sábado, 5 de janeiro de 2013

" A SOLIDÃO "



Ao longo da vida, o convívio, o cultivo de amizades, a cumplicidade entre os seres, é determinante no bem - estar e no equilíbrio das pessoas.
Por esse motivo, logo a partir da adolescência, fase em que a infância irreverente, já foi, e em que as primeiras questões de fundo, as primeiras preocupações a sério, as primeiras dúvidas se colocam na mente do indivíduo, este procura a miscigenação no grupo, a busca de vozes consonantes, sentires paralelos, linguagens idênticas, dificuldades próximas, dúvidas iguais.

Sabe-se que tudo isso é fundamental para um desenvolvimento sustentável, para o despertar da dialéctica, para a aprendizagem de diálogos construtivos, para o desfazer de angústias, para o nortear da personalidade.
A prática relacional entre as pessoas, desenvolve as mentes, abre os corações, habitua-nos ao confronto salutar de opiniões, alicerça-nos convicções, abre-nos horizontes, e claro, forja-nos afectos, muitos deles para o longo de toda a  vida.
É nessa época que o embrião da amizade e do amor, começa a dar os primeiros passos.
Os primeiros "confrontos" afectivos, são feitos da aprendizagem  no "terreno".
As primeiras apostas e as primeiras decepções, devem espaldar-nos para o que o futuro  nos reserva.
Percebe-se que discordar de opinião e posicionamento não significa una zanga, antes nos maleabiliza o "estar" ;   percebe-se que a perfeição não existe e que deveremos estar preparados para nos cruzarmos com pessoas tão incompletas quanto nós próprios, pessoas que não correspondem quantas vezes às expectativas que sobre elas criámos ... mas aprendemos a perceber isso mesmo, sem guardar mágoas nem rancores, a perdoar se for o caso, a compreender que os indivíduos não são iguais, e as condicionantes da vida, determinantes, quase sempre.
Até porque obviamente, também discordamos e magoamos muitas vezes, ainda que involuntariamente ...

E vamos caminhando, dando os passos do percurso, formando-nos enquanto homens e mulheres INTEIROS, face à Vida
Podemos desenhar utopicamente rumos, arquétipos do que sonharíamos, embriagamo-nos de emoções, na defesa de princípios, de valores, de causas.
"Verdes", muito "verdes" no conhecimento do que é a realidade, mas meritoriamente a lutar por ela, autenticamente, verdadeiramente, como a concebemos, como para nós, com esses olhos, ela não faria sentido ser de outra forma.
Somos os "guerreiros" dos vinte e dos trinta anos, somos os D. Quixotes dos grandes ideais, damos o sangue e a alma pelos princípios, pela dignidade, pelos direitos, pela igualdade social, pela justiça ... por na verdade, tudo o que faz / faria sentido e pareceria lógico.
O espírito ainda não se corrompeu, a alma ainda não se interrogou estupefacta, a esperança ainda não se pôs em causa ... o coração ainda não começou a esboroar-se.

E entre pares novamente, em círculos de amigos, em associações, grupos, tertúlias, ou apenas em reuniões familiares pelos serões dentro, continuamos a conviver, a cultivar amizades, a cumpliciar, a expor-nos, a falarmos e a ouvirmos, em suma, a dividirmos sempre as dúvidas, as angústias, as incertezas, as dificuldades, os desgostos, os becos "sem saída", os túneis sem luz.
E é de novo, no lastro do falarmo-nos, do tocarmo-nos, do sentirmo-nos, de nos transferirmos calor, afecto ou amor, que titubeantemente, quantas vezes, o Homem caminha, o Homem se vai aguentando no mar alteroso por onde navega, o Homem faz uma  tão dolorosa quanto difícil aprendizagem ...

O "cólo" continua a ser sustentáculo, o "ombro" imprescindível, a "palavra" indispensável, o "diálogo" fundamental e inalienável.
Sem tudo isto, o Homem fica "ilhado", e sendo o ser gregário que é, estiola e morre, física, intelectual e emocionalmente ...

Por isso, as solidões são uma das maiores injustiças a que o ser humano é relegado, pois ela representa o fechar do fornecimento do "oxigénio" da vida, que deverá existir até que ele parta.
Estar sozinho, física, social, familiar, intelectual ou emocionalmente, é um processo "contra natura", que gera desequilíbrio, doença, incapacidade, tristeza, dor ... que mata antecipadamente.

E no entanto a solidão, sobretudo nos grandes centros, nas metrópoles anónimas, nas "colmeias" humanas, que são os edifícios em que as pessoas nem se conhecem, vivendo no mesmo piso, grassa  assustadoramente !
A solidão, também fruto de uma desconfiança instalada devido à época, devido às dificuldades que se atravessam, devido ao aproveitamento e exploração maliciosos, por parte de muitos em relação aos incautos, a delapidação dos grupos de amizade, estruturados pelos anos, e desmembrados pelas vississitudes da vida, ou pela "deserção" forçada de alguns ... geram um mau-estar, um desconforto, uma "orfandade" e uma desaposta no tal convívio saudável e regenerador, e  um afastamento das pessoas, umas das outras, remetendo-as mais e mais, à sua célula de vida triste e forçadamente individualista, com as inerentes consequências !!!...

Anamar
  

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