Frente à televisão, vejo imagens da devastação provocada no fim de semana, pela tempestade de que ainda falei no último post.
Agora que talvez o pior tenha definitivamente passado, esperamos, contabilizam-se os prejuízos e a destruição.
Milagrosamente, creio, não se registaram vítimas humanas ; tão só danos materiais, e muitos !
Sintra, aqui bem pertinho de mim, uma zona que me é afectivamente ligada, uma jóia em termos arquitectónicos, em termos paisagísticos e ambientais, uma referência ou um cartão de visita de beleza, de paz e de romantismo, foi fortemente castigada pelo temporal.
Os ventos mais fortes, sentidos desde o ciclone de 1941, diz a comunicação social, não pouparam esse paraíso, que adormece no Atlântico, lá pela Roca ...
Cerca de cinco mil árvores centenárias, com histórias para contar, acabaram "morrendo de pé", no Monte da Lua !...
Litoral selvagem e autêntico, com nichos de beleza referenciável, como as Azenhas, a Praia Pequena, a Aguda, o Magoito ou a Ursa, ficaram com a face triste da destruição, provocada pela chuva copiosa, pelos ventos fortíssimos, e pelo mar alteroso, que com vagas de dez metros, tudo varreram, mutando o perfil já de si duro, agreste e altaneiro daquelas falésias, que sempre desafiam o oceano, com uma imponente agressividade ...
A Natureza de facto, quando eleva a voz e manda ... manda !...
Remete o Homem à sua pequenez, confina-o à sua impotência e à sua incapacidade.
É quando repensamos, às vezes, que desafiá-la como fazemos todos os dias, provocando-a, agredindo-a, destruindo-a ... é, não só um acto criminoso de dimensões que não consciencializamos frequentemente, uma insanidade sem tamanho, mas também uma irreflexão sobre a imprevisibilidade da agressividade da sua resposta !...
Também vi ontem este vídeo, que aqui posto a seguir, sobre as condições complicadas e angustiantes, sentidas na Portela, pelo tráfego aéreo, neste sábado de má memória.
E eu, que apesar de já ter viajado alguma coisa, de avião, tenho contudo virgem em mim, o medo, o respeito, o mau-estar do marinheiro de primeira viagem ... arrepiei-me e impressionei-me uma vez mais, por confrontar o poder incontrolável dos elementos, com o poder humano, de dimensões comparativamente insignificantes !...
Um avião, não é exactamente uma bicicleta, não é sequer um automóvel, não é um combóio ...
É aquela coisa gigantesca e impressionante, que vemos poisada nos aeroportos. E quando olhamos as turbinas, quando nos colocamos junto das aeronaves, não somos de facto, muito mais que "mosquitos", face àquele "passarinho" !...
Pois bem, como se vê no vídeo, esses monstros dos céus, no meio da ventania que soprava, pareciam meras folhas largadas ao vento.
Eles balançam, eles bailam no temporal, eles falham a pista, e por razões de segurança abortam as aterragens ... Bom, um circo de horrores !
Admiro igualmente a perícia, a sabedoria, a prudência, o arrojo e o sangue frio necessários aos timoneiros nos comandos, para resolução de uma situação como aquela.
Sendo que obviamente seja espectável que assim funcionem profissionalmente ( porque para todas as condições são preparados ), voar de avião é só por si um desafio arrogante, que com o avanço da ciência e das tecnologias, o Homem se permite fazer à Natureza, em última análise.
Porque se voasse ... ele seria certamente provido de asas !!!...
Imaginei-me dentro desses "brinquedinhos dos céus", e imaginei-me com o medo que me toma habitualmente conta, a enfrentar esses momentos adversos.
Imaginei o sentimento de vulnerabilidade incontrolável, de impotência total, de pequenez e de ânsia de fugir dali, a qualquer preço ... de pânico, em suma, que experienciaria !
Já me teria agarrado com todas as forças, desesperada e ironicamente, aos braços do assento, provavelmente já teria chorado descontrolada, em silêncio, por forma que ninguém desse por isso, já teria passado uma vista de olhos pela vida, e aceitado como inevitável, o seu fim, que na minha cabeça, iria ser seguramente ali ... rsrsrs
Enfim ... tudo isto são "flashes" do rescaldo do famigerado dia 19 de Janeiro, que ficará na memória de muitos de nós, tenho a certeza !!!...
Anamar
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