terça-feira, 14 de dezembro de 2010

"FUNDIÇA"



Entretanto os dois últimos posts ainda diziam respeito à minha viagem e ficaram fora de ordem cronológica, como talvez tenham percebido.
Verdadeiramente não há propriamente uma cronologia de nada, visto que, eu escrevo, como digo na apresentação deste meu espaço, com a aleatoriedade da aleatoriedade das emoções, que são sempre convulsas e desordenadas, como a minha mente.

Entretanto, estamos a entrar naquela quadra que eu se pudesse, fechava para balanço....Que vontade de novamente desertar para qualquer buraquinho desse Mundo desconhecido, nem que fosse para o iglo dum "sami"!!!!.....
A minha mãe no domingo (e sempre a lembrarei com carinho, até pelos ditados tão antigos e se calhar regionais que ela solta a vida toda), falando ao telefone comigo sobre o tempo atmosférico, de "morrinha", coberto, cinzento, desabrido...dizia-me, o que me fez andar na Net grande parte da tarde, a tentar em vão documentar-me : "Quando chove ao domingo em hora de missa, temos toda a semana de fundiça!!!!"

Bom, grosso modo, eu "apanho no ar" o que significa isto, mas esfalfei-me ingloriamente em tentar encontrar um significado, a etimologia correcta, da palavra "fundiça"...

Pois bem, conseguindo  entender, mas não definir correctamente o significado da bendita "fundiça"...tenho a certeza que de "fundiça" já eu ando, mal os assadores das castanhas lançam o seu cheirinho para o ar, mal as lojas estão abertas mesmo aos domingos e se decoram com luzes, velinhas, bolas, laços, estrelas e azevinhos, mal as ruas aparecem, não digo de arco e balão ( que isso é lá mais para os Santos Populares), mas de toda a parafernália de acessórios luminosos ao faz de conta "ai estamos tão bem....somos tão felizes!!!!"....

Começa a loucura generalizada, a correria colectiva, o desperdício ocidentalizado instituído a deitar as unhas de fora, e os papéis de embrulho a embrulharem cada vez mais vazio, solidão, mágoas, incertezas, quantas e quantas vezes encapotadas....mas sempre com lindos laços de fitas, pelo menos elas, douradas ou prateadas...

E é assim.
Nesta quadra do faz de conta, neste jantar/serão em que as pessoas se aturdem para não trazer para junto do perú as ofensas que por vezes sentem, as raivas que nem com as rabanadas descem, as saudades de tempos, épocas, pessoas que estarão em ceia também em qualquer outro patamar....lá para cima, lá para baixo, sei lá onde.....alguns já só numa memória sua a sépia....em que o descolorido começa a impor-se....Nesta quadra, eu juro que me queria meter com a Rita debaixo do édredon, e ficar de "fundiça" até lá para 4 ou 5 de Janeiro, em que a minha gaivota me fizesse "truz-truz" na vidraça, e dissesse: "podes deitar a cabeça de fora! Já passou!!!!"...

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Para mim o Natal também não tem sentido. Tenho lembranças boas do Natal em que era pequena, passado sempre em casa dos avós, à luz do candeeiro de petróleo (portanto sem iluminações nas ruas). Depois vieram os Natais tristes e agora já não sinto nem alegria nem tristeza. Sinto, isso sim, alegrias noutras quadras não marcadas no calendário.
Um beijinho
Malmeqquer

anamar disse...

Olá Malmequer
Para mim, cada vez é mais atípica e incomodativa esta quadra.
Como dizes, recordo os meus Natais de menina, que, esses sim, penso que com uns cigarrinhos ou um lápis de chocolate, eu já era feliz.
Hoje, mais e mais, o que me dá raiva é o "ar" que se respira....porque há um qualquer ar estranho nesta quadra, que mexe e remexe , à nossa revelia, o "panelão" das recordações.
Um grande beijinho para ti e um especial, na bochecha da Juliana
Anamar