de um jornalista e de uma escritora.
Adepto da  "Teologia da Libertação", é militante de movimentos pastorais e sociais, ocupou funções de assessor especial do Presidente Lula da Silva, e foi coordenador de Mobilização Social do programa "Fome Zero".

Esteve preso por duas vezes sob a ditadura militar, em 64 e entre 69 e 73.

Tem inúmeros livros publicados, um deles relatando a resistência dos dominicanos à ditadura  ( que passou por torturas e mortes ), foi mesmo adaptado ao cinema .
Recebeu vários prémios pela sua atuação em prol dos direitos humanos, e a favor dos movimentos populares.
Assessorou vários governos socialistas, em especial Cuba, nas relações Igreja Católica - Estado.
É chamado a proferir conferências, debates, colóquios, enfim ... tudo em que o seu espírito liberal, humanista, esclarecido e claro, pode intervir, mediar e influir, ajudando ...

Apresentado que está minimamente Frei Betto, vou limitar-me apenas a deixar-vos para reflexão, estes extraordinários quanto imprescindíveis excertos, tão necessários e importantes às sociedades em que vivemos, tecnocratas, consumistas, materialistas e sobretudo ... muito "corridas".... em que o ser humano perdeu o tempo, o saber e a capacidade de reflectir e meditar ....
Em que em última análise, o ser humano perdeu, e perde cada vez mais, a capacidade de ser....... HUMANO !!!

                                      *************


Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo : a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente.
Aquilo me fez refletir : "Qual dos dois modelos produz felicidade?"


Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei : "Não foi à aula?"  Ela respondeu : "Não, tenho aula à tarde ".
Comemorei : "Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde ".
"Não", retrucou ela, "tenho tanta coisa de manhã ..."
"Que tanta coisa ?", perguntei.
"Aulas de Inglês, de ballet, de pintura, piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada.
Fiquei pensando : "Que pena, a Daniela não disse : "Tenho aula de meditação ! "
Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.


Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica ; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias !
Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.
Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos : "Como estava o defunto ?"  "Olha, uma maravilha, não tinha celulite !"
Mas como fica a questão da subjetividade ? Da espiritualidade ? Da ociosidade amorosa ?


Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra !
Tudo é virtual.
Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais.
E somos também eticamente virtuais ...


A palavra hoje é "entretenimento" ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva.
Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.
Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres : "Se tomar este refrigerante, vestir este ténis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá !"
O problema é que, em geral, não se chega !
Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista.  Ou de remédios ...
Quem resiste, aumenta a neurose ...


O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista.
Assim, pode-se viver melhor.  Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis : amizades, autoestima, ausência de stresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno.
Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral : hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center.
É curioso : a maioria dos shopping-centers têm linhas arquitetónicas de catedrais estilizadas ;  neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo.
E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca : não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas ...


Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista.
Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.
Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus ...
Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório ...
Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno ...
Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald ...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas : "Estou apenas fazendo um passeio socrático".
Diante dos seus olhares espantados explico : "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas.
Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia : ..."Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser FELIZ !!!..."

Anamar

" MAIS UMA RECAÍDA "

Este Janeiro continua lindo !

Parece prenunciar uma Primavera antecipada, pelos dias claros e ensolarados, pelo tempo seco e pouco frio.
Custa-nos a acreditar que ainda possa vir chuva, neste cenário .
Os pássaros já chilreiam, a minha gaivota já deixou mais a praia, e já me aparece por aqui de quando em vez.

Hoje fui com a minha mãe ao teatro. Foi o seu presente de Natal ... vai hoje recebê-lo, portanto.

Para mim, é simplesmente mais um domingo profundamente vazio ...
Não tenho nada sobre que escrever, nenhum assunto ou tema que me mobilize, mas preciso fazê-lo, porque tenho uma "escorrência" inquieta, que só me pacifica se o fizer.

Há tempos atrás, ocupava estes fins de semana sem história, indo até ao rio, e por lá me sentava, perdida, com o olhar perdido também ...
ou ia até Belas, ler, ao sol, no café, simpático por sinal, sobre o golfe, sobranceiro àquele verde, àquela paz, àquele sol ...

Agora noto um estranho imobilismo em mim. Uma falta de vontade de me mexer, de me sentir viva.
Os dias são curtos, as noites longas ... e dou por mim com a noite a tombar-me num ápice, fora da janela, mas sobretudo cá dentro ... dentro do meu espaço e dentro de mim.
Experimento outra vez a velha sensação de desistência, de não valer a pena, de cansaço e abandono.

Será sina minha??
Por que ironiza sempre a Vida comigo??
Por que não consigo ter, como outras pessoas, uma vida dita "normal", pacata, sem demais sustos, angústias, atropelos?...
Uma daquelas vidinhas sem altos, sem baixos, de mar flat??!!

Só por si, os tempos que correm já o são de turbilhão e montanha russa para todos ;  já o são de sobressaltos, conturbações e emoções nem sempre pela positiva, ou muito pouco pela positiva, para que os espíritos andem perturbados, assustados, inquietos ...
Se juntarmos a isso, este meu estado de espírito que hoje me assalta, temos um "mix" absolutamente explosivo.

Serei exigente em excesso, com esta coisa que apelidaram de "destino" ??!!...

Destino ... fado ... karma ??!!

Não consigo encaixar-me neste "fato", não feito por medida, e que por isso não me assenta, não me serve, não me satisfaz ... me incomoda .
Será que a minha concepção de Vida é deturpada ??

Eu, que até gosto ( e aqui tenho referido muitas vezes ), de a viver "a mil ", pareço claudicar neste momento.
Um sentido cansaço,  parece dominar-me ...

Que se passa comigo ??

Voltamos à velha história que aqui reflicto muitas vezes.  Terei uma imaturidade perene ?
Terei ficado parada emocionalmente lá atrás, e ainda focalizo tudo com o meu tradicional, quanto infantil, "olhar naïve" ??

Mas porquê ?

A vida já me ensinou demais.  Os anos que por mim passaram ( e já são muitos ), já me distribuiram "lambada" que chegasse ...  Talvez culpa minha, talvez exclusivamente responsabilidade minha, talvez incapacidade de gerir o meu próprio destino.
Não reclamo !  É objectivo !... É assim !... Foi assim !...
Aprendo pouco e mal ...  Sempre sou uma aluna relapsa, que provavelmente faz pouco o trabalho de casa, ou que então vive à margem de regras, encolhe os ombros às mesmas ...

Não sei !!!

Amanhã talvez seja outro dia !...

Isto hoje foi um desabafo, foi um post de "chacha" ( de que me penitencio ) ... foi apenas uma recaída !!!...

Anamar

Nota : Este post está a ser publicado com o atraso de dois dias, pois foi escrito no passado domingo.