segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

" EX "



Não há nada mais difícil e improvável de se retomar um dia, que as relações com os "ex".

"Ex" qualquer coisa ... "ex-maridos", "ex-mulheres", "ex-amigos", "ex-amantes" ... porque o que é perene, nunca é "ex".
Filhos não são "ex"...não há "ex-pais", "ex-mães",  "ex-netos" ... não há "ex-irmãos", e amores com "A" não são nunca "ex" ...

Faz parte da condição de ser "ex", uma carga emocional negativa, e essa não se vai com a mudança de estatuto.
Às vezes tenta-se superar, relevar, pensar que esquecemos, mas a situação sempre continua incómoda e latente, e não há boa vontade que nos valha.
Alguém que foi muito "nosso", e passou ao outro estatuto, está definitivamente maculado no nosso coração, "assinalado" com qualquer ou muita coisa, que nos foi marcante, irreversível, determinante, e que não conseguimos superar.

Admiro, e não entendo alguns casais ( e na sétima arte temos exemplos ), que fazem duas e três tentativas de reatar relações que já foram.
Para mim, é o chamado cúmulo da esperança, da boa-fé e da persistência ... se calhar, da burrice ... não sei !
Quantos amigos que o foram, por vias do destino deixaram de o ser, por incompatibilização motivada por divergências, mal entendidos, falhas, omissões ?
Os ressentimentos persistem mesmo que se tentem ultrapassar ;  as "raivas" ficam, juntamente com as mágoas que se agigantam, e impedem a criação de novas "pontes".
Todos somos humanos ... nunca super-homens ...

"Homens de boa-vontade", apregoa a Santa Madre Igreja ... mas normalmente apenas nos dogmas e nos livros sagrados !!
Na verdade, todos somos feitos da mesma massa imperfeita, incompleta, todos temos profundas limitações, e quem deu "a outra face", dizem que foi Cristo ...

Se mais não fosse, bastaria a presença daquele ser que nos lembra um falhanço, nos estende sempre um dedo acusador, representa uma aposta gorada ... para inviabilizar o retorno e a retoma do que já foi caminho único, e se bifurcou.
O ser humano não lida bem, nem sequer "normalmente" creio, com o fracasso ... e a ruptura é sempre de responsabilidades imputáveis às duas partes.
Sem dúvida, aquele que se tornou o nosso "alvo negativo", ( e que leviana e comodamente sempre tendemos a responsabilizar ), é, efectiva e simplesmente, apenas um dos lados da questão, e no nosso íntimo, bem sabemos que as responsabilidades estão perfeitamente divididas, e que se aquele ser é um "ex" meu, eu também sou uma "ex" dele !

Creio que estórias de vida deste teor, todos temos nas nossas vivências.
Ou rupturas conjugais ( ou simplesmente e tão penalizante como ), diria, rupturas de amizades, amizades de anos ... quantas vezes sem motivos plausíveis ou justificáveis ... mas que ficam inadiavelmente por resolver ... e pronto ... o afastamento magoado, dita o resto ...
Nunca mais aqueles voltarão a ser os amigos de antes, ou sequer amigos !

Se as relações conjugais destruídas são devastadoras, como é óbvio, porque representam apostas muito sérias de vida ( ou deviam representar ), com toda a inerência conjuntural que desencadeiam, de consequências extremamente gravosas ( até porque já estenderam ramificações a terceiros, resultantes dessas relações ) ....... eu diria que as relações de amizade, doem tanto ou mais que essas!

A escolha e eleição de amigos, sobretudo os que vêm da infância e adolescência, obedece a uma pureza de ideais afectivos, inerentes à idade que então se tem.
São escolhas desinteressadas, incondicionais, desarmadas, ingénuas, puras, determinadas apenas por aquela cumplicidade e gosto de dividir, partilhar, miscigenar estares, pensares, sentires, sonhos, vontades ...
Os amigos escolhem-se, e assumem códigos comportamentais uniformes ; partilham gostos iguais, interesses iguais, sonhos iguais, excentricidades até, também iguais.
Adquirem o espírito do grupo ou clã em que mergulham, e tornam-se  numa espécie de elos de correntes, que puxam para um mesmo lado, cerram fileiras à sua volta, defendem um só reduto ...

Os vectores que levaram a que se escolhessem, não têm outras componentes que não as do coração e dos afectos ... Não têm intencionalidades encapotadas, interesses escondidos, não há outro tipo de impulsos ( biológicos ou outros ) que o determinam.
O desmoronar de edifícios assim criados, é um tsunami avassalador, é uma frustração destruidora, é uma mágoa, que acredito, nunca mais se resolve.
"Viram" irremediavelmente "ex", no momento em que viram também as costas.

As ligações conjugais, para lá de todas estas componentes referidas, igualmente presentes ( porque afinal também deverá existir uma amizade subjacente à criação do casal ), tem depois toda uma cumplicidade resultante da atracção e aproximação físicas, que surgiu ( vá-se lá saber porquê ... ), a qual, uma vez quebrada ou ferida, resulta num corte doloroso que não estanca, num sangramento de alma que nos vai exaurindo, consumindo, "apodrecendo" ...

As marcas personalísticas e comportamentais deixadas em consequência, são muitas, resultam indeléveis e portanto irremediáveis e nunca superadas, e condicionam os implicados em termos futuros.
Claro está que o estatuto de "ex-de tudo", e também de Vida, está instalado, cavou um buraco intransponível, abriu um caudal truculento, sem ponte que o atravesse, delimitou fronteiras absoluta e definitivamente inexpugnáveis ...

Neste contexto, como se poderá / poderia alguma vez mais, retomar então essa relação, ou acreditar ser possível voltar a pintar esse quadro, de novo com cores de arco-íris ???!!!...

                                        
Anamar

8 comentários:

Anónimo disse...

Minha Senhora,
que espantosa análise a sua.
Apreciei muito o seu ponto de vista.
Ana Peres

Anibal disse...

Anamar,
Será que temos todos a situação de EX ?
interrogo-me sobre a sua análise.

Anónimo disse...

Concordo.
Rompeu, quebrou, não se pode reparar.O que foi bom guardou-se (numa caixinha? na mente? no coração?)e aí ficou, sem força para sair. E a Vida avança.
Malmequer

Anónimo disse...

Anamar,
Entendi muito bem o que diz.
Hoje são mais as familias monoparentais do que as que conhecemos no tempo dos nossos Pais.Lembra-se dos casamentos de branco e a noiva com flores de laranjeira? ou ainda as noivas por procuração,(tempo de guerra) na Igreja levadas ao altar pelo Pai? vestidas de Noiva branco em mini-saia lindas,sensuais e muito atraentes, interrogo-me com que sonhos e anseios viveriam essa essa noite de nupcias e qual a desilusão.
Hoje tudo é mt. mais simples e transparente, é só uma questão de EX.,excepto para algumas mentes mais conservadoras, muitas vezes curiosamente com origem em filhos ou filhas, que deveriam ter uma mente mt. mais aberta aos sinais dos tempos, pois seria suposto serem mais adaptados aos tempos que se vivem.

Jonas

anamar disse...

Boa noite Ana

Obrigada pela sua apreciação.

Apareça sempre que o entender.

Um abraço

Anamar

anamar disse...

Olá Aníbal

Penso (e acredito não errar), que cada vez mais nesta vida, todos temos seguramente um "ex" por aí!

Um abraço

Anamar

anamar disse...

Olá Malmequer

Concordas portanto comigo ...depois de partir,nem "super-cola 3" consegue juntar os cacos...

Esse, o meu ponto de vista.

Um grande beijinho

Anamar

anamar disse...

Jonas

Como percebeu, segundo penso, fácil ou menos fácil, "ex" não seriam nunca desejáveis...e sejam lá que "ex" forem, sempre deixam cicatrizes nos corações.

Mais fácil hoje??? Não sei! Creio que as "mazelas" serão do mesmo teor, talvez mais fácil a forma de as entender e aceitar.

Quanto à tónica que coloca em filhos...esse é outro departamento. Se os "ex" disserem respeito aos próprios pais, acredito não lhes ser obviamente fácil encarar a situação.
Mas esse será um assunto, então,que apenas aos pais (com direito ainda à própria vida) dirá respeito.

Um abraço

Anamar