sábado, 18 de fevereiro de 2012

" 40 ANOS ... "

Pois é, a minha escola acendeu hoje 40 velinhas!

40 anos é cerca de metade da vida de alguém !...
Lá, eu fiz cerca de trinta e seis desses quarenta ... o que significa que também para mim, lá me passou perto de metade de uma vida, neste caso, a minha!

Entrei, lembro bem, com vinte e três anos de idade.
Cara de miúda, corpo de miúda ... sonhos e vontades de gente graúda.
Estávamos em 74, o 25 de Abril tinha sido apenas meses antes, o seu sonho sonhado povoava as cabeças !

Respirava-se esperança, respirava-se convicção de luta e vitória, respirava-se fé !...
Eram tempos promissores.
O "Inverno" terminara, e com ele, a longa estação escura na vida de todos os portugueses ...  Era impossível que o que se acreditava não virasse realidade !...

Entrei na escola, dossier debaixo do braço, determinação na alma ... susto no coração ... ar sério afivelado no rosto, na convicção de que daria assim credibilidade ao "boneco".
Mini-saia não era prevaricação na altura ... Até eu casara de mini-saia, poucos anos antes.
Mas, o empregado a postos no portão, resolveu tirar dúvidas e "barrou-me" a entrada...  "Onde é que a menina pensa que vai "?...

Corou ele, e corei eu, creio ... quando, timidamente lhe disse : "Desculpe, mas eu sou aqui professora "!...

Naquela escola "vivi" como disse, cerca de trinta e seis anos.
Lá me nasceu a minha filha mais nova ... lá criei laços, realizei sonhos, construí afectos.  Afectos que nunca se destruíram até hoje, na generalidade.
Lá me partilhei com todos, fossem empregados, colegas, alunos. Afinal, todos juntos éramos uma "família"!
Para lá, entrei com um montão de sonhos, esperanças, creres…mas também de dúvidas, medos e angústias no peito !

Ainda se "remava" na altura, numa só direcção.
Ainda não coabitávamos em "campo minado" !
Ainda não víamos no nosso par, um potencial "rival" ... Sim um amigo, um companheiro de jornada, quase um irmão !

Aprendia-se com uns, ensinava-se a outros ... Aprendia-se sempre muito mais que se ensinava !...
A entreajuda, o companheirismo, o trabalho de equipa norteavam os nossos ideais ... ninguém era "mais" que ninguém ... todos éramos aprendizes uns dos outros, nas vidas divididas.
A meta ... a "perfeição"...ou a aproximação da mesma, já que esta não existe !
A luta ... era pela formação de "gente", gente inteira, genuína, com valores ... Gente que continuaria a nossa estrada futuro adiante ... na ética, no respeito do indivíduo, dos valores humanos e sociais ...

Guardo memórias indestrutíveis, que são o espólio precioso da minha vida !
Guardo afectos até hoje, de pais de filhos, que também já passaram pela minha escola !
Guardo o calor da amizade sentida, de todos quantos dividiram comigo, espaço, tempo, vida !...
E estou grata, por tudo o que me foi dado, generosamente, porque tudo afinal, fez de mim também, a mulher que sou hoje !...

Como homenagem bem singela, deixo aqui um poema que ofereci em jeito de despedida, aos meus alunos, no último ano que leccionei.
Também vo-lo ofereço !...




 




ESCOLA SECUNDÁRIA DA AMADORA
Ano Lectivo de 2008/2009

AOS MEUS ALUNOS E AMIGOS
DAS TURMAS 11º e 10º B

“Até breve…”

Dizer adeus
e ver-te seguir em frente
mesmo ainda que o presente te seja penoso e duro,
acredita, vale a pena,
“se alma não é pequena”,
ser lavrador do amanhã,
tecer de esperança o futuro!

Mas…
Dizer adeus,
é também um até breve…
Alguém o disse, e estaria na razão.
Fomos companheiros,
Amigos verdadeiros,
E ser amigo, é um pouco ser irmão!...

Eu sou um marco da estrada…
Eu fico, tu vais partir…
Mas já me sinto feliz
se te ajudei a seguir…
Nada tenho p’ra te dar…
Tu já tens tudo contigo!...
Contudo, podes levar
a certeza de apertar
p’ra sempre, a mão de um amigo (a)


Ano lectivo 2008/2009  (talvez o meu último ano como docente)

Um grande beijinho de felicidades
da professora de Física e Química

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Anamar,
O seu poema de despedida foi lindo.
Mas não acredito que tenha sido ou seja a sua despedida de ensinar, Essa Nobre Arte.
Jonas

anamar disse...

Jonas

"Ensinar" é "arte" do quotidiano, tal como "Aprender" o é muito mais!

Assim, procuro ensinar, sempre que posso, algo, pelo menos se não do meu conhecimento...da minha experiência.

Aprender, orgulho-me de o ter como exercício diário, e sistemático...certamente "até morrer"...diz o povo!

Um beijinho

Anamar