segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

"EM JEITO DE BALANÇO"

É 26 de Dezembro.
Ontem foi Natal; a família que somos hoje, esteve reunida, no rescaldo da consoada em que também procurámos manter a célula familiar que sobra actualmente...

Hoje estou só. Estou a tomar o pequeno almoço, são 3h da tarde e esta anarquia horária, agrada-me.
Telefonei para um amigo que também está só, para vir tomar um café comigo.
Procurei-o, porque sei que também hoje se sentirá só. Não o conheço profundamente, mas do que conheço, e da sensibilidade que lhe adivinho, sei que o dia de hoje, se calhar, tal como a mim própria, também o convidaria a uma cama persistente.
Ele tem, neste momento, a mais que eu, um filho pré-adolescente, fruto de uma relação muito penalisante e mal resolvida, ao que parece, por sua culpa. Não sei...

Eu, já só tenho filhas adultas,com famílias organizadas, e com entraves objectivos a sentir que a qualquer momento lhes possa devassar as próprias vidas.
A mais velha tem a sua casa, companheiro, três filhos e ritmos estabelecidos.
A mais nova, receio sempre perturbar-lhe o espaço, porque nunca sei onde, com quem, o que está a fazer. Se está no trabalho, se está a dormir, só ou acompanhada, se está a partilhar algum programa com alguém....evito impor-me.
Telefonou-me há pouco a perguntar-me se eu queria aparecer...já depois de eu ter convidado o meu amigo para o café. Terá de ficar para outra altura...

Estou no café dos "velhos". A D. Madalena, obviamente anda por aqui, sempre atontada e a rir, mas como figura carismática que é, é acarinhada por toda a gente e saltita de mesa em mesa, feita um pardalito, conversa aqui, conversa ali, conversa além...parece que afinal nunca é dispensável, e acho que não haverá quem não conheça "a Madalena"...

Acabei de ler um livro que nem os autores imaginam como o escreveram para mim.
Terminei-o agora e vou reiniciá-lo de seguida, para o reabsorver, linha a linha, interiorizando e meditando sobre o seu conteúdo.
É escrito em co-participação por Jorge Bucay, psiquiatra e psicoterapeuta, nascido em Buenos Aires, e Sílvia Salinas, licenciada em Psicologia pela Universidade de Buenos Aires. É uma conferencista especialista em psicoterapia de casais e Terapia Gestáltica, a nível internacional.

Cada frase é minha, cada parágrafo é meu, cada dúvida, angústia, pensamento, dirigidos a mim.
Impressionou-me, porque parece que estive a receber indirectamente mensagens, direccionadas ao meu intelecto, ao meu coração e inteligência, para que pensasse, as digerisse, com elas aprendesse a restruturar-me para poder seguir em frente, aprendesse a escolher um caminho correcto, nesta encruzilhada em que a minha vida parou há já longo tempo.

Se eu desse um nome ao livro, ou melhor, à principal mensagem que dele tirei, seria seguramente: "Aprender a amar-me", porque o verdadeiro amor, que busco desenfreada e desesperadamente em toda a gente e em todos os cantos, tem de ser buscado e encontrado dentro de mim mesma.
Ele independe de toda a fonte de amor exógena a mim. Se eu não puder encontrar em mim fontes e razões positivas de vida, jamais as encontrarei nos outros;
se eu persistir em vitimizar-me e culpar a Vida passada e presente pela falta de luz que sempre sinto, nunca verei o sol do dia de amanhã, nunca conseguirei valorizar os pingos de chuva no rosto, nunca saberei apreciar o belo que também tem um dia cinzento, o azul do céu e do mar, o vento a despentear-me os cabelos...
se eu persistir em procurar obstinadamente culpados para o mau da minha vida, começando por me culpabilizar pelo negativo ou pelo menos, menos positivo que me ocorreu, ficarei cega para o bom que ainda possa viver, para o belo que me rodeia, para as pequenas coisas que por vezes enchem a alma e o coração do ser humano...

Uma coisa terei que aprender: ser isenta no meu próprio julgamento pessoal, não sendo demasiado severa comigo mesma, tentando não desvalorizar o que também, de certo irei fazendo no dia a dia e com isso, recuperar a minha auto valorização e auto-estima, pensando e vivendo o hoje, sem que eternamente esteja retida lá atrás, num imobilismo destrutivo, que não aproveita a ninguém, e apenas barra a capacidade evolutiva e de crescimento de mim própria, por desacreditar que cada dia é um dia, e a "riqueza" vivida, é um tesouro inestimável e irrepetível...

Devo entender e aceitar, sem ressentimentos, situações vividas, sem levar a vida a tocar a mesma "tecla do piano", auto-destruindo-me; devo procurar tesouros que tenho em mim, e não permitir que o meu equilíbrio passe pela "resposta" dos outros.
O meu manancial emocional não pode ser desprezado, tenho que começar a sentir-me "gente", a direccionar valores que eventualmente possa explorar e me dêem gosto, sem que os mesmos dependam de terceiros, autonomizando-me assim, e consequentemente sofrendo menos com tantas coisas que não deviam magoar-me, que não têm lógica magoar-me, e ainda me surpreendem, magoando-me...

Devo aprender a pôr de lado uma ânsia de vingança em relação ao Mundo, que sinto em mim, acabando afinal, isso sim, por me vingar contra mim própria...
Flagro-me de facto a ser ácida, até com as pessoas próximas.
Ontem a minha filha dizia-me: "Não me respondas assim! Parece que estás sempre de mal contra o Mundo!...."
Penso que ela tinha razão. A sua frase bateu-me fundo.....;
apenas, ela não conhece outra, muito importante, cujo autor desconheço, mas que facto, explica muita coisa: "Ama-me quando menos mereço, porque é quando mais preciso!!...."

Bom, isto hoje foi quase um balanço de reflexão de fim de ano, até porque já estamos quase na fase de virar mais uma página...
Isto, foi um falar de mim para mim, foi uma tentativa de pôr mais uma pedra no lugar correcto, do puzzle que estou a começar a construir, e que será o meu novo "EU"....

Anamar

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