terça-feira, 28 de dezembro de 2010

"ROMAGEM A UM ESPAÇO QUE JÁ FOI MEU"

Dei por mim, a meia voz, a dizer: "Bem, vou lá abaixo tomar um café, senão fico maluca!"...e pensei...."Mau....já estou a falar sozinha....estamos mal!"....

O quarto já de luz eléctrica acesa, obviamente, o aquecimento ligado, obviamente, a Rita esticada ao calor, obviamente....e eu a achar isto tudo grande demais para mim...
A Rita acompanhou-me à porta, como quem diz: "E eu?"
E saí....

Dia estranho o de hoje.
Fui a casa da minha mãe, verificar o correio, mas como constatara que num lote anterior ao dela, não muito, andava o funcionário da EDP a fazer a contagem dos contadores, pensei: "Olha que sorte! Espero um pouco até ele cá chegar, e poupo o trabalho de ter que ser eu a enviar a contagem.

Até aqui tudo bem.
Como já aqui disse, creio, a minha mãe habita neste momento na margem sul, e a casa está desactivada, fechada, escura, quase lúgubre.
Bem ao meu jeito, de que haveria de me ter lembrado?
Primeiro andei, demoradamente, de divisão em divisão, de objecto em objecto, a re-olhá-los atentamente, e com o olhar, as histórias a eles associados reavivaram todas.
Peguei nas molduras, nas fotografias, a sépia ou preto e branco (a maior parte), e revi com igual emoção a "presença" de tantos que já nos deixaram.
Outras do casamento da minha filha em 99, querendo imaginar que talvez não houvesse muita diferença em mim de então para cá....outras das minhas filhas pequenas, mesmo bébés....outras minhas, de tranças e da primeira comunhão, do pai delas, de capa e batina, em Coimbra....enfim....

Seguidamente ocorreu-me, como conseguirei desfazer aquela casa?
E aí voltei ao périplo de divisão em divisão, e embora sabendo que não disponho de míseros dez centímetros quadrados na minha casa, e que as minhas filhas, com gostos completamente dispares não quererão nada dali...dava por mim a dizer para dentro: "Ai, isto não....isto nem pensar....isto, a minha mãe gosta tanto.....aquelas jarras, ainda que horrorosas eram a aflição do meu pai, quando as minhas filhas corriam em torno da mesa da sala de jantar...."
Bem, escuso de dizer que foi uma romagem indescritível!

E a empregada da EDP que não vinha...

Assim sendo, fui abrir uma gaveta que tem coisas relacionadas com a minha infância e adolescência.
Fotos de artistas de cinema (lá estavam uma Sylvie Vartan, um Johnnie Halliday, Françoise Hardy, Adamo, Gilbert Bécaud, Cliff Richard e tantos outros), lá estavam os meus primeiros postais de aniversário, lá estava correio (no tempo em que ainda se escreviam cartas à mão....lembram-se?), trocadas algumas, com pessoas que já nem sei quem eram, lá estava uma pregadeira que o meu namoradinho dos dezasseis anos me trouxe de Paris, com uma Torre Eiffel, e que teve que ser "abafada" da minha mãe, senão ia parar ao lixo....e tantos, tantos tesouros que não tive já tempo para ler...

Porque, a certa altura, pensei: "Basta! Ao Panteão Nacional é que se fazem as romagens de pompa e circunstância!" Não quero estar mais tempo lá atrás, não quero deixar-me agarrar por tudo isto, que parece estar a puxar-me pelo vestido!...."

A empregada da EDP não veio, mas quem veio finalmente embora fui eu....embora, claro, o sol se tivesse "apagado" para mim nesta terça feira...

Anamar

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