domingo, 12 de dezembro de 2010

"DIA 3 OU DIA 4..."

Começo um pouco a perder a noção do tempo.
Sei que é 12 de Novembro, sei que ontem me telefonou a Cláudia, para que a minha mãe me falasse, mas penso que por uma questão de logística temporal, apenas...sei que hoje pelas 6h da manhã me ligou a Catarina, do outro lado do Mundo, o Brasil, dizendo que lá, pensava ela, seria ainda dia 11...Estes fusos horários brincam connosco de esconde-esconde, de dia e noite...

Confesso que também estou um pouco perdida...sei que hoje às 6h fui presenteada com o meu primeiro presente de aniversário....uma baratona do tamanho de um elefante, que teimava em não me deixar o cabelo e o pescoço...isto, para lá das centenas de mosquitos, em nuvem, que curiosamente e exclusivamente nessa noite, em toda a estadia, mesmo depois do "fumigamento" diário dos quartos, resistiram em bando, pelo quarto, nessa noite...

E pensei... (depois da barata): "Cá estão eles, os sessenta...tão depressa chegaram!...
Mas depois pensei:: "o meu pai foi embora com noventa anos, a minha mãe, está a meses de os fazer"...ou seja, nessa óptica, teoricamente teria um terço de vida à minha frente....
Agora, que terço?
Nota-se bem de ano para ano a quebra nos reflexos diários: é o equilíbrio que não se faz tão seguramente, é a agilidade que claudica, é a altura do levantar o pé do chão mal calculada (e o resultado, três trambolhões que já dei no precário tempo que estou cá)...é o tolerar o calor e o sol directo com muito menor capacidade doutras épocas, é o pedir do corpo ao sono depois da quebra do almoço...comparando com as 6h da manhã em que na República Dominicana, eu já estava na praia, há anos atrás, cheia de frescura para começar a aspirar os cheiros, os sons ou o silêncio...
Agora, a cama ainda mos pede para dormir mais um pouco e fico rabugenta se o não faço...

Esse o problema; é que os dois terços vividos qualitativamente na vida, não têm, não terão nada a ver, com o que virá a seguir...
Dou por mim a verificar vezes sem conta onde coloquei coisas de responsabilidade, dou por mim a esquecer momentaneamente onde as pus...e a apavorar-me não lhes "perca o norte".
E se perder o norte do que vivi para trás?
Isso dizia-me a Lena noutro dia, expressando o receio que tem de esquecer recordações e com elas identidade, óbvio...
Eu também acho que nada haverá de mais ingrato na vida, do que esquecer o bom e o mau que ela nos deu...os rostos, as pessoas, os momentos, os felizes e os que o não foram...porque há coisas que diariamente sentimos já, entrarem num nevoeiro que se adensa...

Mas afinal, a Vida continua a pregar-me as suas "partidas";
Há dez anos atrás, numa data perfeitamente carismática, também fui surpreendida, absolutamente surpreendida, por uma festa inesperada, surpreendente e incontável, preparada pela minha família...
Hoje, dez anos volvidos e com eles, volvidas tantas e tantas coisas, incluindo a família, planeando vir quase clandestinamente para este recanto do planeta, quase nas antípodas, onde a data passaria despercebida (essa a ideia), eis que sou de novo surpreendida com uma festinha preparada pela gerência do hotel, com direito a bolo de anos com velas e tudo, mesa personalizada e decorada com flores e a colocação de uma coroa simbólica na cabeça e um colar de flores ao pescoço, no meio do "happy birthday to you" cantado por vozes, diria, de todo o mundo, dos hóspedes que jantavam na sala cheia....

Bem, pensei...vou ter que agradecer tudo isto no meu inglês muito, muito precário, infelizmente, e vou ter uma vez mais, eu sim, que parabenizar a VIDA, que tantas vezes tão mal trato, pelo facto de estar viva e ser tão abençoada com momentos tão surpreendentes como este, que nos fazem extravazar o coração, parecendo não caber mais dentro do peito...

Anamar

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